Os investimentos na indústria de papel e celulose nos últimos anos vêm refletindo positivamente no mercado ferroviário. Só este ano, dois grandes contratos foram anunciados pelas concessionárias com empresas que enxergam na ferrovia a opção logística ideal para manter a competitividade na exportação do produto.
O aumento do transporte de celulose por ferrovia é medido pelos dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT): em todo o país houve um crescimento de cerca de 39% de celulose movimentada pelo modal nos últimos cinco anos, passando de 5,8 milhões de toneladas úteis por ano, em 2016, para 8 milhões, no ano passado.
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Até o final do primeiro semestre de 2022, a FCA espera iniciar em sua malha o transporte do produto através de uma parceria firmada com a LD Celulose, uma joint venture entre o grupo austríaco Lenzing e a Duratex. O contrato de 30 anos prevê a movimentação de cerca de 500 mil toneladas por ano de celulose solúvel de Indianópolis, no Triângulo Mineiro, até o Porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo, administrado pela Portocel.
O número representará um aumento de aproximadamente 18% no transporte de celulose pela VLI, que anualmente carrega entre 2,5 e 2,7 milhões de toneladas do produto. Os fluxos de celulose atuais da operadora, atendendo a outros clientes, são realizados entre Imperatriz (MA) e São Luís (MA), na malha da Ferrovia Norte-Sul, e entre Belo Oriente (MG) e Aracruz (ES), pela EFVM (por direito de passagem concedido à FCA).
Será a primeira vez também que a VLI transportará celulose do tipo solúvel, que será produzida na fábrica em construção pela LD Celulose no Triângulo Mineiro, entre os municípios de Indianópolis e Araguari. Segundo a LD Celulose, a versão solúvel possui maior grau de pureza em relação à celulose tradicional, originando diferentes tipos de fibras. “Ela necessita de muita proteção ao longo da viagem para evitar contaminação ou danos ao produto e o transporte ferroviário nos permite isso”, declarou a empresa, ao comentar a escolha do modal.
Outro fator que contribuiu para a parceria foi a própria localização da fábrica, cujo terreno faz fronteira com a linha da FCA, em Indianópolis. Segundo a VLI, o projeto prevê a implementação, pela operadora, de dois pátios ferroviários no Espírito Santo para otimizar a logística do corredor a partir da movimentação desta carga. Também está prevista a construção, pela LD Celulose, de uma pera ferroviária para viabilizar a conexão do interior da fábrica com o trecho da FCA próximo a ela.
Após ser captada, a carga será transportada pela FCA até a região metropolitana de Belo Horizonte, onde vai adentrar a EFVM, pela qual, por sua vez, será feita a descarga no complexo portuário operado pela Portocel. “Ou seja, a operação é de fato porta a porta”, destaca a VLI.
O fluxo logístico de 1,4 km será atendido por um material rodante exclusivo para a operação: três locomotivas e 68 vagões do tipo FLF. A VLI será responsável por adquirir as máquinas e vagões, cujos fabricantes, segundo a empresa, não foram ainda definidos. Atualmente, as cargas que a operadora transporta até o Porto de Barra do Riacho são celulose de eucalipto e insumos siderúrgicos.
Ao chegar ao porto, a carga da LD Celulose, que será adquirida pela Lenzing, será exportada majoritariamente para China, Indonésia e Tailândia. Outra parte terá como destino a América do Norte e a Europa. Uma vez chegando às unidades da Lenzing, a matéria-prima será utilizada na fabricação de fibras que darão origem a, por exemplo, roupas, fraldas, máscaras faciais etc.
O caráter mais sustentável da operação também é destacado pela VLI e pela LD Celulose. Segundo as empresas, cada um dos trens poderá transportar cerca de 4,5 mil toneladas de celulose solúvel, volume equivalente ao movimentado por cerca de cem caminhões.
MRS e Bracell
Outro acordo firmado esse ano (em março) foi entre a Bracell Celulose e a MRS, pelo qual está previsto, no segundo semestre, o transporte de celulose, tanto na versão solúvel quanto kraft (principal forma de produção pela indústria), entre o Terminal Intermodal de Pederneiras (em construção pela MRS), no estado de São Paulo, e o Porto de Santos.
A parceria foi firmada para dar vazão à produção da nova fábrica da Bracell em construção na cidade de Lençóis Paulista, de onde a celulose seguirá por caminhões até Pederneiras e, em seguida, pela ferrovia, num percurso de 510 km até o Porto de Santos.
Chamada de Projeto Star, a nova fábrica deve ser concluída até agosto. A Bracell e a MRS não revelam o volume de celulose que será transportado pelos trens, mas a empresa afirma que a capacidade de produção anual será de até 1,5 milhão de toneladas de celulose solúvel e de até 3 milhões de toneladas da kraft. A versão solúvel será totalmente exportada para as fábricas de fibra de viscose que o Grupo RGE, ao qual a Bracell pertence, tem na China e na Indonésia. Já a kraft será fornecida prioritariamente para as fábricas de papel e cartão na China, com algum excedente disponibilizado para o mercado interno.
Já a MRS destaca que, com o início das operações no Terminal Intermodal de Pederneiras, a expectativa é de que a celulose se torne um dos itens mais relevantes no seu grupo de agrícolas. A parceria demandará a compra de 463 vagões, produzidos pela Greenbrier Maxion, dos quais cem já foram entregues e prontos para o transporte da carga. Já o número de locomotivas a serem adquiridas a concessionária não revela por questões de compliance.
O terminal da Bracell em Pederneiras terá um armazém de cerca de 7 mil metros quadrados, com acesso rodoviário e três ramais ferroviários internos, para a manobra dos trens. Quando estiver em funcionamento, o terminal contará com 181 funcionários, entre motoristas e profissionais de operação.
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