Valor Econômico – A barreira dos US$ 104 bilhões em exportações do Brasil para a China foi ultrapassada em 2023. Esse é o maior valor exportado pelo Brasil para um só país na história, apontou o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), em webinar promovido para discutir o futuro da relação comercial entre os dois países.
Durante o debate promovido com representantes de Vale, CNA e ApexBrasil, o presidente do CEBC, Luiz Augusto de Castro Neves, apontou que a China não só é o maior parceiro comercial do Brasil, mas o maior investidor em termos de fluxo.
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“O dado coloca a China como o principal parceiro comercial do Brasil”, disse. Durante a abertura do webinar nesta terça-feira (5), Neves apontou para a relevância do mercado chinês para o Brasil, mesmo com as tensões geopolíticas mundiais, e ressaltou que o quarto recorde seguido em exportações acontece em um momento importante para os dois países.
“Nesse ambiente de instabilidade nos últimos anos em relações internacionais, chama atenção a relação sino-brasileira, que tem sido marcada por uma certa continuidade na expansão dessas relações”, revela.
Vale
O Brasil exportou 388 milhões de toneladas de minério de ferro em 2023 para o mundo, 64% desse volume para a China, o que representa 242 milhões de toneladas, dos quais a Vale responde por 76%, segundo o líder de relações externas da Vale, Gustavo Biscassi.
“A gente acredita que a economia e a demanda de aço vão se manter resilientes com números elevados e fundamentos sólidos. Para 2024, com a retomada da indústria e os investimentos de infraestrutura na China, eles devem manter a demanda por minério de ferro em um nível muito parecido com 2023, talvez mais alto”, disse o representante da Vale durante debate promovido pelo CEBC.
Biscassi apontou para a relevância do mercado imobiliário para a China, que pode ter uma flexibilização maior na compra de imóveis nos próximos anos.
“O governo chinês vem trabalhando em algumas coisas. Hoje, já tem uma flexibilização para se comprar mais de um imóvel. Antigamente, não podia. Os valores de imóveis na China vêm sofrendo uma queda”, explica. A taxa de urbanização na China está entre 65 e 66%, o governo acredita que isso pode chegar até 80%. Outra coisa que a gente vê é sobre a modernização da indústria, outros setores ligados a carros, máquinas, locomotivas, máquinas pesadas vêm aumentando essa demanda por aço na China.”
A descarbonização é pauta central na política chinesa, que pretende até 2030 atingir o pico de industrialização e em 2060 neutralizar essa produção, o que “requer muitos investimentos de infraestrutura, onde aço é necessário para isso”, diz Biscassi.
“Hoje, a China continua passando por um processo de aceleração da criação de uma indústria que está sendo impulsionada pela inovação baseada na economia de baixo carbono”, completa.
Agro
A diversificação de pauta para pensar o futuro do agro na relação comercial com a China será fundamental, diz a diretora de relações internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Suemi Mori.
Atualmente, o Brasil exporta três principais commodities: petróleo, soja e minério de ferro. “A gente tem que trabalhar na diversificação de pauta e na manutenção do que a gente já manda, mas temos condições de mandar muito mais”, diz. Dos US$ 60 bilhões exportados do Brasil para a China, Mori destaca que US$ 39 bilhões foram só em soja em grãos, ou seja, 65% da pauta agrícola. A gente produz muito mais, não só aquilo que a gente vende. Temos uma dependência, mas a China também tem uma dependência nossa – 61% da soja que a China comprou veio do Brasil. A China está tentando diversificar fornecedores e nós estamos tentando ampliar a pauta.”
Os produtos que vão auxiliar na diversificação estão ligados a proteínas animais. “Com relação à expectativa nos próximos anos, a previsão é que a importação de suíno tenha uma pequena elevação. De frango, há estabilização, mas no longo prazo tem uma queda de importação. O que terá um movimento diferente é a carne bovina, que pode ter crescimento de consumo e de importações”, descreve.
Para ela, ocupar espaços deixados por outros países com a China devido a conflitos geopolíticos também será importante. “Quem ocupou boa parte do espaço que os EUA deixou de exportar para a China foi o Brasil. Do ponto de vista geopolítico, as importações chinesas dos Estados Unidos agrícolas caíram muito de 2022 para 2023”, conclui.
Infraestrutura
O futuro da parceria entre Brasil e China passa por infraestrutura e combustível sustentável de aviação, disse o gerente geral em Ásia e Pacífico da ApexBrasil, Rodrigo Gedeon, no webinar. Ele destacou a importância da relação comercial sino-brasileira em 2023 e como esses dois setores podem influenciar novas parcerias.
“O primeiro seria na universalização do setor de infraestrutura, vide a negociação do trem de São Paulo para Campinas e o segundo setor que eu queria destacar seria o SAF, combustível sustentável para aviação”, diz.
Segundo o gerente da Apex, a corrente de comércio entre os dois países ficará estável nos próximos anos. A pauta do futuro também se concentra nas três grandes commodities: petróleo, soja e minério de ferro. “Os fatores geopolíticos favorecem e trazem a oportunidade de ser um grande parceiro”, diz.
Esse recorde de US$ 104 bilhões em exportações brasileiras para o mercado chinês no ano passado favorece o debate de que o foco para o Brasil é um plano de desenvolvimento socioeconômico bem estruturado que, conforme Gedeon, precisa ter como objetivo as exportações brasileiras para a China.
“Se o empresário brasileiro quiser ter uma relevância maior na China, precisa pensar em estratégias regionais. Aqui, muitas vezes, o negócio não precisa ser só um bom negócio, também é preciso que se estabeleça uma relação interpessoal, de confiança entre as partes”, conta.
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