Debêntures de infraestrutura: momento oportuno

Valor Econômico – Um mercado ainda pouco endereçado, com elevado potencial de alocação de recursos, baixa penetração na base de investidores locais e com poucos players atuantes. Poderíamos estar nos referindo ao mercado de FIIs há alguns anos, porém, esta é a atual realidade do mercado de debêntures incentivadas de infraestrutura no Brasil.

Atualmente, a necessidade de investimentos no setor de infraestrutura é da ordem de algumas centenas de bilhões de reais anuais para que o Brasil atinja o nível desejado, em termos de representatividade e comparável a países desenvolvidos e mesmo os Brics, dos atuais 1,9% para 6,5% do PIB em 2038.

Importantes conquistas do ponto de vista regulatório foram alcançadas nos últimos anos, conferindo uma maior segurança jurídica, em especial com a Lei 12.431 e outras mais recentes que criam um arcabouço legal robusto e necessário para o desenvolvimento da infraestrutura no Brasil.

Englobando projetos de infraestrutura nos setores de energia, saneamento, rodovias, portos, telecomunicações, iluminação pública e, mais recentemente, irrigação, entre outros, a Lei 12.431 garante a isenção fiscal do investidor de mercado de capitais, tornando as debêntures incentivadas o principal veículo de financiamento ao desenvolvimento da infraestrutura no último ano, superando os desembolsos feitos pelo BNDES.

Observamos um aumento no volume de novas ofertas de debêntures, assim como incremento no volume de negociação no mercado secundário, porém ainda tímido se comparado a outros segmentos mais desenvolvidos, como renda variável (ações e mesmo FIIs), tendo boa parte das negociações realizadas de forma ainda “rudimentar” no mercado de balcão.

Por outro lado, a liquidez reduzida traz oportunidades atrativas para investidores e gestores de fundos especializados, consideradas as taxas nominais e spreads de crédito em relação aos títulos públicos. A experiência de alguns gestores de fundos de debêntures incentivadas tem sido positiva, sem terem incorrido em eventos de default de crédito e, por consequência, prejuízo, nos papéis adquiridos de projetos ou “sponsors” de projetos de infraestrutura.

Esses papéis tornaram-se uma ótima oportunidade de investimento, pois conseguem aliar taxas atrativas de remuneração, com riscos creditícios de ótima qualidade, permitindo ainda que investidores e gestores possam na prática preservar, de forma eficaz, teoria de portfólio na construção de uma carteira diversificada, por tomador, setor, índice de correção, “duration” e garantias.

Esse mercado, porém, ainda guarda alguns desafios para uma gestão e alocação mais eficiente, pois a liquidez do mercado secundário dificulta uma gestão ativa de carteira, aliado a ainda baixa oferta nas principais plataformas de investimento de forma direta.

Outro desafio para a melhor disseminação das informações e acesso às mesmas é que ainda não temos um sistema de informações, onde dados e informações como rating, situação financeira do emissor, entre outros, estejam disponíveis em tempo real. Nesse sentido, é papel dos gestores de fundos especializados ter internalizadas essas capacitações e atividades para realizar o acompanhamento constante e levantamento de informações para uma gestão ativa da carteira, assim como se utilizarem de mecanismos de proteção (hedge) visando redução da volatilidade e alcance de resultados positivos, mesmo sob cenário de forte oscilação da curva de juros.

O momento atual de incertezas e instabilidade tem impactado significativamente o mercado financeiro como um todo, não sendo diferente para o segmento de debêntures incentivadas. Há alguns meses, o efeito foi de certa forma potencializado pela deflação observada no IPCA, gerando menor demanda para ativos IPCA+ e, consequentemente, resultando na abertura dos spreads de crédito. Por outro lado, isso tem gerado ótimas oportunidades para investidores com perfil de médio/longo prazo, para alocar em ativos de renda fixa cujos prêmios sobre as NTN-Bs aumentaram significativamente.

Momentum ótimo, ativos com deságio, elevada qualidade de crédito, liquidez reduzida, somado a isenção de IR (tanto nos rendimentos distribuídos quanto na venda de cotas com ganho de capital) traduzem uma alternativa de investimento muito interessante para pessoas físicas, que visam diversificação na renda fixa ou que não tenham perfil de risco para renda variável.

E, novamente, como já reforçado em outras oportunidades, uma gestão ativa e diligente na identificação e negociação das oportunidades existentes, assimétricas na relação risco-retorno, deve ser delegada a gestores profissionais que contam com equipes com profundo conhecimento e experiência no setor, uma vez que o investimento feito por conta própria nem sempre acontece da melhor forma, por diversas circunstâncias, como liquidez reduzida, timing impreciso, falta do pleno domínio de todas as informações; variáveis, essas, que são acompanhadas diariamente por gestores especializados como “core business”.

Fonte: https://valor.globo.com/financas/coluna/debentures-de-infraestrutura-momento-oportuno.ghtml

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