ROBERTA ALVES DE CASTRO
Chefe de Governança e Controle Interno do Metrô-DF
Como o tripé das melhores práticas ambientais, sociais e de governança, conhecido pela sigla em inglês ESG (Environmental, Social and Governance), pode ser um elemento de grande sucesso aos empreendimentos ferroviários?
Com o conceito ESG, as grandes corporações passaram por um processo de grande evolução para se adaptarem às exigências de um novo mercado de capitais, no qual as análises de investimentos não se baseiam apenas em demonstrativos e aspectos financeiros das empresas. Com as discussões climáticas e sociais pelo mundo, as companhias, para se manterem concorrentes e com credibilidade mercadológica, passaram a considerar, de maneira incisiva, métricas de avaliação de desempenho e produtividade voltados a ações de impacto ambiental e social dentro do arcabouço da governança.
Essa preocupação sobre a estruturação organizacional e orgânica empresarial, que visa ao lucro associado ao ESG, é motivo de grande relevância aos empreendimentos ferroviários por diversos motivos. A ferrovia, quando construída e em operação, é responsável muitas vezes pela regionalização de determinada cidade antes à margem da digna civilização, bem como pelo fomento à atividade econômica do país.
Contudo, em que pese os benefícios sociais e econômicos, o processo de construção desses empreendimentos ferroviários é um tanto complexo, mesmo diante da viabilidade técnica e ambiental, as construtoras e os agentes públicos observam e monitoram a estrutura de gerenciamento de riscos e implementação de controles, principalmente ambientais. Isso acontece a partir, inclusive, de certificações sobre iniciativas sustentáveis da Climate Bonds Initiative (CBI) e os índices de sustentabilidade da Bolsa de Valores (B3).
Os benefícios e o protagonismo que o modal ferroviário pode assumir frente ao desenvolvimento do país são inquestionáveis, um país sem ferrovias operantes é obsoleto de infraestrutura para atender o comércio exterior e fortalecer sua economia. Por tal razão, pela potência do setor e empresas ferroviárias no Brasil, a discussão sobre o ESG é tão importante. Isso porque, ao mesmo tempo em que se discute investimentos financeiros de grande vulto, não há como desconsiderar a relevância da gestão sustentável dos recursos naturais uma vez que implica consequência direta na renovação da própria cadeia econômica de empreendimentos ferroviários.
Logo, os desafios do setor ferroviário no âmbito do ESG se dão em face da árdua tarefa de se implementar, de forma sistêmica e estratégica, um sistema de avaliação de desempenho por meio de índices e indicadores estratégicos para monitoramento pelo governo da gestão sustentável das empresas e concessionárias ferroviárias. O propósito disso é conscientizar, por meio de dados estatísticos, os grandes players do mercado ferroviário de que a lucratividade é impor tante, mas o negócio ferroviário depende de ações que impactem em sua perenidade com a preservação socioambiental de longo prazo.
Assim, o gerenciamento com métricas factíveis de governança, além de direcionar e concretizar o objetivo do ESG no setor ferroviário dentro da relação público- privada, minimizando-se as assimetrias de informações, impulsionará o desenvolvimento do país. Isso porque, a atuação estratégica no monitoramento das atividades de grandes obras ferroviárias sobre ESG implicará necessariamente resultado na forma de execução eficiente por grandes empresas e concessionárias ferroviárias que contemplarão desde o planejamento do empreendimento, ações concretas voltadas à recomposição florestal, segurança viária, inovações sociais, conformidade regulatória, conflitos urbanos, redução da emissão de gases poluentes, rastreabilidade de fornecedores, dentre outras.
Portanto, o ESG está longe de ser um método burocrático ou de empecilho ao desenvolvimento econômico do país ou mais uma regra para as companhias se adaptarem. A visão estratégica é exatamente o contrário, pois quando se estabelecem boas práticas de governança empresarial, o resultado de longo prazo se reverte à própria empresa, em razão de transparecer uma imagem íntegra e estruturada para lidar com crises e credibilidade negocial, e à sociedade, com mercado aquecido e empreendimentos de maior produtividade, desempenho e segurança aos investidores.
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