A indústria fala

Da esq. para dir.: Sandro Trentin, da Randon, Eduardo Scolari, da Greenbrier Maxion, e Bianca Rocha, da Revista Ferroviária
Da esq. para dir.: Sandro Trentin, da Randon, Eduardo Scolari, da Greenbrier Maxion, e Bianca Rocha, da Revista Ferroviária

RF lança o Pod nos Trilhos; Greenbrier Maxion e Randon são as convidadas de estreia

A Revista Ferroviária lançou um novo canal de comunicação com o setor. É o videocast Pod nos Trilhos, plataforma de entrevistas com personalidades relevantes da ferrovia, para uma conversa desenvolta e informativa sobre esse mercado no Brasil. Trata-se do primeiro videocast no país vinculado a uma mídia jornalística oficial e voltado exclusivamente para o setor ferroviário.

No episódio-piloto, a editora da RF, Bianca Rocha, bateu um papo com o CEO da Greenbrier Maxion, Eduardo Scolari, e o diretor superintendente da Randon, Sandro Trentin. No roteiro, assuntos que vêm permeando o dia a dia nas fábricas: o difícil momento de baixa nas encomendas e como isso tem afetado também a cadeia fornecedora de peças e componentes, a necessidade de novos projetos de ferrovia, de fato, saírem do papel e a resiliência da indústria que, a despeito das dificuldades, continua investindo em tecnologia e novos produtos, segundo os executivos. O episódio está disponível nos canais da RF no YouTube e no Spotify.

Os baixos volumes de produção têm se refletido numa rotina de ociosidade nas fábricas. Atualmente, as plantas da Greenbrier Maxion, em Hortolândia, e da Randon, em Araraquara, ambas em São Paulo, estão produzindo, em média, apenas 10% de suas capacidades instaladas, que é de 12 mil vagões (somando as duas). Scolari estima que a demanda de 3 mil a 4 mil vagões/ano é a mínima necessária para manter as máquinas de produção funcionando, a sustentabilidade da cadeia de fornecedores e os investimentos em inovação de produto, necessários à melhor produtividade das ferrovias. Mais do que crescimento na demanda, a indústria precisa de previsibilidade de encomendas, concordaram Scolari e Trentin.

Os dois executivos chamaram atenção para a dificuldade de pequenos e médios empresários manterem a produção de componentes usados na montagem do vagão. A preocupação fica maior quando se vislumbra o aumento de produção que será necessária quando (e se) os novos projetos de ferrovia começarem a se tornar realidade. Sem o fornecimento da parte de peças, haverá um gargalo nas entregas difícil de mensurar, disseram os executivos. Segundo Scolari e Trentin, já existem problemas com a entrega de alguns componentes. Na conversa, eles detalharam o que vem acontecendo.

Novo plano

Os executivos opinaram sobre como seria possível melhorar a situação. Segundo eles, a solução precisaria passar não só pelos interesses da indústria, mas também das concessionárias e do governo. Scolari citou como exemplo a Frota Verde Ferroviária. Trata-se de um programa instituído pela Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), mas que ainda requer regulação. A iniciativa propõe o uso de parte da outorga variável, adotada nos contratos de renovação, para a compra de material rodante (vagões e locomotivas) mais sustentável pelas ferrovias.

A condição da frota atual foi outro ponto abordado pelos executivos. Dos 132 mil vagões em operação atualmente nas ferrovias, metade tem mais de 30 anos e 14 mil deles já passaram dos 50 anos, operando com baixa produtividade. “A indústria não é insensível ao montante de dinheiro que se tem que aplicar para fazer uma renovação de frota. A nosso ver, isso tem que ser estudado, de novo, com a participação essencialmente das concessionárias, do governo, da indústria para se achar um equilíbrio em que no final, todos ganham”, reforçou Scolari. Os assuntos relacionados à tecnologia e à engenharia dos vagões logo dominou a conversa. Tanto Scolari como Trentin falaram sobre as mais recentes inovações que aplicaram nos produtos e nas fábricas, e como isso vem elevando a eficiência, a segurança e a sustentabilidade nas ferrovias.

Clientes finais

Os executivos citaram os modelos de vagões mais demandados pelas ferrovias atualmente e sobre aqueles que ainda devem gerar mais interesse nos próximos anos. Outro ponto abordado foi o crescimento das encomendas vindas de usuários finais da ferrovia. Os executivos detalharam como esse mercado tem estimulado a indústria.

“A nossa proposta é que seja muito mais que um plano (de encomendas). Seja um acordo entre concessionárias, governo, fabricantes e fornecedores em geral da indústria.”

Sandro Trentin, diretor superintendente da Randon

A Abifer, por exemplo, começou a trabalhar em formas de incentivo a esse tipo de demanda. Scolari falou ainda dos vagões hopper, hoje mais demandados, e explicou as características do gôndola. “O uso contínuo e a abrasão que a caixa sofre na carga e na descarga do minério é muito grande. É preciso fazer a reposição contínua disso. Com serviços ou vagão novo, a demanda do gôndola é quase que contínua”, disse, ressaltando também que existe espaço para carga geral. Embora ainda seja tímida, é uma demanda que irá crescer através da intermodalidade, segundo ele.

“Estamos aguardando o crescimento da demanda. Tivemos um 2022 bastante tímido, e 2023 também será. Será um ano ponte, porque a expectativa para 2024 e 2025 nos parece bem mais promissora.”

Eduardo Scolari, CEO da Greenbrier Maxion

Toda a inovação da indústria tem por trás o trabalho de uma equipe de engenheiros valiosos e que não se encontra em qualquer esquina. Para os executivos, essa é outra questão impactada pelo momento de queda nas encomendas: o desafio de manter motivado um quadro extremamente técnico e voltado para o conhecimento ferroviário. “Temos que proteger esse know-how. Essa luta está acima das empresas, ela precisa ser uma luta de país, sabe? Precisa ser uma luta maior. De cadeia produtiva, de negócio ferroviário, num sentido amplo”, pontuou Trentin.

Pod nos Trilhos
Acesse aqui o primeiro episódio do videocast Pod nos Trilhos.

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