Valor Econômico – A pesquisa elaborada para o anuário “Valor Inovação Brasil” 2022 identifica a aderência da agenda de inovação aos desafios de sustentabilidade. “Muitos dos cases apresentados trazem projetos de modernização de processos produtivos, redução de emissões e eficiência no uso de insumos”, afirma Jacques Moszkowicz, sócio da Strategy&, consultoria estratégica da PwC e parceira do Valor no ranking das 150 empresas mais inovadoras do Brasil. Segundo ele, as discussões sobre a agenda ESG (práticas ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) vão resultar em definições estratégicas e desencadear mecanismos inovadores para o cumprimento das metas.
“Os avanços científicos ocorridos nas últimas décadas mudaram comportamentos, hábitos e formas de interação, desafiando os modelos produtivos”, diz Claudia Echevenguá Teixeira, diretora de inovação e negócios do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “Caminhamos para um modelo produtivo limpo, inclusivo e eficiente”, afirma. A boa notícia é que há tecnologia disponível e acessível para dar conta do recado.
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Na lista de opções, as companhias contam com recursos da revolução digital combinados a conquistas científicas em áreas como física, química, matemática e biologia. Outro ponto forte são as redes de cooperação, que avançaram muito com o enfrentamento da pandemia. “A covid-19 nos mostrou que é possível organizar empresas e comunidade científica na solução de problemas complexos.”
Para Teixeira, as metas ESG vão estimular a economia circular, que traz instrumentos para um posicionamento estratégico. “A preocupação com compartilhamento, logística e destinação final estará cada vez mais presente na fase de concepção dos produtos.”
São tendências que emergem do ranking das mais inovadoras, que ouviu 253 empresas, de 25 setores da economia, e analisou, ao todo, mais de mil casos de inovação, que geraram um número equivalente de patentes e entraram na avaliação. Da amostra, 54 empresas estão entre as cem maiores companhias em faturamento do país.
“Desde o primeiro ano do prêmio [2015], o desempenho das empresas tem avançado de forma sustentável”, destaca Moszkowicz. “A régua está subindo porque a inovação vem tomando cada vez mais espaço na agenda corporativa”, diz o executivo.
Dados da pesquisa apontam essa tendência. Do total de empresas entrevistadas, 38,7% declararam que a inovação é a principal estratégia e 54% incluem o tema entre suas três prioridades. “É significativo o fato de que 92,7% das participantes considerem a inovação como pilar estratégico”, comenta Moszkowicz.
Outro indicador confirma o esforço para inovar: a destinação de recursos. Quando questionadas sobre o orçamento, 23% das companhias disseram aplicar mais de 5% da receita líquida em atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D). No grupo das 30 empresas mais inovadoras, 40% declararam destinar mais de 5% da receita líquida. “Os investimentos têm aumentado ao longo do tempo”, destaca Moszkowicz. Ele lembra que, em 2019, no grupo das 30 mais inovadoras, 27% declararam aportes superiores a 5% da receita líquida, na atual edição da pesquisa houve um salto de 13 pontos percentuais. “O aumento retrata o ganho de relevância estratégica da inovação”, reforça.
A tendência é evidente nos resultados dos negócios. O levantamento aponta que 34% das empresas que estão entre as cem mais inovadoras obtêm mais de 30% do faturamento com produtos e serviços lançados nos últimos três anos.
Mudanças culturais relevantes para o ambiente inovador também estão presentes. Na amostra analisada, 77% das companhias afirmaram que são tolerantes a erros, discutem abertamente a questão e possuem políticas para estimular e reconhecer funcionários que inovam.
Professor titular de sociologia na Universidade de São Paulo (USP) e especialista em teoria da inovação e sociologia econômica, Glauco Arbix considera que a inovação tem poder inclusivo, ao permitir que as empresas entendam os consumidores e ajustem os negócios de acordo com contexto do mercado. “As condições sociais no Brasil entraram em processo de degradação, o que reduz a capacidade de consumo das famílias”, lembra. A melhor alternativa, diz ele, é pensar em produtos e serviços inovadores e acessíveis.
A inovação é apontada como fator vital em um mundo hiperconectado e mais preocupado em planejar o futuro. O uso socialmente correto das tecnologias está na base da chamada Sociedade 5.0 – conceito criado e difundido pelo Japão que promete reposicionar as peças no tabuleiro. “Os empresários, principalmente os da nova geração, entenderam que o processo produtivo tem de ser bom para as pessoas”, diz Teixeira, do IPT.
Marcela Flores, diretora-executiva da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) defende iniciativas como a criação de um plano de Estado para inovação, com parcerias entre os setores público e privado, complementando infraestrutura e recursos. Mas preocupam os severos cortes na área de P&D por parte do governo Jair Bolsonaro.
Na outra ponta do ecossistema, o das startups, é preciso ampliar as conexões entre investidores e projetos. A plataforma digital Jupter identificou, por meio de mapeamento coletivo, R$ 17 bilhões disponíveis para investimento em empreendedorismo inovador no Brasil. Segundo Bruno Dequech Ceschin, cofundador da Jupter, as startups em estágio mais maduro – conhecidas por scaleups – terão mais dificuldade para angariar recursos. “O investidor estará mais seletivo”, diz. Já o apetite para os negócios em estágio inicial é grande.
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