Transnordestina, um ícone brasileiro

Pipeline – Valor Econômico – O governo federal divulgou hoje as obras do Novo PAC, que pode passar de R$ 1 trilhão em investimentos, somando capital público e privado. Não passa batido o nome de alguns projetos que transcendem mandatos: lá está ela, a Transnordestina, uma das representações brasileiras da desorganização no planejamento e orçamento público, imperfeições nas associações com iniciativa privada e falta de pulso do regulador.

Desde a concepção do projeto, em vias da maioridade já que foi lançado há 17 anos, está prevista a bifurcação em Salgueiro, Pernambuco, para conexão com o Porto de Suape, no mesmo estado, e com o Porto de Pecém, no Ceará. O Novo PAC prevê a construção deste trecho que dá escoamento por Suape e que foi devolvido pela concessionária comandada pela CSN no ano passado. A concessionária segue com a conexão até Pecém, estimada para ser concluída daqui a sete anos, quando completar 23 anos do início das obras.

Com mais de R$ 10 bilhões de investimentos e pouco mais da metade da construção feita, trechos com trilhos inutilizados da Transnordestina chegaram a servir de palco por anos para a chamada Locomotiva Forrozeira, uma atração de folia fora de época no Nordeste, enquanto a CSN debatia desapropriações e financiamentos públicos e deixava as obras paradas. Em embate com a ANTT por descumprimento de obrigações e prazos, a empresa quase perdeu a concessão, mas conseguiu repactuar o contrato no ano passado.

Para dar conta do restante, devolveu o trecho em Pernambuco. Apesar de ser a controladora da concessionária, a CSN tem o governo como sócio minoritário e um compromisso de financiamento por parte dos bancos públicos, dado que o projeto é considerado de interesse nacional. Por isso mesmo, a ferrovia sempre fez parte do jogo político entre governadores e Brasília.

Além disso, o projeto concedido pelo governo se mostrou inviável economicamente. Assim, enquanto o governo reclamava da CSN pelos atrasos, a CSN reclamava do governo empacando o financiamento e não cumprindo o aporte proporcional de acionista. Obra parada é dinheiro sendo desperdiçado, não só por depreciação do ativo mas porque vai levar mais tempo a gerar receita, observa um executivo de infraestrutura. Agora, outro concessionário deve ser responsável pelo trecho até Suape.

Mesmo antes de ser concluída, a Transnordestina já é um ícone brasileiro – pelos motivos errados. O Novo PAC pode ajudar a mudar a razão de sua fama.

Fonte: https://pipelinevalor.globo.com/negocios/noticia/transnordestina-um-icone-brasileiro.ghtml

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