A Prumo Engenharia, construtora especializada em obras no setor ferroviário, e a Matisa, fabricante suíça de equipamentos de manutenção de via, se uniram numa parceria inédita. As duas empresas criaram o consórcio Prumat – nome que remete às primeiras sílabas de cada uma – para oferecer serviços de remodelação, nos próximos 10 meses, de 45 km de linhas da Estrada de Ferrovia Vitória a Minas (EFVM). O acordo inclui a troca de aproximadamente 75 mil dormentes de aço por de concreto. A EFVM tem extensão total de 895 km, ligando a região metropolitana de Belo Horizonte (MG), onde faz conexão com a Ferrovia Centro-Atlântica, ao Porto de Tubarão, em Vitória (ES).
O contrato prevê a utilização de uma renovadora modelo P190, fabricada pela Matisa, mas de propriedade da Vale, operadora da EFVM. A fabricante será responsável pelas partes técnica e de manutenção do equipamento. A Prumo entrará com o serviço de remodelação propriamente dito, ou seja, com a mão de obra responsável pela operação da máquina na via. A previsão de início dos trabalhos de campo é neste mês de abril.
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A parceria da fabricante de equipamentos com a empreiteira ferroviária concretizou-se no fim de 2022, após pouco mais de um ano de conversas entre a Matisa e a Vale. A operadora da EFVM havia sondado a fabricante sobre o interesse de entregar uma proposta para operar e manter a renovadora. Bruno Bonella, diretor da filial Brasil da Matisa, diz que aceitou a proposta – o que já seria um desafio para empresa, uma vez que sua expertise no mercado é na fabricação e manutenção de equipamentos de via. Dias depois, a Vale voltou com outra proposta: a de o contrato contemplar também a organização da parte logística de materiais e o serviço de remodelação e das obras na via.
Os contratos recentes assinados pela EFVM com fornecedores indicam que a operadora tem direcionado seus esforços na terceirização de alguns serviços de manutenção de via. Em fevereiro deste ano, a EFVM fechou acordo de cinco anos com a Pelicano Construções para trabalhos de correção geométrica de via em toda a extensão da ferrovia. A construtora, que tem uma frota própria robusta de equipamentos de manutenção de via, vai disponibilizar quatro conjuntos de socadoras e reguladoras de lastro (Plasser & Theurer), que serão utilizados de forma exclusiva na EFVM. A operadora foi procurada pela reportagem, mas preferiu não comentar o assunto.
Formação do consórcio
No caso da Matisa, a ideia de firmar um acordo com a Prumo Engenharia, que já presta serviços há mais de dez anos para a Vale, surgiu ao longo das negociações. “Numa reflexão, resolvemos chamar a Prumo para propor, ao invés de uma subcontratação, a formação de um consórcio, seria 50% Matisa e 50% Prumo. Dessa forma, toda a demanda que a Vale nos solicitou ficaria sob o guarda-chuva de uma só empresa, no caso a Prumat”, explica Bonella, sobre o surgimento do consórcio, deixando claro que as conversas começaram depois que a Vale iniciou a licitação do serviço.
O diferencial de todo o processo vai desde o fato de as empresas já terem um relacionamento de longa data com a Vale, passando pelo ineditismo da proposta até outras oportunidades que poderão surgir no futuro, diz o diretor da Matisa. Quatro das 13 máquinas da fabricante no Brasil estão em operação na Vale atualmente, seja na Estrada Ferro Carajás, seja na EFVM. Essa relevância acabou, inclusive, ajudando a definir a sede da filial Matisa no Brasil, em Serra, no Espírito Santo.
“Temos um relacionamento duradouro que vem sendo construído com a Vale há mais de 10 anos. É uma relação muito próxima, tanto para o pós-venda e a assistência técnica, quanto para ser presente, atendendo a demandas variadas. Estamos sempre atuando para Vale ou dentro da Vale.”
Já a Prumo Engenharia presta serviços para a Vale desde 2009, mesmo que não continuamente. Atualmente, são 11 equipes espalhadas na EFVM. A diferença do trabalho que já vinha sendo executado na ferrovia para esse acordo com a Matisa é justamente a parceria no processo de operação e manutenção do equipamento. “A P190 é uma renovadora que nenhuma empreiteira tem no Brasil, só as concessionárias. Ter a oportunidade de operar e manter um equipamento deste é muito importante para ganharmos este know-how”, observa o diretor executivo da Prumo Engenharia, Endrigo Lucas, que destaca o conhecimento da construtora sobre a ferrovia.
“Temos uma estrutura montada, conhecemos os quatro cantos da EFVM. Isso trouxe um know-how para o consórcio também. Entramos com a operação e a Matisa com o conhecimento do equipamento”.
Oportunidades à vista
Bonella e Lucas enxergam o novo contrato com a Vale como uma prévia para oportunidades futuras, que envolvem um modelo mais sofisticado de contratação, conhecido como full service. Os dois observam que esse modelo é uma tendência no mercado. O contrato do Prumat não pode ser considerado um full service porque o equipamento é de propriedade da Vale.
Até o momento, apenas a Rumo contempla esse tipo de contrato no portfólio entre as concessionárias de carga. No ano passado, a operadora assinou com a Loram do Brasil para que, nos próximos 15 anos, a fabricante de equipamentos de manutenção de via faça o esmerilhamento de trilhos na bitola larga da ferrovia (malhas Norte e Paulista). O contrato envolve a disponibilidade de uma esmerilhadora de trilhos pela Loram, que também ficará responsável pela operação e manutenção da máquina.
“O consórcio Prumat não é exatamente um full service, mas é um passo para isso. Esse projeto nosso vai ser um grande laboratório para amadurecermos mais as relações e caminhar, sim, para um full service,” diz Lucas. Ele também esclarece que essas expectativas futuras estão longe de serem discutidas no momento, já que vislumbram metas imediatas relacionadas ao contrato que acabou de ser assinado com a EFVM.
Daqui para frente, a Prumo pretende aproveitar boas práticas e ferramentas que já estão sendo utilizadas em projetos de inovação que impactam a rotina de trabalho das equipes em campo. Por exemplo, internamente é desenvolvido aplicativos de registro de ponto. “Vamos trazer para o consórcio um processo 100% mecanizado, um diferencial para prezar pela segurança do trabalho e cuidar das pessoas, diminuindo o desgaste físico e o risco de acidentes”, acrescenta Lucas.
Bonella também fala sobre o diferencial da renovadora P190. “Conseguimos de forma automática assentar e recolher os dormentes da via. Tudo no espaçamento programado. Além de tudo isso, é um processo que acaba sendo produtivo, seguro, e que entrega uma linha perfeita e confiável”, explica.
Mas os fluxos de trabalho no dia a dia também têm seus desafios. “A gente fecha uma das linhas da ferrovia e ela fica inoperante. Temos um tempo para trabalhar ali e fazer toda a renovação. Então, o desafio é ter a disponibilidade do equipamento e a operacionalidade no campo para poder executar o planejado. Precisamos liberar a ferrovia o quanto antes, porque a disponibilidade dela tem um valor imensurável para o cliente”, esclarece Lucas, enaltecendo a parceria com a Matisa. “A Prumo está muito satisfeita e enxerga muitos frutos para colher ainda. O principal é ter a máquina trabalhando o tempo todo, um equipamento de alto valor agregado e garantir a produtividade que a Vale precisa”.
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