Valor Econômico – Uma carteira de R$ 260 bilhões em investimentos na área de transportes e logística será apresentada nesta semana a investidores de private equity e fundos financeiros em Nova York, num roadshow do Ministério da Infraestrutura.
“Estamos chegando não com uma promessa de um grande programa de concessões, mas com um portfólio consolidado de leilões já feitos”, afirmou ao Valor o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. “Enquanto países emergentes como Índia, México e Peru interromperam seus projetos durante a pandemia, nós decidimos manter o cronograma, fazer os ajustes necessários e pisar no acelerador.” O resultado é que o Brasil virou vendedor exclusivo de aeroportos no mundo. “Hoje, quem quer investir em infraestrutura no mundo está tendo que olhar para o Brasil”, afirmou.
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O país tem hoje a maior carteira de concessão em infraestrutura do mundo, afirmou o head de Infraestrutura da Integral Investimentos, Igino Zucchi. “Não tem país no mundo que tenha metade do que temos aqui.” O roadshow em Nova York dará visibilidade internacional aos projetos, avaliou.
Nos últimos dois anos, foram leiloados 74 ativos em transportes e logística, disse a secretária de Fomento, Planejamento e Parcerias, Natália Marcassa de Souza. “Mas itens importantes da carteira vão entrar agora”, comentou. Até 2022, irão a mercado: o maior porto da América Latina, o de Santos (SP); os aeroportos que integram a quarta rota aérea mais movimentada do mundo, Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ); e dois terminais de combustíveis no porto de Santos, STS 08 e STS 08A, que formam a maior oferta do tipo nos últimos 20 anos.
A mesma carteira será apresentada em novembro na Europa, para outro tipo de investidor: os operadores. No mesmo mês, os investimentos serão oferecidos a fundos soberanos que participarão do dia do Brasil na Expo Dubai.
Os roadshows ocorrerão em paralelo a um conjunto de leilões de peso, chamado informalmente no ministério de “Infra Month”. No próximo dia 29, será oferecida ao mercado a concessão da Nova Dutra. No dia 5 de novembro, sete arrendamentos em diversos portos do país. No dia 19, os dois terminais de combustíveis em Santos e no dia 25 de novembro, trechos das BR 381 e 262 em Minas Gerais e no Espírito Santo.
O tamanho da carteira é um trunfo na conversa com investidores, avalia Natália. “Eles não vêm para o país por causa de um ativo, e sim para um portfólio”, disse, citando que o fundo australiano Macquarie montou recentemente um escritório no país. Outro atrativo a oferecer é a rentabilidade. Os aeroportos concedidos no Brasil dão retorno real de 8% ao ano, disse a secretária. O tipo de investimento mais arriscado, o de ferrovias, oferece 11% ao ano.
Na mão contrária, o problema mais citado pelos investidores estrangeiros é o ambiental. “Estamos com o filme totalmente queimado na área ambiental e isso incomoda os investidores”, afirmou o sócio da consultoria Inter.B Cláudio Frischtak.
Para ele, a forma de reverter um quadro de “credibilidade zero” do Brasil na área ambiental é mostrar resultados concretos no controle do desmatamento da Amazônia. É especificamente aí que se concentram as atenções dos investidores.
A resposta do governo é que todos os projetos da carteira de logística e transportes seguem patrões internacionais de cuidado ambiental. A maior parte dos projetos segue os Princípios do Equador, um conjunto de critérios socioambientais, disse Natália. Na Dutra, o projeto é neutro do ponto de vista de emissão de carbono. A carteira de ferrovias é certificada no Climate Bond Iniciative, de forma que pode ser financiada com a emissão de bônus verdes.
Frischtak, que é interlocutor frequente de potenciais investidores internacionais, avalia que há “camadas” de resistência ao Brasil. A primeira é composta pela questão ambiental e também por um “dragão que surgiu das águas” no último ano, que é o risco institucional. São fontes de instabilidade alimentadas pelo próprio Palácio do Planalto e que, entre outras coisas, impactam no câmbio. O dólar caro faz com que bons retornos em real proporcionados pelos investimentos em infraestrutura se convertam em ganhos “medíocres, quando não negativos”.
As incertezas no campo macroeconômico formam a segunda camada de resistência dos investidores ao Brasil, avalia Frischtak. Ele cita como exemplo a reforma tributária. “Não se sabe para onde vai”, disse. O desenho final terá implicações diretas nas contas que os investidores farão.
Dessa forma, avalia, há os que preferem esperar um quadro mais claro antes de decidir sobre investimentos no Brasil. Isso joga contra um conjunto de fundamentos que, em outro contexto, seriam muito atraentes ao capital externo: a grande extensão territorial, o tamanho da população e o atraso em investimentos em infraestrutura nas últimas décadas.
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