Mobilidade – Estadão – A opção por materiais amigáveis ao meio ambiente, a adoção de iniciativas que melhoram a qualidade de vida e a condução dos negócios alinhados com a proteção à natureza são agendas essenciais no mercado ferroviário. A preocupação com a sustentabilidade tem evoluído nessa direção em três frentes interconectadas: uso de materiais mais ecológicos; eficiência energética; e sistemas que controlam e integram o transporte de forma mais harmônica.
A opção por insumos mais ecológicos não estava em pauta quando o primeiro metrô do Brasil começou a operar, há quase 50 anos, na capital paulista. Hoje, o design de trens leva necessariamente em consideração o uso de materiais mais nobres e que requerem menos recursos naturais, redução de emissões e economia de energia. Os trens mais novos, apesar de ainda serem fabricados com muito metal, já usam compostos mais ecológicos, como fibra de carbono, plásticos especiais e outros itens recicláveis, especialmente para peças como bancos, painéis, entre outros.
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Os motores elétricos mais eficientes são outra onda de desenvolvimento no transporte sobre trilhos. Com o desafio de promover a logística de um número maior de pessoas utilizando a mesma quantidade de megawatts, as inovações nesse mercado têm buscado menor consumo, menos necessidade de aceleração, subestações de abastecimento mais modernas ou até mesmo soluções que permitem reaproveitar a energia gerada pela frenagem das rodas, utilizando-a para tracionar outras composições.
Em setembro de 2020, o Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa do Metrô de São Paulo mostrou que a operação da companhia evita a emissão de 842 mil toneladas de CO2 por ano, em média. O consumo relativo de energia caiu de 3,41 kWh por carro/km, em 2015, para 2,86 kWh por carro/km, em 2019 – redução alcançada pela troca de sistemas de controle de trens da Linha 2-Verde e sistemas de reaproveitamento da energia gerada pela frenagem dos trens de todas as linhas.
Há ainda os combustíveis alternativos. Na Europa, já circulam trens equipados com células de combustível que transformam oxigênio e hidrogênio em eletricidade para tracioná-los e gerar energia para diferentes equipamentos (ar-condicionado, portas, sistemas etc.). A indústria ferroviária não pode ignorar a necessidade em alcançar a neutralidade de carbono e o hidrogênio tem demonstrado ser o combustível dessa “revolução industrial verde”. Nesse processo, as pesquisas e o desenvolvimento evoluem em ritmo acelerado, enquanto os custos dessa nova tecnologia se tornam viáveis para dar maior escala à operação com esses trens mais sustentáveis.
Outra transformação são os sistemas de controle que conectam gestão, tecnologia de dados e softwares para melhorar as cidades. Além de harmonizar o fluxo de trens, essas inovações podem tornar possível, inclusive, orquestrar o sistema de transportes em uma dinâmica integrada para resolução de problemas, deslocando ônibus, táxis e carros de aplicativo para regiões com eventuais paralizações no sistema de trens/metrô, por exemplo.
Isso já é uma realidade: há soluções adotadas em algumas cidades que permitem a supervisão multimodal da mobilidade. Ao combinar big data e machine learning, a inteligência artificial é utilizada para fornecer às operadoras e autoridades ferramentas de gestão de fluxo para otimizar a oferta de transporte. Ao antecipar e controlar a densidade de passageiros, adaptam-se frequência, capacidade e número de trens necessários, fluxo em estações, entre outras coisas.
O futuro do transporte sobre trilhos depende de soluções ecologicamente amigáveis, a serem tecidas de forma integrada para que seja possível a prosperidade dos negócios, das pessoas e do planeta.
Pierre-Emmanuel Bercaire
Diretor-geral da Alstom Brasil
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