Com queda de isolamento social e problemas no transporte público, tráfego da cidade se aproxima do patamar pré-pandemia

Trânsito intenso na Avenida Brasil, altura de Irajá, sentido Centro em 8 de julho Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Trânsito intenso na Avenida Brasil, altura de Irajá, sentido Centro em 8 de julho Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

O Globo – Basta dar uma volta pela cidade para perceber que o trânsito parece ter deixado o isolamento social para trás. Nas últimas semanas, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) registrou engarrafamentos num patamar bem próximo aos dos observados no período pré-pandemia. E, após as férias escolares, a expectativa das autoridades é que os motoristas voltem a enfrentar aquele rush para lá de confuso.

Para especialistas e motoristas, ainda que as atividades econômicas não tenham voltado presencialmente a pleno vapor, a crise do transporte público e a preferência que muitas pessoas vêm dando a carros particulares, por causa da transmissão da Covid-19, ajudam a explicar esse cenário. Na Linha Amarela, por exemplo, a circulação de veículos está hoje maior que a observada de janeiro a meados de março de 2020, quando entrou em vigor o decreto de restrição em função da pandemia. Naquele período do ano passado, a via recebeu, em média, 135 mil veículos por dia. Com o avanço do coronavírus, a quantidade caiu 46% de março a julho, chegando a 73 mil. Recentemente, passou dos 136 mil por dia.

Na Avenida Primeiro de Março, na Transolímpica, na Linha Vermelha, na Avenida Brasil e na Avenida das Américas, a CET-Rio também identificou aumento recente de circulação, num estágio próximo ao da pré-pandemia. O taxista Alan Ramos vem notando a presença acentuada de carros particulares nas ruas. Segundo ele, nos últimos três meses, os engarrafamentos vêm voltando à realidade do carioca.

— Agora, realmente voltou ao que era normal. Ano passado, as pistas eram livres, parecia que todo dia era domingo. Rodo diariamente, e venho percebendo trânsito intenso, por exemplo, na Avenida Brasil, na Rio Branco e na Nossa Senhora de Copacabana — contou Ramos, que é diretor do Sindicato de Taxistas. — O pessoal tem usado bastante os próprios carros, ou até privilegiando corrida por aplicativo.

Diretor do Sindicato dos Rodoviários, José Carlos Sacramento dá um exemplo de como o deslocamento vem funcionando entre Campo Grande e Itaguaí, uma rota importante. Segundo ele, em vez de gastarem mais de R$ 8 com a tarifa de ônibus, passageiros têm optado por dividir um Uber. A despesa fica em torno de R$ 7 para cada um. A iniciativa acaba levando mais carros para as ruas.

Recentemente, como o tráfego aumentou, a CET-Rio determinou o retorno das faixas reversíveis na Avenida Niemeyer, na Reserva e no Jardim Botânico. Já no Maracanã e nas praias de Copacabana, Ipanema e Leblon, ainda não houve demanda suficiente para a mudança, explica Joaquim Dinis, presidente da companhia. Segundo ele, na Zona Sul e no Centro, por causa da predominância do home office, o tráfego ainda não voltou ao volume do início do ano passado, o que já ocorreu, por outro lado, nas outras regiões da cidade.

— Acreditamos que a precaução em relação ao vírus esteja, sim, influenciando na preferência das pessoas pelo carro particular, o que impacta no trânsito. E a volta das aulas presenciais também faz muita diferença. O retorno de mais escolas em breve impactará ainda mais. Historicamente, durante férias escolares, há queda de 30% no trânsito.

Presidente da Associação de Moradores do Recreio, Simone Kopezynski se acostumou, ao longo da vida, com o trânsito intenso na Avenida das Américas. Com a pandemia, houve um hiato no “normal da região”, mas agora o tráfego voltou a incomodar.

— Na Avenida Genaro de Carvalho, há muitas escolas. Por isso, o trânsito é intenso ali. Sem falar nas avenidas das Américas e Lúcio Costa — diz Kopezynski.

Alta velocidade
Se as pistas livres eram um alívio em termos de trânsito, por outro lado favoreciam o comportamento imprudente de motoristas. Presidente da ONG Trânsito Amigo, Fernando Diniz diz ter percebido aumento na velocidade dos veículos. Ele destacou ainda o crescimento dos acidentes de trânsito envolvendo motoboys.

O professor Marcus Quintella, diretor da FGV Transporte, destaca que a crise no setor de transporte público e a preferência que a população vem dando ao uso de carros particulares como pontos principais para um problema que promete se agravar:

— Estamos vendo um aperitivo. Só o retorno de parte das atividades econômicas já está causando problemas de trânsito. Vão ressurgir as velhas dificuldades, de falta de ordenamento do tráfego. E o transporte público, que já estava em crise, não dá mais oferta para a população.

Fonte: https://oglobo.globo.com/rio/com-queda-de-isolamento-social-problemas-no-transporte-publico-trafego-da-cidade-se-aproxima-do-patamar-pre-pandemia-25099265

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