A Estrada de Ferro Carajás (EFC) deverá receber até o final desse ano uma locomotiva de manobra 100% movida a bateria. A máquina da fabricante chinesa CRRC é a segunda desse tipo adquirida pela Vale para suas ferrovias – a primeira foi do modelo EMD® Joule, da Progress Rail, 100% elétrica, que está sendo testada há seis meses na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), na unidade de Tubarão, no Espírito Santo.
Segundo Luiz Eduardo Osorio, vice-presidente executivo de Relações Institucionais e Comunicação da Vale, a locomotiva passará por testes, durante alguns meses, no Porto de Ponta da Madeira, em São Luís (MA).
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Não há, por enquanto, expectativa de aquisição de uma terceira locomotiva ainda este ano, segundo a companhia. Daniella Barros, gerente-executiva de Regulatório da Vale, explica que, durante esses períodos de testes na Carajás e na Vitória a Minas, a equipe de engenharia está analisando a efetividade do modelo. “Quando ela for certificada, aí, sim, a gente partiria para um plano maior, de renovação da frota. Isso vai acontecer ao longo do tempo”, destaca.
As duas aquisições fazem parte do programa Power Shift, criado no ano passado pela Vale para impulsionar o uso de fontes limpas de energia em todos os braços de negócios da empresa. Juntas, a EFC e a EFVM respondem pela emissão de 1,2 milhão de toneladas de CO2, o equivalente a cerca de 10% da emissão anual direta de gases de efeito estufa da companhia. “Queremos nos tornar uma empresa carbono-neutro até 2050. Então, diante dessa meta, olhamos todos os projetos que temos na companhia, desde eletrificação de todas as nossas ferrovias até outros que temos para a redução de gases efeito-estufa (GEE) na atmosfera”, detalha Osorio.
Esta semana, aliás, foi divulgado o resultado das performances ambientais das duas ferrovias da Vale, que foram as mais bem avaliadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) pelo segundo ano consecutivo. A avaliação se refere ao Índice de Desempenho Ambiental (IDA), que varia de 0 a 1 e é calculado a partir de diversas variantes, como correta destinação de resíduos, controle de emissões de GEE, eficiência energética etc. A EFC recebeu a pontuação 0,83, seguida da EFVM, que ficou com 0,81.
Investimento em material rodante
Assinada em dezembro de 2020, a renovação antecipada das concessões da EFVM e da EFC, prevê R$ 3 bilhões para a compra de material rodante pelas duas ferrovias. Pelos cadernos de engenharia elaborados pela ANTT e aprovados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ficou definido que, ao longo dos próximos 30 anos, a Vale deverá adquirir, somando as duas ferrovias, 367 locomotivas, 1.353 vagões e 67 carros de passageiros (para os trajetos de passageiros da EFVM e da EFC).
O processo de compra do material rodante, no entanto, ainda não engrenou, o que vem causando certa frustração na indústria. Em junho, durante um encontro virtual para apresentação de balanço das encomendas do setor, Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), afirmou que as expectativas de produção têm sido revistas.
“As renovações das concessões têm dado certo? Sim. Mas nós esperávamos que a Vale, por exemplo, que já teve a renovação aprovada, tivesse um programa muito forte de troca de caixas de vagões, gôndolas de minérios, tanto para a Carajás quanto para a Vitória a Minas”, disse Abate, na ocasião.
Segundo a Vale, os processos de compra foram impactados pela pandemia do coronavírus. Mas as negociações com fornecedores nacionais e estrangeiros estão a todo vapor, garante Daniella Barros. “Nós já vamos fazer o primeiro down payment (pagamento inicial) no final do ano”, destaca, sem revelar para qual fabricante, por razões estratégicas de mercado.
Os detalhes sobre as previsões desses e de outros investimentos da Vale para a Vitória a Minas e a Carajás, além do andamento das ações relacionadas à outorga cruzada para a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) e para o trecho 2 da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), serão tema de uma das reportagens da próxima edição da RF.
Para chegar a 100% carbono neutro, o melhor seria életrificar toda as linhas tronco da EFVM e EFC. Imagine o potencial de energia récupérada de um trem caregado descendo até os portos com o freio elétrico a récupéração de as locomotivas. Mais de a metada de energia consumida poderia ser devolvida.
E quando se vê o perfil da EFVM, seria ainda mais.