Prumo Engenharia completa 45 anos, mantendo investimentos na melhoria dos serviços para as ferrovias
Na antiga estação ferroviária de Formiga, cidade mineira com pouco mais de 60 mil habitantes, funciona a sede da Prumo Engenharia. O espaço foi comprado pelo fundador da empresa, Osmar Lourenço Vaz, num leilão de ativos da RFFSA, no início dos anos 2000, logo após a privatização das ferrovias. O fato é emblemático porque foi nessa época também que os negócios da Prumo começaram a convergir intensamente para o setor ferroviário, a ponto deste mercado representar hoje mais de 90% de seu faturamento. A companhia, que completa 45 anos de atuação em 2023, tornou- -se desde então uma gigante na ferrovia: seus mais de 3,2 mil funcionários e uma frota própria relevante de máquinas de via estão espalhados de Norte a Sul do país, para a execução de serviços de infraestrutura e superestrutura nos trilhos das principais operadoras de carga e de passageiros.
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Em quatro décadas e meia, não faltam histórias que ajudam a explicar a longevidade da empresa. Uma trajetória que foi construída “com pedra em cima de tijolo”, expressão usada pelo próprio Osmar Vaz para dizer que o foco sempre esteve no crescimento sustentável, com o pé no chão. Ensinamento, segundo ele, transmitido com firmeza para seus três filhos, que hoje são acionistas da empresa.
Dois deles trabalham diretamente na gestão: Fernando Vaz, que assim como o pai se formou em engenharia civil, e assumiu a presidência em 2013, e Carolina Vaz, advogada, que está à frente da área jurídica da companhia.
A caçula Raquel Vaz é médica e membra convidada mensalmente para as reuniões do conselho de administração da Prumo, do qual Osmar ainda é integrante.
A chegada dos filhos trouxe algumas mudanças para a empresa. A começar pelos investimentos na mecanização da operação.
A Prumo hoje conta com mais de 70 máquinas de manutenção de via de grande porte, entre conjuntos de socadoras e reguladoras, retroescavadeiras, carregadeira ferroviária e motoniveladora, além de mais de 4.200 equipamentos de pequeno porte como tirefonadora, esmerilhadeira de AMV, trocadora de dormente hidráulica etc. Com uma frota quadriplicada nos últimos dez anos, a companhia conseguiu reduzir pela metade o número de funcionários por equipe em campo.
“Colocamos muitos equipamentos para ajudá-los a fazer as atividades. Isso tornou-se um grande diferencial tanto para nós quanto para os clientes”, afirma Fernando.
Transparência
Outra prioridade de gestão assumida por ele foi a transparência e o compartilhamento de informações.
As equipes dispõem de ferramentas para capturar e fazer o cruzamento de dados que vão desde indicadores de produtividade e eficiência operacional até questões relacionadas às características das linhas e cláusulas financeiras dos contratos. “Esse processo traz diversos benefícios, entre eles, o maior entendimento da Prumo e também do cliente do que está acontecendo em campo. Se há uma dificuldade, é possível entendê-la. Se um processo vem dando certo, temos como replicá-lo. Isso acaba gerando mais credibilidade e confiança junto ao cliente, e a possibilidade de expansão dos nossos serviços”, pontua.
As transformações pelas quais a empresa vem passando nos últimos anos se refletem na presença intensa da Prumo nos trilhos pelo país. Atualmente, são 30 contratos ativos, ou seja, três dezenas de obras de manutenção de via em diferentes trechos que podem ser de uma mesma ferrovia ou não. Em determinadas regiões, a companhia está presente há cerca de 15 anos, prestando serviços de superestrutura. “Quando nos instalamos em algum lugar, tentamos permanecer ali pelo maior tempo possível”, diz Fernando, atribuindo essa longevidade também ao fato de a companhia enxergar mais de perto as demandas dos clientes para além dos escopos dos trabalhos. A proatividade em propor outras soluções além do contrato é uma das iniciativas que tem sido colocada em prática nos últimos tempos.
“Entender as necessidades dos clientes, nos ajustar a elas e capturar essas oportunidades são diferenciais nesse mercado. Acredito que isso fez com que saíssemos da empresa que éramos para o patamar a que chegamos hoje. Fomos criando novas alternativas de atuação”, ressalta o presidente da companhia.
Esse ano, por exemplo, a Prumo firmou uma parceria inédita com a Matisa, para serviços de remodelação de 45 km de via na EFVM. Neste contrato, as empresas são responsáveis pelo comissionamento, manutenção e operação de uma renovadora modelo P190, produzida pela Matisa e de propriedade da Vale. Os trabalhos em campo tiveram início em abril. O acordo, segundo Fernando, deverá ser a porta de entrada para outros projetos similares que poderão surgir, uma vez que há uma tendência no setor para contratos nesse perfil. “Temos olhado essa oportunidade com muito carinho e nos juntado com bons parceiros”, acrescenta.
Reconhecimento
Internamente, as mudanças também caminharam para um modelo de gestão cada vez mais reconhecido. A Prumo Engenharia foi eleita pela Revista Exame, em 2019, como uma das 150 melhores empresas para se trabalhar no Brasil. Esse ano, conquistou o selo Great Place to Work e também o título de Melhor Construtora de Superestrutura de Via Permanente pelo Prêmio Revista Ferroviária, cuja escolha é feita pelos próprios clientes da ferrovia. O bom ambiente de trabalho tanto no escritório quanto nas obras resultou, inclusive, na melhoria dos índices de litigiosidade.
“Começamos a fazer um trabalho jurídico preventivo muito grande, focando nas causas dos problemas. Hoje temos um indicador muito pequeno na comparação com o que existe mercado, no qual há grande rotatividade de equipes operacionais”, conta Carolina Vaz.
Para os próximos cinco anos, a meta é dobrar o faturamento da empresa – número que os irmãos preferem não revelar. “É uma meta agressiva, mas é possível de ser feita de forma sustentável, exatamente como caminhamos até aqui”, argumenta Carolina. Fernando diz que esse patamar será alcançado, entre outras ações, com a diversificação das atividades da construtora. “Vamos abrir nosso leque para outras áreas da construção pesada, mas sempre estaremos perto da ferrovia”, garante.
Ousadia e visão na ferrovia
Após se formar em engenharia civil na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, Osmar Vaz voltou para a sua cidade natal, Formiga, para trabalhar na área de projetos e cálculos. Em 1978, nasceu o primeiro escritório da Prumo Engenharia, inicialmente focado na execução de obras civis, especialmente no segmento residencial/ imobiliário.
A oportunidade no setor ferroviário veio três anos depois, quando Osmar foi convidado por engenheiros da SR-2 da RFFSA a construir um muro de arrimo à beira da linha ferroviária que atravessava o município de Formiga. Hoje, o trecho é concessionado à Ferrovia Centro-Atlântica, operado pela VLI. Osmar tinha 30 anos quando deu início à obra, que foi entregue no prazo e dentro das especificações. “Os técnicos da RFFSA ficaram muito satisfeitos”, diz.
Pouco depois, apareceu outra demanda. Dessa vez na Serra do Tigre, em Campos Altos (MG), num trecho também sob responsabilidade à época da SR-2. O sucesso da experiência anterior foi determinante para que a empresa ganhasse a concorrência desta obra. “Caiu uma tromba d’água no local e foi preciso construir três muros de arrimo próximos à linha. Desloquei cerca de 200 homens para esse trabalho. Era uma obra urgente, pois os trens transportavam combustível por esse trecho até Brasília. Os militares ficaram com receio da interrupção do fornecimento na capital”, lembra.
A partir de então, o engenheiro conta que começou a ficar “famoso” por obras de arte e de infraestrutura na ferrovia. Não parou mais de fazer muros de arrimo e de contenção, canaleta, bueiros, limpezas de corte, entre outros sob demanda da RFFSA. O grande salto no setor, no entanto, aconteceu com as concessões das ferrovias de carga. Foi para FCA que a Prumo ofertou seu primeiro serviço de superestrutura de via. “Daí não paramos mais de crescer. Fomos a primeira empresa a fazer manutenção de superestrutura para a MRS quando assumiu a Malha Sudeste”.
Compra de máquinas
As boas perspectivas no mercado deram impulso para Osmar arriscar mais. No início os anos 2000, vendeu oito apartamentos para comprar uma pequena frota de máquinas de manutenção de via. Com a melhoria da eficiência em campo, novos contratos foram surgindo em todas as grandes ferrovias (MRS, Vale, VLI e Rumo). Em 2013, Osmar passou o bastão da liderança para o filho Fernando Vaz. Antes disso, levou a família para o Programa de Desenvolvimento de Acionistas (PDA), da Fundação Dom Cabral. Durante um ano e meio, seus três filhos e esposa se reuniram com o objetivo de se prepararem para a transição. Nessa época também contratou uma consultoria para montar uma estrutura administrativa condizente com o crescimento da empresa. Hoje integrante do Conselho de Administração da Prumo, Osmar olha para trás com satisfação: “Comecei do zero. A empresa cresceu investindo no conhecimento, com coragem e muito trabalho. Costumo dizer que nada resiste a 10 horas de trabalho”, conclui.
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