Valor Econômico – A balança comercial do agronegócio tem mais um ano positivo. Apesar de não ter conquistado nenhum mercado novo importante e do aumento de 112% dos preços das importações de bens intermediários, como fertilizantes e defensivos, o superávit do setor passou de US$ 29,2 bilhões, no acumulado de janeiro a setembro do ano passado, para US$ 38,6 bilhões em igual período de 2022. Houve queda de 2% no volume exportado pela agropecuária, compensado pelo preço, que subiu 37,5% de janeiro a setembro. A participação do agronegócio nas exportações totais brasileiras é de 23%.
Muitas variáveis rondam o cenário de 2023: o desempenho da economia da China, mercado de quase 40% das exportações da agropecuária brasileira, se haverá ou não recessão na Europa, que absorve um terço de grãos e carnes produzidos no país, e o impacto da inflação nos Estados Unidos, que consome outros 16%. “A manutenção do crescimento das commodities irá depender ainda mais de eventuais choques de oferta que sustentem o aumento de preços”, diz Lia Valls, pesquisadora associada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre).
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Os especialistas da consultoria TCP Partners projetam que a demanda continuará firme nos próximos doze meses. Eles apontam para o desenrolar do conflito na Ucrânia, a recuperação do PIB da China, a desvalorização do real e a calibragem no preço internacional dos insumos químicos do agronegócio. Mas há ressalvas. “O agronegócio pode ter uma queda na margem de lucro por causa do gasto com fertilizantes, estocado com o preço em alta, e o maior custo de capital, com a Selic em torno de 13% a 14%, apesar das linhas de crédito favoráveis”, afirma Ricardo Jacomassi, economista-chefe e sócio da TCP.
O agronegócio como um todo exportou, de janeiro a setembro deste ano, US$ 122,07 bilhões – alta de 30% sobre 2021. Os dados são do Ministério da Economia e da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec). Em cereais foram US$ 60,32 bilhões.
Representantes do setor apostam no melhor, mas estão precavidos contra as incertezas. “A safra pode compensar o custo maior da lavoura. Tudo o que se tem está se exportando e só não se está exportando mais soja este ano porque houve quebra na safra”, diz Sérgio Mendes, diretor-geral da Anec.
O volume de soja, farelo de soja, óleo de soja, milho e trigo atingiu 116,8 milhões de toneladas contra 105,8 milhões de toneladas nos nove primeiros meses do ano passado. A soja, com queda de 10% no volume exportado, teve como principal destino a China. A Indonésia liderou a compra de farelo de soja e o Irã foi o maior comprador de milho, que dobrou as exportações. A Índia foi a principal importadora do trigo brasileiro, que quase quintuplicou as vendas para o mercado internacional até setembro deste ano em comparação com igual período de 2021.
“Os pedidos na cadeia estão diminuindo por causa da questão energética na Europa. A inflação e a possibilidade de recessão podem afetar a demanda de matéria-prima do setor têxtil”, afirma Miguel Faus, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). O Siscomex registrou vendas externas de algodão de US$ 2,27 bilhões este ano até setembro, ante US$ 2,28 bilhões em 2021.
A exportação de carne bovina aumentou 18,5% em volume de janeiro a setembro deste ano em relação aos nove primeiros meses de 2021. O crescimento da receita passou de 40%, com US$ 9,18 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). A receita das exportações de carne de frango de janeiro a setembro de 2022 foi de US$ 7,37 bilhões – alta de 31% – enquanto a de carne suína caiu 10,2%, ambas sobre igual período de 2021.
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