Mercadante promete “BNDES do futuro” e impulsionar indústria

Aloizio Mercadante: BNDES atuará com parcerias e terá papel de complemento aos mercados de crédito e de capitais — Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Aloizio Mercadante: BNDES atuará com parcerias e terá papel de complemento aos mercados de crédito e de capitais — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

Valor Econômico – Indicado para a presidência do BNDES, o petista Aloizio Mercadante afirmou que não haverá uma “reconstrução” do modelo do banco de fomento “do passado” no novo governo Lula. A declaração foi feita em almoço com empresários e banqueiros em São Paulo e em que foi acompanhado por parte da futura diretoria do banco.

Mercadante disse que o BNDES atuará com parcerias e terá um papel de complemento aos mercados de crédito e de capitais, ocupando as lacunas não preenchidas por esses, segundo relato de pessoas que estiveram no evento. Isso significa, acrescentou, entrar em operações de alto risco, que na prática consomem muito capital bancário. O banco terá um papel de mitigador de risco, mas o que está dando certo será mantido, disse aos presentes.

Segundo ele, o banco terá como objetivo a reindustrialização do país, mas com uma postura técnica moderna. “Estamos formando uma diretoria técnica e competente. Um dos objetivos é impulsionar a indústria. O Brasil precisa se reindustrializar. A carteira da indústria no BNDES era 43% e agora é só 16%” disse.

“Mas é um novo papel. Não vamos trazer o BNDES do passado. Será um BNDES do futuro. Não tem espaço fiscal para [o governo] financiar o BNDES. Teremos que buscar novas fontes de financiamento. Têm muitos recursos lá fora que, com a liderança do presidente Lula, poderemos captar conservando a Amazônia e assumindo a sustentabilidade ambiental.”

Nos mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), o BNDES foi marcado pelo incentivo para as grandes companhias, quando foram concedidos empréstimos a taxas subsidiadas. A expressão campeões nacionais passou a ser usada para designar criticamente setores e empresas escolhidos pelos governos petistas para receberem apoio financeiro da instituição.

Segundo Mercadante, na Europa há € 55 bilhões para investir em outros países, e o banco  quer atrair esses recursos. Disse também que o seu BNDES terá um olhar para micro e pequenas empresas, corroborando a afirmação de Alexandre de Abreu ex-CEO do Banco do Brasil e do Original que deverá assumir a diretoria de Finanças da instituição.

Além de Abreu, estiveram presentes no almoço e vão para a direção do BNDES Natalia Dias, CEO do Standard Bank Brasil; Luciana Costa, presidente no Brasil do banco de investimentos francês Natixis; José Gordon, da Embrapii, empresa de fomento à investimentos em pesquisa e inovação; e de Luiz Navarro, ex-ministro da Controladoria-Geral da União e atualmente sócio do escritório de advocacia Hage & Navarro. Mercadante também confirmou os nomes do ex-ministro da Fazenda e do Planejamento Nelson Barbosa e da ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello.

Embora os cargos não estejam definidos, Mercadante adiantou que Luciana deverá cuidar da área de economia verde, e Natalia, do setor de capitais. Gordon provavelmente ficará com a área de inovações, e Tereza Campello, da área social, enquanto Nelson Barbosa deve ficar com a diretoria de planejamento.

O petista também procurou tranquilizar os empresários em outro ponto muito sensível para o mercado: taxas de juros subsidiados. Ainda segundo as fontes, Mercadante disse que haverá “equilíbrio” na relação entre Tesouro e BNDES e que a TJLP (taxa subsidiada e extinta no governo Michel Temer) não voltará.

Ainda sobre essa questão, o futuro presidente do BNDES disse que a TLP (mais alinhada às taxas de mercado) continuará sendo usada nos financiamentos do banco. Porém, se houver espaço, ele afirmou que gostaria de discutir a possibilidade de que a taxa seja menor para projetos de longo prazo e mais flexível para o crédito a pequenas empresas.

Segundo Mercadante, o BNDES terá papel relevante na reindustrialização, observadas as restrições fiscais. O banco também terá em seu foco o financiamento ao balanço verde das empresas, em linha com uma economia mais voltada à sustentabilidade.

O petista não fez uma fala inicial. A dinâmica do encontro foi iniciada com perguntas dos presentes, entre os quais estavam o presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho; André Esteves, do BTG Pactual; Isaac Sidney, presidente da Febraban; Eugenio Mattar, da Localiza; e Rubens Ometto, da Cosan.

Após o almoço, Abreu afirmou que o banco de fomento buscará manter o que vem sendo bem feito e inovará onde for preciso para fazer o crédito chegar a pequenas e médias empresas. “O BNDES não é competidor do mercado, é parceiro.” Segundo ele, a agenda ESG (sigla em inglês para padrões ambientais, sociais e de governança) estará nas prioridades da nova gestão.

Perguntado sobre a taxa de juros que dificulta a vida dos empresários, ponderou que isso é uma questão que não compete ao BNDES interferir. Mas reforçou que o papel do banco será contribuir aumentando acesso ao crédito. “O que todos queremos é juros mais baixos. Isso depende da política macroeconômica como um todo. O que o BNDES poderá fazer é ser mais eficiente fazendo o crédito chegar ao pequeno e médio empresário”, declarou.

Sobre o encontro em São Paulo com o grupo de grandes empresários, disse que a receptividade foi boa e que os objetivos estão convergentes.

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2022/12/22/mercadante-promete-bndes-do-futuro-e-impulsionar-industria.ghtml

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