Valor Econômico – Instalando “paradas de trem” ao longo da Ferrovia Norte-Sul, uma espinha dorsal no centro do Brasil que liga Tocantins a São Paulo, a Rumo planeja ampliar a venda de bilhetes de transporte aos maiores produtores agrícolas do país a partir de 2023.
As “estações” são, na verdade, terminais de prestação de serviços construídos em municípios-chave, junto com parceiros, com o intuito de atrair clientes em um determinado raio de ação. “É o nosso ponto de venda. A nossa ‘lojinha’”, resume Pedro Palma, vice-presidente comercial da Rumo, sobre os terminais.
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“Estudamos a demanda local e como atendê-la, como quem vai instalar um supermercado”, continua o executivo. “E trabalhamos com um parceiro, como em um sistema de franquias, para melhor atender o cliente final em cada região”.
Depois que ganhou a concessão da ferrovia, em 2019, a companhia fincou três terminais: em São Simão e Rio Verde, em Goiás, e em Iturama – o primeiro da companhia em Minas Gerais. Sem contar os investimentos dos parceiros, os aportes somam cerca de R$ 500 milhões.
Desde que as operações na Ferrovia Norte-Sul – batizada pela Rumo de “Malha Central” – começaram efetivamente, em 2021, a movimentação de cargas dobrou. No ano passado, foram transportados 3,4 milhões de toneladas de soja, farelo de soja e milho. Em 2022, com novas parcerias firmadas em açúcar e adubos, o volume total chegou a 7,5 milhões de toneladas até novembro.
Embora ainda não possa detalhar os próximos passos, Palma diz que novas parcerias estão previstas e poderão sair do papel já em 2023. Por ora, a Rumo estuda a instalação de dois novos terminais para grãos no sul de Tocantins e no norte de Goiás.
Mas, para que a operação ferroviária possa ocorrer em sua totalidade nessa malha, ligando São Paulo a Tocantins, será preciso concluir o trecho em Goiás que liga Rio Verde e Anápolis, que não foi feito pelo governo federal. A empresa quer terminar a obra em 2023.
O plano da Rumo para ganhar musculatura no Centro-Norte inclui, também, a construção de uma ferrovia “vizinha” – trecho que será a continuação da chamada “Malha Norte” -, que subirá o mapa por Mato Grosso. Esta ferrovia (Ferrovia de Integração Estadual) vai ligar Rondonópolis, onde a empresa já tem um terminal importante, a Lucas do Rio Verde, e também chegará a Cuiabá.
Será a primeira ferrovia do país construída pela iniciativa privada, reitera Palma. Com a estrutura que tem hoje em Mato Grosso (ver mapa), a operadora logística ajuda a movimentar 44% das exportações de soja, farelo e milho do Estado.
O plano para ampliar os negócios permitirá a criação de novas possibilidades para o escoamento da safra do Centro-Norte até os portos do Sudeste e do Sul. E levar fertilizantes ao coração do país também faz parte do plano.
O movimento deverá acelerar a competição entre modais logísticos na região. Vale lembrar que a saída do agro pelo Norte do país tem crescido bastante nos últimos anos – e em meio aos prestadores de serviços presentes na região há companhias do porte da VLI.
O projeto da Rumo na Malha Central, ou Ferrovia Norte-Sul, teve início, na prática, com a construção do primeiro terminal com esse molde em São Simão, em 2021. Ali, o parceiro comercial é a Caramuru, e a estrutura movimenta soja.
O investimento foi feito em conjunto, e a partir do contrato nasceu uma terceira empresa, na qual a concessionária detém 51%. A Rumo vende o serviço ferroviário. Parte da capacidade operacional do terminal é usada pela própria Caramuru, e o restante atende a terceiros.
“Uma característica comum desses projetos [terminais] é abrir o uso da ferrovia para o maior número de clientes possível”, acrescenta Palma. Ou seja, à parte do modelo de negócios de cada parceria, todos os terminais são “bandeira branca”, e desse modo não atendem somente os parceiros comerciais.
Os outros dois terminais localizados na Malha Central foram inaugurados em meados deste ano. Um deles começou a operar em parceria com a Usina Coruripe, que fez o investimento total. A usina, também cliente da Rumo, tinha uma unidade de produção de açúcar no município. O terminal tem capacidade para movimentar cerca de 2 milhões de toneladas de açúcar por ano.
A Coruripe precisa de pouco menos da metade. “Nos comprometemos a trazer carga de outros clientes da região para usar parte da ociosidade do sistema, e a Coruripe recebe remuneração por esses volumes”, afirma Palma.
Já em Rio Verde há um complexo para grãos, fertilizantes e combustíveis. Em adubos, o parceiro é a Andali – joint venture entre a CHS Agronegócios, braço brasileiro da maior cooperativa agrícola dos Estados Unidos, BRFértil Fertilizantes e duas holdings fundadoras. A operação começou no segundo semestre e armazena e mistura nutrientes.
A Andali, que também fez o aporte na estrutura local, projeta movimentar 2 milhões de toneladas até 2024. O outro parceiro do complexo, mas em combustíveis, é a DTC, que deverá operar a partir de 2023.
Ao todo, o investimento da Rumo em infraestrutura na Malha Central soma R$ 4 bilhões, e até agora as operações ajudaram a companhia a responder pela movimentação de 30% da soja e milho de Goiás e leste de Mato Grosso.
O setor agropecuário é forte e está crescendo bastante na região sul do Tocantins. A chegada do ferrovia estimulará o setor a crescer pois o potencial é muito grande