Valor Econômico – Uma combinação de fatores, das mais diversas naturezas, tem contribuído para que os preços da celulose sigam surpreendendo até mesmo os produtores em 2022. Guerra na Ucrânia, ruptura na cadeia logística global e em determinadas regiões e a concentração de paradas programadas para manutenção em fábricas da América do Sul, em um momento de demanda aquecida em particular na América do Norte e na Europa, explicam o rali da matéria-prima.
Uma vez que esse cenário não deve mudar no curtíssimo prazo, é possível que mais algum aumento seja registrado antes que as cotações alcancem o teto deste ciclo — os reajustes para abril, indicou recentemente a Suzano, já foram integralmente aplicados.
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Uma nova rodada de aumento de preços da celulose de fibra curta começou a ser implementada por produtores sul-americanos na China, apurou o Valor. Segundo fontes de mercado, a Klabin já comunicou a seus clientes um reajuste de US$ 30 por tonelada a partir de 1º de maio, em movimento que foi acompanhado pela chilena Arauco e, agora, pela Bracell.
Com esse aumento, a celulose de fibra curta passa a ser negociada a US$ 810 para os pedidos faturados a partir do fim deste mês, disse uma fonte.
Do lado inesperado, a greve dos trabalhadores da UPM que já se estendia por 16 semanas, na Finlândia, chegou ao fim na sexta-feira. Segundo a agência Reuters, um mediador nacional teve êxito ao propor um acordo entre as diferentes unidades de negócio da companhia e sindicato.
Antes do acordo, cerca de 2 mil trabalhadores da UPM que paralisaram atividades desde janeiro haviam acertado a extensão da greve até 14 de maio.
A guerra na Ucrânia e as sanções à Rússia, por outro lado, afetaram o fornecimento de madeira para certas regiões da Europa, limitando a produção da fibra. Ao mesmo tempo, a russa Ilim, fornecedora de celulose branqueada à China, estaria enfrentado restrições no acesso a químicos, o que teria levado à redução de suas operações.
Esses eventos, associados aos problemas no transporte marítimo global e nas cadeias logísticas regionais — há falta de vagões, motoristas e caminhões em diferentes localidades —, resultaram em consumo dos estoques ao longo do sistema e levaram a pedidos mais robustos de celulose, alimentando o desequilíbrio entre oferta e demanda. Entre os produtores, não há expectativa de que esse descompasso seja corrigido proximamente.
Na semana passada, segundo a Fastmarkets Foex, o preço líquido da fibra curta avançou US$ 1,90 na China, para US$ 783,61 por tonelada. Desde o início do ano, a valorização naquele mercado supera 35%. Na revenda, os preços da celulose de eucalipto permanecem acima dos praticados na importação, em US$ 807,04 por tonelada, segundo o BTG Pactual, em um sinal de que haveria espaço para mais reajuste.
A celulose de fibra longa, por sua vez, era negociada a US$ 976,69 por tonelada na China, com leve queda de US$ 0,50, informou a Foex. Com isso, o spread entre os dois tipos de fibra estava em US$ 193 por tonelada, acima dos níveis normalizados, em torno de US$ 120 por tonelada. Tradicionalmente, quando as cotações estão tão distantes, há substituição do consumo de fibra longa pela curta, estimulando demanda e preço.
No Santander, a estimativa é que o déficit de celulose de fibra curta no mercado global fique em 400 mil toneladas em 2022. Diante disso, o banco revisou o preço médio projetado para este ano, de US$ 570 por tonelada para US$ 630 por tonelada. “Acreditamos que um ciclo de alta prolongado da celulose é provável, pois esperamos que o mercado permaneça firme em 2022”, escreveram os analistas.
Em amplo relatório sobre como os produtores brasileiros de celulose utilizaram o caixa robusto gerado nos últimos 18 meses, a equipe de análise do Itaú BBA lembra que os preços da fibra curta permaneceram relativamente estáveis em 2020, com início de recuperação em 2021.
Conforme os analistas Daniel Sasson, Edgard Pinto de Souza, Marcelo Furlan Palhares e Barbara Soares, a China foi o primeiro mercado a exibir recuperação. Já no primeiro trimestre, o preço líquido da fibra curta saltou de US$ 500 por tonelada para US$ 730 por tonelada. Já no segundo trimestre, houve correção, na esteira do aperto na política monetária chinesa e, mais à frente, do racionamento de energia no país asiático — que afetou a taxa de operação das papeleiras.
No fim do ano passado, com a retomada da demanda, em um momento de restrições crescentes à oferta, os preços da celulose voltaram a subir na China, até os US$ 780 por tonelada recém-atingidos. “A recuperação dos preços da celulose, combinada ao real relativamente desvalorizado, levou Suzano e Klabin a registrarem resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorde [em 2021]”, escreveram.
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