A Vale e a Wabtec Corporation fecharam um acordo que inclui a encomenda de três locomotivas a bateria FLXdrive e o desenvolvimento de estudos de um motor movido a amônia em substituição ao diesel. As três locomotivas serão operadas na Estrada de Ferro Carajás (EFC) e fabricadas na unidade de Contagem (MG), com previsão de entrega em 2026.
Na EFC circulam atualmente trens com 330 vagões e que transportam 45 mil toneladas de minério de ferro. A composição é puxada por três ou quatro locomotivas movidas a diesel. A ideia, segundo a Vale, é formar um modelo híbrido de transporte, acoplando as três locomotivas elétricas ao atual tipo de composição, principalmente em um trecho de aclive de cerca de 140 quilômetros, em Açailândia (MA), onde o consumo de combustível é mais elevado. Dois equipamentos a diesel, conhecidos como “helper dinâmicos”, são anexados ao trem para ajudar a vencer essa rampa.
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“Inicialmente, estamos maximizando a eficiência energética, substituindo as locomotivas a diesel do helper dinâmico por elétricas, mas a ideia é que, no futuro, as outras locomotivas do trem possam ser abastecidas por amônia. Assim, teríamos uma operação limpa na EFC”, explica a diretora de Energia da Vale, Ludmila Nascimento, que acrescenta: “Esse acordo é o primeiro de outros que estamos buscando para acelerar a descarbonização da nossa operação ferroviária”. A malha ferroviária da Vale representa 10% das emissões de carbono da empresa, que já anunciou a meta de ser tornar carbono zero em 2050.
Motor a amônia
A Vale e a Wabtec estão avaliando o desenvolvimento de um motor a amônia, que não emite CO2. Os estudos serão realizados, inicialmente, em laboratório para validar o desempenho, a redução de emissões e a viabilidade. Entre as vantagens da amônia está o fato de que ela permite uma autonomia da locomotiva superior a outros combustíveis que também não emitem carbono, segundo a Wabtec. Além disso, a amônia apresenta uma classificação de alta octanagem e uma infraestrutura de distribuição em larga escala já estabelecida, complementou a fabricante em nota.
Já as baterias das locomotivas utilizarão tecnologia e um sistema de Energy Management que permitirão recarregá-las a partir da frenagem do trem. “É o que chamamos de energia regenerativa produzida por frenagem dinâmica. Hoje, essa energia se perde no processo. Nos trechos de descida, em especial, vamos poder recarregar as baterias, sem precisar parar a operação do trem”, explica Alexandre Silva, gerente do Programa Powershift, criado pela Vale para estudar tecnologias alternativas para substituir combustíveis fósseis por fontes limpas nas operações da empresa.
Com a tecnologia, a estimativa é de uma economia de 25 milhões de litros de diesel por ano, considerando o consumo de todas as composições que utilizam o helper dinâmico, de acordo com a Vale. Cerca de 63 mil toneladas de carbono deixariam de ser emitidas, o equivalente ao consumo de aproximadamente 14 mil carros de passeio de mil cilindradas por ano.
Descarbonização da ferrovia
Para Danilo Miyasato, presidente e gerente-geral da Wabtec para a América Latina, os avanços tecnológicos em energia de bateria e combustíveis alternativos estão acelerando a jornada de descarbonização das ferrovias. “A abordagem inovadora da Vale na adoção de combustíveis alternativos para suas locomotivas beneficiará seus clientes, acionistas e comunidades. A FLXdrive fornece à Vale produtividade, segurança, economia de combustível e a redução de emissões para operar sua rede ferroviária”, completa o executivo.
Em 2020, a Vale anunciou investimento entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões para reduzir suas emissões diretas e indiretas (escopos 1 e 2) em 33% até 2030. Segundo a mineradora, foi mais um passo para atingir o objetivo de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, em linha com a ambição do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC até o fim do século. A empresa também assumiu o compromisso de reduzir em 15% suas emissões líquidas de sua cadeia de valor (escopo) 3 até 2035.
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