Folha de S. Paulo (Blog) – Os trilhos que passam em frente à estação Ligação, em Campo Grande, são utilizados pela concessionária responsável pelo trecho da extinta Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, mas ela está totalmente abandonada.
Desvinculada da concessão ferroviária, a estação fica na zona rural da capital sul-matogrossense e teve os danos minimizados a partir do momento em que a concessionária Rumo instalou um centro de apoio em sua frente, mas os estragos de décadas de abandono já eram evidentes, conforme relato de moradores das redondezas.
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Os vidros de uma das janelas estão quebrados parcialmente e uma parte do telhado já não existe mais na pequena estação, que possuía apenas duas portas em sua plataforma de embarque quando transportava os passageiros do Trem da Morte.
A Noroeste do Brasil, entre Bauru e Corumbá (MS), com 1.272 quilômetros, herdou o nome do Trem da Morte original, que liga Puerto Quijarro a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
A rota boliviana ganhou o nome devido ao grande número de acidentes e por ser no passado usada para o transporte de doentes.
Com o tempo, a “extensão” brasileira, já que Corumbá é vizinha a Puerto Quijarro, ganhou a mesma denominação, graças à desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.
Próximo à estação Ligação há uma caixa d’água que no passado era abastecida a partir de um ponto distante, do outro lado da BR-262 e que ainda conserva o dístico NOB, em alusão à Noroeste do Brasil.
Mas é quase nada perto do que já foi no passado. Inaugurada em 1914, ela serviu para ligar dois trechos que estavam separados, por isso recebeu esse nome, e contribuiu para o desenvolvimento ferroviário de todo o estado nas décadas seguintes.
Atualmente, contam vizinhos, trafegam pelos trilhos em média três trens semanais, volume que evidentemente varia conforme a necessidade da concessionária.
A placa de avisos segue na plataforma de embarque, informando a altitude do local (457 m) e a quilometragem, mas atualmente ela serve apenas para matar a saudade de entusiastas das ferrovias que visitam esporadicamente a estação.
A Noroeste do Brasil passou a fazer parte da RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) em 1957, onde ficou até a concessão à Novoeste na década de 90.
Da empresa, em parceria com a Ferroban e a Ferronorte surgiu a Brasil Ferrovias, que depois passou a ser Nova Novoeste, até ser incorporada à ALL (América Latina Logística).
Esta, por sua vez, foi absorvida pela Rumo Logística, atual detentora da concessão da ferrovia, mas o contrato inclui apenas algumas estações —não é o caso da estação Ligação.
O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) informou, por meio de sua assessoria, que promove parcerias com prefeituras e associações de preservação de bens que não sejam de interesse do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Segundo o órgão federal, basta que o interessado apresente uma proposta ao Dnit.
“A política adotada pelo Dnit para a gestão destes bens é a formalização de parcerias com entidades municipais e associações de preservação para minimizar os efeitos do tempo, desocupação e vandalismo”, diz o órgão.
Das 122 estações erguidas entre Bauru e Corumbá, ao menos 80 foram demolidas ou estão em processo avançado de deterioração, abandonadas ou fechadas, sem uso algum.
A maior parte delas está sob responsabilidade do governo federal.
O relato do estado da estação ferroviária Ligação, em Campo Grande, faz parte de uma série sobre a extinta Noroeste do Brasil.
Se quiser conferir o estado geral das estações que pertenceram à ferrovia, contamos essa história aqui.
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