G1 – Três mulheres mudaram a história do Metrô de São Paulo em 13 de novembro de 1986, há 35 anos, quando se tornaram as primeiras trabalhadoras do sexo feminino a serem contratadas para operarem trens no país.
Maria Elisabete Oliveira, Marilu de Santos e Tanara Régia foram aprovadas em um concurso interno da Companhia do Metropolitano de SP, empresa instituída há 53 anos pelo governo estadual como responsável pela operação do metrô em território paulista.
O pioneirismo na conquista pelo cargo também foi acompanhado de uma série de desafios, sendo o principal deles o preconceito.
Segundo Elisabete, que segue trabalhando como operadora, era comum os passageiros irem até a cabine para conferir se realmente havia uma mulher no controle do trem, fazendo diversas caras de desgosto quando confirmavam a informação.
“No dia da nossa liberação, estava eu e a Marilu na sequência. Tinha gente que não queria entrar no meu trem, só que o dela vinha atrás, aí não entravam também”, comenta a operadora.
“A gente achava engraçado né, porque azar deles que iam demorar mais um pouco pra chegar onde tinham que chegar”, diz ela com bom humor.
Já aposentada, Marilu conta que a frase “só podia ser mulher” era a mais escutada por ela quando algum problema operacional acontecia e prejudicava a velocidade de circulação dos trens.
A discriminação com as três mulheres não era praticada apenas por passageiros. Elisabete relata que o mesmo ocorria pelos próprios colegas de profissão.
“Os operadores mesmo não aceitavam. Achavam que a gente tinha vindo para tomar lugar e não acrescentar”, conta ela.
Conquista de espaço
As mulheres também precisavam conquistar espaços físicos para que pudessem trabalhar com dignidade, uma vez que as instalações do metrô não tinham sequer banheiro feminino para funcionárias da companhia.
“No começo, ou ia na estação, porque na nossa sala [dos operadores] não tinha, ou pedia para os homens saírem, ficarem na porta, pra gente poder usar”, contou Elisabete.
Apesar da série de desafios que acompanha qualquer tipo de pioneirismo, as três operadoras também foram surpreendidas positivamente por demonstrações de admiração e carinho, como o bilhete que Elisabete recebeu um grupo de alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo Braz Cubas – Arquitetura FAUBC
Caminho aberto
Trinta e cinco anos depois da contratação das três operadoras, o número de mulheres que ocupam o cargo é de 189, o que representa cerca de 21% do quadro de trabalhadores do Metrô de SP que atuam na função.
“Eu vejo as meninas novas e fico super feliz por elas. Só não fico mais feliz porque eu queria que fossem mais, eu gostaria que o quadro [de operadoras] nesses 35 anos fosse de 50% ou 40%”, afirmou Elisabete, que pretende se aposentar em 2022, com o sentimento de missão comprida.
A primeira a se aposentar foi Marilu, em 1999, seguida de Tanara, que deixou a profissão há dois anos.
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