A criação de secretarias especificas para o transporte ferroviário, no Ministério dos Transportes, e de mobilidade urbana, no âmbito do Ministério das Cidades, sinalizam boas intenções do novo governo. Mas só isso não basta. Tanto o escoamento de cargas quanto a mobilidade urbana são setores estratégicos que precisam de políticas públicas sérias e bem estruturadas.
Temos mais de 60% da malha de carga inoperante ou ociosa. São necessários estudos que olhem essa malha como um todo e encontre soluções para o reaproveitamento de trechos que aumentem a capilaridade no escoamento de cargas para além dos tradicionais corredores de exportação. No transporte da passageiros, os modelos de concessão ao setor privado estão colapsando. Também é necessária uma reestruturação que priorize o deslocamento da população de maneira digna e com qualidade de vida. Ferrovia é assunto de Estado e esperamos que o governo federal assuma o papel que lhe cabe.
O problema do modal ferroviário no Brasil é crônico, portanto, pode ser detectado, ilustrado e exemplificado desde meados do século XX. Por essa forma, atribuir toda essa responsabilidade ao governo Lula é, no mínimo, mal-caratismo de análise da atual conjuntura do setor o qual vem sendo impactado por diferentes causas e fatores que convergem para o colapso da malha brasileira na atualidade.
Pode-se elencar alguns deles, sobretudo para aqueles de curta memória em relação ao trato dessa questão bastante delicada, por sinal.
Assim, tem-se o descaso para com as ferrovias brasileiras por parte dos governantes pretéritos, a contar, pelo menos, desde o Getúlio Vargas e, culminando, com o desmonte da malha durante o regime ditatorial civil-militar dos anos “60”, “70” e”80″. Na esteira dos acontecimentos, as malfadadas privatizações / concessões realizadas por Fernando Henrique Cardoso. Por fim, a “Era Petista”, com Lula responsável pela ampliação da malha (Norte-Suul; Fiol; Fico; e, Transnordestisna), tendo projetado, implantado e iniciado as obras, senão de todas as citadas, mas pelo menos de três dessas quatro mais extensas. Logo, não se pode ser leviano ao acusar e responsabilizar o novo governo pelo caos instaurado há, no mínimo, setenta anos.