Governo e prefeitura de Curitiba discutem retirada do trem da área urbana da capital

Trem em trecho urbano em Curitiba (Foto: Arquivo Bem Paraná/Franklin de Freitas)
Trem em trecho urbano em Curitiba (Foto: Arquivo Bem Paraná/Franklin de Freitas)

Bem Paraná – Há anos, a construção de um contorno ferroviário na Região Metropolitana de Curitiba alimenta a esperança de quem mora ou circula perto da linha do trem. Nesta sexta-feira (16), uma reunião entre o Grupo de Trabalho do Plano Estadual Ferroviário, a Coordenação da Região Metropolitana (Comec) e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) retomou essa antiga discussão.

As linhas férreas são uma concessão do governo federal. A Região Metropolitana de Curitiba faz parte da Malha Sul e quem explora é a Rumo Logística. A empresa está em negociação com o Ministério da Infraestrutura para renovação antecipada do direito obtido até 2027.

Por isso, o Estado, por meio do Grupo de Trabalho do Plano Estadual Ferroviário e a Comec, e a prefeitura de Curitiba voltaram a discutir o assunto e estão atentos à negociação. O coordenador do Plano Estadual Ferroviário, Luiz Henrique Fagundes destaca que a ferrovia induz o desenvolvimento das regiões por onde passa. “Em Curitiba, o que houve no passado foi um crescimento desordenado em torno da ferrovia. E esse convívio, esse conflito tem que ser resolvido”, disse ele.

“A gente entende a necessidade do deslocamento desses vagões para o Porto de Paranaguá, mas existe há muito tempo essa necessidade de pensar um novo ramal, um novo traçado para melhorar a segurança das pessoas”, completa Gilson Santos, presidente da Comec.

Na reunião foram avaliados o traçado da malha ferroviária existente e do projeto da Nova Ferroeste, ainda em fase de estudos, que vai ligar Maracaju (MS) a Paranaguá. Para Clever Almeida, do IPPUC os novos trilhos surgem como uma opção para a retirada de carga da área urbana da capital.

“É uma alternativa mais moderna, inclusive, porque apresenta soluções melhores para as concessionárias, por isso acreditamos que esse projeto vai contribuir muito, sem dúvida nenhuma”, avalia.

“No passado já elaboramos o projeto de um contorno ferroviário. Na época tivemos dificuldade em obter a licença ambiental para esse traçado, chegamos a estudar outras alternativas, mas não conseguimos avançar junto ao governo federal”, explicou.

RELAÇÃO – A capital encabeça uma triste lista do Programa de Segurança Ferroviária em Áreas Urbanas, o Prosefer, ligado ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Esses dados foram levantados entre 2008 e 2011 e mostram uma fotografia das adversidades que envolvem a relação das ferrovias com o adensamento das cidades por onde passam. O estudo avaliou 5.609 cruzamentos ao longo de 15 mil quilômetros de trilhos que percorrem 596 municípios, em 16 estados. Curitiba foi a cidade com a pior avaliação, seguida de Paranaguá.

ACIDENTES – Em 2020, o Corpo de Bombeiros registrou 17 ocorrências na capital. Este ano entre janeiro e junho já aconteceram 14 acidentes. O mais recente, no dia 23 de junho, provocou a morte de uma pessoa. Um homem de 50 anos ficou preso nas ferragens do veículo que dirigia e foi arrastado por alguns metros até a locomotiva parar completamente. Ele morreu logo após a chegada do socorro médico.

Em Curitiba há 37 quilômetros de trilhos que cortam os bairros das regiões Sul e Leste. Ao todo são 45 passagens de nível instaladas para a circulação de pedestres e veículos, a maioria no Uberaba e no Cajuru.

“Existe um trânsito razoável de trens pela cidade, por regiões bem populosas, que acabam ocasionando diversos transtornos, e infelizmente muitos acidentes e mortes”, diz Cleverson.

DOCUMENTO – Um novo encontro será agendado para discutir os pontos contidos num documento coletivo que será protocolado junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres ( ANTT). “Esse documento vai unir forças nessa demanda comum para que a região metropolitana saia ganhando”, explica Gilson Santos, da Comec. “A ideia é que a gente leve primeiro esse documento à ANTT e, depois, se necessário ao Ministério da Infraestrutura. Queremos chegar a um bom termo e conseguir uma solução definitiva para esse problema grave nos cruzamentos ferroviários”, avalia Clever.

NOVA FERROESTE – O projeto da Nova Ferroeste, do Governo do Paraná, poderia se uma solução parcial para esse conflito. O traçado da ferrovia contorna a capital, permitindo a migração de parte da carga para os novos trilhos.

Os trilhos que correm por Curitiba e descem pela Serra do Mar foram projetados e construídos há 137 anos, durante o período imperial. A obra foi projetada pelos irmãos André, Antônio e José Rebouças, os primeiros engenheiros negros do país. Na época, eles fizeram valer a exigência de que não houvesse mão de obra escrava no canteiro de obras.

Depois de cinco anos a ferrovia foi inaugurada por Dom Pedro II e até hoje é considerada marco da engenharia nacional pela dificuldade de transpor a topografia acidentada da Serra do Mar. Sua execução foi determinante para o desenvolvimento do Paraná. As mercadorias (principalmente erva-mate) deixariam de transitar as cargas no lombo de mulas para ganhar agilidade com os trilhos que seguiam velozes até o novo Porto de Paranaguá.

Fonte: https://www.bemparana.com.br/noticia/governo-e-prefeitura-de-curitiba-discutem-retirada-do-trem-da-area-urbana-da-capital#.YPWvtuhKjIW

2 Comentários

  1. Muita broma e pouca efetividade. Contorno Ferroviário de Curitiba teve projeto em 1981, 2002 é um EVTEA em 2017 . Estudos e projetos EVTEA’s para corredores de exportação-oeste já foram 3, mais esse EVTEA-J, ora em andamento. Está na época de renovação da concessão da Malha Sul. A ANTT tem que fixar padrões mínimos de operação e metas para sãs travessias urbanas.
    Tem que acabar com o paternalismo e a politicagem e esses idílicos discursos eleitoreiros.

  2. Como sempre o trem que chegou primeiro, é o primeiro a sair, pois “incomoda” os interesses de muitos. Por isso vivemos nesse atraso.

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