Indústria faz cálculos para o longo prazo

Valor Econômico – Como o país vai estar em 2050? A resposta parece um salto por cima da imprevisibilidade, mas esse foi o alvo do cálculo que a Confederação Nacional da Indústria (CNI) levou em consideração para apresentar na COP28 o ano em que a indústria brasileira estaria descarbonizada, ao custo de R$ 40 bilhões. O país precisava de uma meta e custo dessa natureza, uma vez que os Estados Unidos e União Europeia já têm, como um guia de esforços e investimentos de uma transição para uma economia de baixo carbono no setor industrial.

“O estudo vai servir para os setores mais energointensivos planejarem seus projetos, com indicações desde a parte de eficiência energética, passando pela troca de combustíveis poluentes por renováveis, uso de novas tecnologias para reduzir cada vez mais as emissões de carbono, trabalhar processos dentro de uma planta industrial”, diz Davi Bomtempo, gerente executivo de meio ambiente e sustentabilidade da CNI.

O passo seguinte dos esforços da instituição será viabilizar financiamentos. “É um tema transversal, que toca várias agendas quando se fala de economia de baixo carbono. Mas o mais importante é acessar uma linha de financiamento mais competitiva, baseada em recursos que podem ser reembolsáveis ou não-reembolsáveis, para haver atratividade para essas empresas fazerem essa transição.”

Segundo a CNI, o fluxo de capital internacional direcionado para ações climáticas, pinga a conta gotas no Brasil. “Entendemos que é preciso criar bons projetos, para avaliação do outro lado da mesa, e que se estabeleça garantias coletivas. Quando falamos de micro e pequenas empresas, esse é um cluster importante, já que elas estão preocupados com a sobrevivência financeira, o fluxo de caixa”, afirma o executivo da CNI.

Por parte de grandes empresas, inúmeros projetos de sustentabilidade já estão em andamento – alguns com possibilidade de alcançar a meta de 2050. As maiores dificuldades estão com os chamados setores hard-to-abate, como siderurgia, cimento, petróleo, transporte de cargas, em que há dificuldade em reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE) com as tecnologias disponíveis atualmente.

“O mais importante é acessar uma linha de financiamento mais competitiva”
— Davi Bomtempo

“A transição para tecnologias de baixo carbono nesses setores possui alto Capex e muitas vezes não tem viabilidade financeira, deixando mais caro o produto final”, diz Fernando Henriques Salina, gerente de descarbonização da CSN. “No entanto, existem ações de curto prazo, principalmente as que trazem eficiência operacional e que normalmente possuem viabilidade financeira. Esse será o foco da CSN nos próximos anos, em especial na siderurgia”, afirma.

A CNI faz sugestões para a descarbonização do setor de cimento, como queima melhorada usando mineralizadores, otimização de controle e processos e geração de eletricidade a partir de recuperação de calor. “São soluções essenciais, mas não resolverão 100% do desafio de descarbonização do setor, cuja maior fonte de emissão vem das reações de calcinação para produzir o clínquer, imprescindível para o cimento – 67% das emissões diretas da empresa estão associadas a isso”, diz. A empresa foi, segundo Salina, pioneira no Brasil ao adotar o hidrogênio verde nos fornos para aprimorar o o processo de combustão”.

A Suzano, gigante mundial na produção de celulose, vem utilizando a biomassa há algumas décadas. “Somos uma das empresas com menor pegada de carbono por tonelada de produto do setor, segundo a plataforma Transition Pathway Initiative”, explica Fernando Bertolucci, diretor executivo de tecnologia, inovação e sustentabilidade da Suzano.

A biomassa é usada para a produção de energia renovável, o que representa quase 90% do consumo de energia da empresa. “Nosso compromisso na jornada de descarbonização é reduzir em 15% por tonelada de produção até 2030 nos escopos 1 e 2”, diz Bertolucci sobre as classificações das emissões, diretas e de uso de energia, respectivamente. Um dos investimentos anunciados pela Suzano é o de R$ 520 milhões na substituição de uma caldeira de biomassa na unidade Aracruz (ES).

Esse setor está intrinsecamente vinculado à natureza, sustentabilidade e gestão florestal e qualquer expansão em uso de área pode ser vista de maneira negativa. “Entendemos que o processo de descarbonização da economia não deve ser analisado sob a ótica de ganhadores ou perdedores, mas sim como um compromisso dessa geração em relação às próximas. Em 2022, realizamos o maior programa de plantio florestal de nossa história, com 265 mil hectares de manejo sustentável, favorecendo a conservação do solo, das águas e da biodiversidade que habita essas áreas”, conta Bertolucci.

A Basf, empresa química global líder na área, está convencida de que em seu setor a eletrificação dos processos de produção é uma das ações-chave para se alcançar de forma sustentável os objetivos climáticos a longo prazo. Cristiana Brito, diretora de relações institucionais e sustentabilidade da Basf para América do Sul e presidente do conselho curador da Fundação Eco+, diz: “A produção química requer uma grande quantidade de energia e nossa missão é reduzir continuamente as emissões de GEE de nossas fábricas. Queremos acelerar a transição de uma economia linear para uma circular. Globalmente, temos como meta a redução de 25% das emissões até 2030 (base 2018) e alcançar a neutralidade líquida até 2050. O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e grande potencial de ser referência em oferta de energia limpa”.

Uma das principais chaves para a descarbonização, segundo a CNI, é o mercado de carbono, um sistema de compensações de emissões de gás estufa. Ainda não regulado, esse mercado é fundamental para que qualquer meta seja alcançada nas próximas décadas.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/cop28/noticia/2023/12/19/industria-faz-calculos-para-o-longo-prazo.ghtml

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