Representantes da MRS, Rumo e VLI conhecem de perto o portfólio chinês na ferrovia, em viagem organizada pela Comexport
Impossível pensar na China sem associá- la a uma gama de superlativos. Principal parceiro comercial do Brasil, maior produtor de aço do mundo e o país que mais investiu em ferrovia nos últimos 20 anos são alguns deles. Conhecer isso de perto – principalmente no que tange à pujante indústria ferroviária chinesa – foi a missão organizada pela Comexport com representantes das áreas de Suprimentos e de Engenharia da MRS, Rumo e VLI entre o final de outubro e início de novembro.
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A excursão contou com um grupo de 14 pessoas, que em 15 dias percorreram 14 cidades do país asiático, para visitarem dezenas de fábricas, operadores, fornecedores e oficinas de manutenção. O resultado foi uma imersão não só profissional, mas também cultural, que culminou em quebras de paradigmas, discussões técnicas e novas possibilidades de sinergia.
A ideia da viagem à China surgiu após debates e questionamentos do grupo, com o objetivo de trocar experiências, expertises, desafios e soluções entre as áreas de Suprimentos e de Engenharias das ferrovias. Essa troca é bem-vinda porque as concessionárias hoje trabalham com diferentes especificações de produtos, que embora sigam normas legais de certificação, são customizadas para atender particularidades de cada ferrovia, como perfil de via e carga transportada. Discussões sobre possíveis padronizações técnicas de peças e componentes, tanto de linha quanto de material rodante, acabam sendo vantajosas por gerarem ganhos na escala produtiva e reduções de custos e de prazos de entregas com fornecedores locais e internacionais.
A diversidade também se estende ao vínculo de cada ferrovia com fornecedores chineses. Enquanto na VLI essa questão está mais avançada, uma vez que a empresa dispõe de um escritório no país asiático desde 2018, na Rumo e MRS essa relação ainda engatinha. A Comexport vem auxiliando as operadoras nessa aproximação – a empresa, que é a maior trading de importação do Brasil, atua em diversos setores, incluindo o ferroviário, e tem escritório na China desde a década de 1980. “Essa viagem gerou muitos frutos, desde a percepção de uma realidade que muitos não imaginavam em termos de qualidade, tecnologia e robotização da produção, que são impressionantes, até os debates técnicos para questões simples de especificações, que dependiam apenas de tempo para sentar e conversar. Isso tivemos bastante nessa incursão à China”, afirma Roberto Meira, diretor Comercial da Comexport no Brasil.
Busca de soluções
O gerente geral de Suprimentos da MRS, Danio Soccol, fez parte da comitiva e se diz impressionado com o que viu. “Foi um choque de realidade frente à visão que tínhamos. Nos deparamos com um mercado competitivo, com rigoroso controle de qualidade de matérias-primas, certificações internacionais e laboratórios de ponta”, ressalta, explicando o motivo pelo qual entende ser necessário expandir relações com fornecedores mundo afora. “Estamos buscando soluções para aquilo que não conseguimos obter em condições adequadas localmente, em termos de qualidade ou capacidade fabril”.
Soccol diz que é preciso se preparar para os investimentos previstos nos próximos anos, relacionados às obras e melhorias na via firmadas com a renovação do contrato de concessão da MRS. Uma das ideias é buscar alternativas para os itens que já dependem de fornecimento internacional, a exemplo de trilhos e rodas forjadas para locomotivas e vagões. Materiais de fixação e aparelhos de mudança de via também estão no radar. “Num segundo momento, poderemos partir para produtos com tecnologias mais avançadas, como placas microprocessadas, máquinas de chaves e cancelas automáticas. Notamos um mar de oportunidades”, revela Soccol.
Essa visão é compartilhada pelo gerente de Suprimentos Via Permanente da Rumo, Evaldo Filho, que também esteve na China. A operadora nunca firmou contrato com fornecedor chinês, mas estuda abrir essa janela de prospecção, principalmente para trilhos e elementos de fixação. Ele chama atenção, no entanto, para as diversas variáveis que envolvem a importação de produtos, desde questões tributárias até o pós-venda e capacidade de atendimento de suporte no Brasil. “Iniciamos uma excursão exploratória para entender até onde dá para ir e começar o trabalho de cotações, identificação de oportunidades e padronização de especificações. Vimos que os produtos chineses têm certificação internacional, atendem na qualidade e no preço, mas só isso não garante contrato de fornecimento”, aponta o gerente.
Depois da excursão à China, a área de Suprimentos da Rumo iniciou um fórum técnico interno semanal para discussões de pontos que foram tratados durante a viagem. O objetivo é evoluir em termos de aplicação de testes, pilotos e previsão de custos, inicialmente em itens de menor risco, como elementos de via. “Em janeiro de 2024 deveremos ter outro encontro com as operadoras e a Comexport, onde vamos poder discutir com mais maturidade as nossas visões de mercado e intensificar nossos debates técnicos”, conclui Evaldo.
Proximidade
O gerente geral de Supply Chain da VLI, André Cannavale, lembra que a companhia já trabalha com fornecedores chineses há algum tempo, seja com compras diretas ou indiretas (por meio de empresas locais que recorrem a componentes da China para entrega do produto final).
“Nosso escritório foi implantado na China com a finalidade de promover a aproximação com os fornecedores do país, o que engloba proximidade cultural, de língua e fuso. Entendemos que este seja um passo importante para o amadurecimento das nossas relações com eles, dadas as características de negócios das empresas chinesas”, pontua.
Cannavale, que esteve também pela primeira vez na China, diz ter identificado oportunidades para testes de produtos em várias frentes, como material rodante, materiais de via e operação portuária. “Nosso investimentos recentes e históricos mostram que temos compromisso com a indústria brasileira, mas é sempre importante e interessante manter um olhar para as oportunidades do mercado global”.
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