Estadão – Mobilidade – Quase dois anos após o início da pandemia de covid-19, o setor de transporte público ainda vivencia sua pior crise. A queda abrupta da demanda de passageiros e a sua lenta retomada fizeram com que toda a mobilidade urbana passasse por grande dificuldade. Com a nova variante do vírus e a necessidade de novas medidas para frear a contaminação, ainda é necessário cautela na avaliação da recuperação da demanda.
Por outro lado, os projetos estão avançando e o setor metroferroviário está otimista, principalmente com aqueles que envolvem as Parcerias Público-Privadas (PPP). Em 2020, mesmo com o mercado fortemente impactado, o excelente resultado obtido com a concessão das Linhas 8 e 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) comprova a grande atratividade do transporte metroferroviário de passageiros ao investimento privado.
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Em pouco mais de dez anos, a participação privada no setor aumentou mais de 300% e, atualmente, responde por 56% das operações no Brasil. Esse número poderá ser ainda maior com os estudos e projetos em andamento, que mostram que a operação privada desses sistemas poderá atingir mais de 75% nos próximos cinco anos.
Os Estados de São Paulo, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte são responsáveis pelas dez obras de expansão em andamento, abrangendo projetos de metrô, trem urbano, Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e monotrilho. Parte dessas obras está sendo custeada com verba pública e outras por meio de PPPs. Além da continuidade desses projetos, para esse ano já estão anunciadas a modernização e expansão do metrô de Belo Horizonte e a construção do people mover do Aeroporto de Guarulhos, que conectará a Linha 13-Jade da CPTM aos terminais de passageiros.
Com relação às concessões, há diversos projetos em andamento que deverão impulsionar os investimentos para os próximos anos como: a concessão do Trem Intercidades de São Paulo, que conectará a capital à cidade de Campinas, no interior do Estado; a operação do metrô do Distrito Federal e a construção do VLT de Brasília; e as desestatizações da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb) e da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que já colocou em consulta pública a modelagem para a concessão do metrô de Belo Horizonte, o primeiro de seus cinco sistemas.
Os trens regionais também devem ser impulsionados neste ano por meio da Política Nacional do Transporte Ferroviário de Passageiros (PNTFP), que está sendo construída pelo Ministério da Infraestrutura. O documento, que acaba de passar por consulta pública, traz diretrizes para a formulação de um modelo de negócio atrativo ao mercado. A expectativa é de que o governo publique a Política Nacional ainda no primeiro semestre.
Juntas, essas ações mostram que o setor não parou durante a crise e os investimentos estão avançando, não só para a expansão da rede de transporte sobre trilhos, mas, especialmente, para a qualificação da mobilidade urbana dos brasileiros. Para que essa rede se concretize, entretanto, é necessária a condução efetiva dos projetos, que devem ser geridos numa visão de Estado, com andamento independente de mandatos políticos.
O momento é de otimismo, mas também de muita atenção com o desenvolvimento de políticas públicas que garantam a segurança jurídica dos investimentos, um novo modelo de financiamento do transporte público e a eficiência da gestão metropolitana de mobilidade.
O transporte público beneficia a todos, inclusive àqueles que não o utilizam. Investir no transporte público significa maior mobilidade, mais sustentabilidade para as cidades e maior qualidade de vida para os cidadãos.
Roberta Marchesi
Diretora Executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Conselheira de Administração de empresas de transporte
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