Folha de S. Paulo (Blog) – Um acordo feito entre uma concessionária de ferrovias e uma empresa de telefonia resultou na instalação de 41 antenas na Serra do Mar para apoiar a operação de locomotivas que trafegam no maior corredor ferroviário do país, entre Rondonópolis (MT) e o porto de Santos.
Região de difícil sinal, a serra sempre foi um obstáculo para o sistema ferroviário brasileiro, desde a implantação da SPR (São Paulo Railway) pelos ingleses, em 1867.
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Entre os benefícios da chegada dos ingleses às ferrovias brasileiras esteve a transferência de tecnologia da época, como a engenharia utilizada justamente para romper a Serra do Mar. Para transportar a carga, criaram um sistema chamado de planos inclinados, tema de um mini-doc produzido pelo governo britânico e que pode ser assistido aqui.
Se, porém, os problemas de engenharia foram resolvidos e aperfeiçoados nas décadas e séculos seguintes, a comunicação na região sempre foi um problema e, até o ano passado, apenas cerca de 50% do trecho ferroviário da serra contava com cobertura.
Agora, segundo a concessionária Rumo, a instalação das 41 antenas no trecho de 41 quilômetros entre as estações Evangelista e Paraitinga gerou mais autonomia e reduziu o tempo de comunicação entre maquinistas e o CCO (Centro de Controle Operacional) da empresa. O valor do investimento não foi revelado.
Até a instalação do novo sistema, as composições utilizavam um sistema de comunicação via satélite na serra, que não oferecia boa cobertura devido à topografia, o que provocava impacto na circulação.
Com o novo sistema, segundo Marco Andriola, diretor de tecnologia ferroviária da Rumo, houve redução de 97% no tempo de transmissão de informações entre as composições ferroviárias e o CCO. Uma espera de até sete minutos foi reduzida para três segundos.
O processo de implantação do 4G na serra de Santos começou no último ano e já está 100% operacional. Andriola, porém, disse que as conversas sobre o tema já ocorriam desde 2016.
“Até então a comunicação era com um satélite simples, algo como enviar pacotes, era como enviar só SMS, algo similar a isso […] O sistema satelital cobre boa parte da extensão da malha norte, de Santos a Rondonópolis, e funciona bem fora da serra. Na serra, por uma questão de topografia, como se tem muito morro, existiam muitas lacunas.”
O diretor da concessionária disse ainda que o tempo de resposta na comunicação proporcionou mais segurança nas operações, por agilizar contatos com equipes na serra.
O sistema guarda semelhanças com o implantado por empresas do agronegócio para ampliar a conectividade no campo. O projeto ConectarAgro surgiu em 2019 envolvendo marcas como Massey Ferguson, TIM, Bayer, CNH Industrial, Jacto e Trimble, por exemplo, que se aproveitaram do desligamento do sinal da TV analógica no país para usar conexão 4G na frequência de 700 MHz, que era a utilizada pela TV.
Uma antena pode atingir uma área de até 35 mil hectares, dependendo das condições geográficas em que for instalada.
O sinal no campo é aberto, ou seja, populações nas regiões das antenas, até então desconectadas, passaram a ter sinal de celular, assim como ocorre agora nas áreas que não tinham conexão no entorno das antenas na Serra do Mar.
A Embratel, que faz parte da Claro e desenvolveu o projeto para a Rumo, informou que população e empresas locais passaram a ter mais qualidade e facilidade de conexão, mas não é possível estimar o total de pessoas beneficiadas.
Diretora de vendas da empresa, Vânia Lago disse que foram feitos estudos para definir qual seria o melhor tipo de conectividade para o trecho de declividade e mata fechada, e a conclusão foi a de que o 4G era a tecnologia ideal para que o sinal “rompesse” a serra.
“Diversos testes foram realizados durante o projeto para verificar, por exemplo, a quantidade necessária de antenas para que fosse possível atender com qualidade a evolução tecnológica das locomotivas”, disse.
Além das mudanças externas com a instalação das antenas, as locomotivas também receberam equipamentos para captar o sinal 4G, de forma integrada à comunicação satelital já existente e utilizada nos trechos fora da serra.
A Rumo é a principal operadora ferroviária do país e administra 14 mil quilômetros de trilhos em nove estados, além de 12 terminais de transbordo e 6 terminais portuários.
O artigo da Folha dá a impressão que o treçho onde foi instalado os equipamentos de telecomunicação foi construido pelos ingleses da SPR (cremalheira, hoje operado pela MRS). Contudo, como o proprio texto indica se trata da antiga Sorocabana entre Evangelista de Souza e Paraitinga, construido na decada de 30 do sec XX e hoje operado pela Rumo.