Valor Econômico – A queda na produção global de aço no primeiro semestre afetou diretamente os preços e volumes produzidos de minério de ferro. Atrasos em cronogramas de obras, paralisação e cancelamento de projetos, expansões adiadas, aumento de estoques em portos (principalmente na China), além de tensões geopolíticas, impactaram a produção e o comércio global desse mineral no período. É quase certo que esse quadro continue neste semestre.
Com demanda enfraquecendo e oferta aumentando, os preços do minério de ferro também devem continuar pressionados, como ocorreu no segundo semestre de 2021, explicam analistas do setor.
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Entre janeiro e julho, a tonelada de minério de ferro caiu de US$ 143,5, em média, para US$ 117,5. Considerando os preços médios no mesmo período do ano passado, hoje eles estão cerca de 25% mais baixos. Em meados de agosto, caíram ainda mais, para US$ 108,8/t, 33% abaixo do valor do mesmo período do ano passado. A estimativa média para este ano caiu de US$ 125/t para US$ 115/t.
“Desaceleração econômica mundial, guerra entre Rússia e Ucrânia e as tensões militares no sul da China afetam também a demanda por minério de ferro e, portanto, os preços”, explica Saulo Liberato, sócio-diretor da Saga Consultoria. “Apesar de recentes dados positivos na atividade industrial chinesa, os analistas do mercado estimam novas reduções de preços do minério de ferro nos próximos meses, puxados pela retração econômica observada em diversas partes do mundo, pelas dificuldades financeiras enfrentadas por incorporadoras chinesas e incertezas quanto à retomada plena das siderúrgicas na China”, diz Liberato.
No entanto, alguns “fatores modificadores” podem inverter essa tendência, como a ajuda financeira do governo chinês a incorporadoras endividadas, o que poderia ampliar a demanda por aço no país, com impactos também no mercado mundial.
“É difícil traçar neste momento um cenário para o mercado global de minério de ferro. Mas supondo que a China venha a aumentar as atividades relacionadas à infraestrutura e construção e as autoridades chinesas venham a introduzir mais políticas fiscais e monetárias estimuladoras ainda este semestre, com ênfase em infraestrutura, mesmo com os recentes surtos da covid, podemos pensar em uma tendência de pequena recuperação no segundo semestre, em comparação com o primeiro”, avalia Julio Cesar Nery Ferreira, diretor de sustentabilidade e assuntos regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
Ferreira explica que, os rumos do conflito entre Rússia e Ucrânia causaram temor nos produtores globais de minério de ferro, que optaram pela cautela ao reduzirem seus percentuais de produção. Segundo ele, essa guerra provocará uma reorganização das exportações de minério de ferro e de aço dos dois países no restante deste ano, e provavelmente além. “Nos últimos meses, os mercados globais de minério de ferro foram ainda mais afetados. O conflito poderá causar uma perda de oferta do mineral no curto prazo”, diz Ferreira. Ele lembra que, no ano passado, a Ucrânia exportou 44 milhões de toneladas de minério de ferro (cerca de 2,7% da oferta global). “Como a maioria das minas do país se encontram em áreas fora das principais zonas de conflito, os principais produtores conseguiram manter a produção e as exportações parciais nos últimos meses”, diz o executivo.
Embora a Rússia tenha suspendido temporariamente a publicação de dados comerciais ao final de abril, relatórios sugerem uma queda de até 30% em suas exportações de minério de ferro em relação a março. Vale ressaltar que, em 2021, os russos exportaram cerca de 25 milhões de toneladas aos principais mercados, incluindo União Europeia (41%, ou 10,4 milhões de toneladas) e China (39%, ou 9,7 milhões de toneladas). “Além das proibições de importação de ferro e aço, várias siderúrgicas europeias anunciaram a remoção de fornecedores russos de suas cadeias produtivas”, diz Ferreira.
Com o tempo, espera-se que a Rússia busque novos mercados para volumes de exportação deslocados anteriormente enviados para a Europa. “No entanto, essa reorganização pode ser restringida por questões logísticas no transporte para regiões como a Ásia, bem como ‘autossanção’ em andamento por outros produtores de aço não europeus”, acrescenta o direto do Ibram.
Esse problema é mais um dos vários que se observam desde 2021 na cadeia global de suprimentos, afetando principalmente a indústria automotiva, aponta Patrícia Muricy, sócia-líder da indústria de mineração e metais da Deloitte. Ela lembra ainda que outra questão crítica que preocupa é o aumento nos custos com transporte e a falta de componentes para esse setor. “Somam-se a esses fatores a redução da demanda por veículos”, diz.
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