Futuro da infraestrutura está em parcerias público-privadas, diz Fink, da BlackRock

Valor Econômico – O futuro da infraestrutura, um mercado avaliado em US$ 1 trilhão, estará cada vez mais nas parcerias público-privadas, diz Larry Fink, principal executivo (CEO) e presidente do conselho da BlackRock. Esse é um dos segmentos de maior crescimento e há algumas questões estruturais que impulsionam essa tendência, segundo o executivo, na sua carta anual aos investidores.

O enriquecimento da população de países em desenvolvimento tem aumentado a procura por tudo, de energia a transportes. E mesmo nas economias mais ricas, os governos precisam construir novas infraestruturas e reparar antigas. A administração de Joe Biden conseguiu aprovar, por exemplo, um programa de investimentos da ordem de US$ 2 trilhões.

“Como pagaremos por toda essa infraestrutura? A razão pela qual acredito que terá de ser alguma combinação de dólares públicos e privados é que o financiamento provavelmente não pode vir apenas do governo. A dívida é muito alta”, afirma Fink.

Se há três anos, taxa dos títulos do governo americano de dez anos estava em 1% ao ano, hoje esse prêmio está em 4%. Se esse nível se prolongar, representaria um adicional de US$ 1 trilhão em gastos com juros na próxima década pelo Tesouro dos EUA.

“Por que esta dívida é um problema agora? Porque, historicamente, a América pagou dívidas antigas emitindo novas sob a forma de títulos do Tesouro. É uma estratégia viável desde que as pessoas queiram comprar esses títulos – mas daqui para frente, os EUA não podem presumir que os investidores vão comprá-los em tal volume ou ao prêmio que pagam atualmente”, escreve Fink. Hoje, 30% dos papéis soberanos estão nas mãos de governos ou investidores estrangeiros.

Dentro das demandas da infraestrutura, a transição energética é uma grande tendência econômica que será impulsionada por países que representam 90% do PIB mundial. A energia eólica e a solar são consideradas as mais baratas em muitas localidades do que a gerada por combustíveis fósseis. A busca de fontes renováveis é também uma forma de enfrentar as mudanças climáticas, escreve Fink. Foi o que trouxe “um efeito cascata aos mercados, criando riscos e oportunidades para os investidores, incluindo os clientes da BlackRock.”

Fink lembra que começou a escrever sobre transição energética em 2020, com o tema se tornando mais controverso nos Estados Unidos.

Políticos republicanos nos Estados Unidos criticaram grandes bancos e gestoras de recursos por serem demasiadamente “woke” — o movimento pelo “despertar” da consciência racial e social e ambiental por ser hostil aos combustíveis fósseis.

Secretários das finanças de Estados republicanos colocaram grandes grupos financeiros, como BlackRock, Goldman Sachs, State Street e Wells Fargo, em suas listas de exclusão de investimento. Algumas assembleias estaduais, como as da Flórida, Kansas e Idaho, aprovaram leis que proíbem ou limitam a abordagem da responsabilidade ambiental, social e de governança, o ESG — sigla que a BlackRock deixou de usar em suas comunicações oficiais.

“Mas fora desse debate, muita coisa continua igual. As pessoas ainda estão investindo pesadamente na descarbonização. Na Europa, por exemplo, o carbono zero continua a ser uma prioridade de investimento para a maioria dos clientes da BlackRock”, afirma Fink, na sua carta. A invasão russa na Ucrânia acendeu um novo alerta sobre o tema da segurança energética, provocando inflação pela escassez.

Fink menciona ter visitado 17 países em 2023, tendo encontros com representantes de empresas do setor, operadores e primeiros-ministros. “A mensagem que ouvi foi completamente oposta à que se ouve frequentemente dos ativistas da extrema esquerda e da direita, que dizem que os países têm de escolher entre energias renováveis e petróleo e gás. Estes líderes acreditam que o mundo ainda precisa de ambos”, afirma. “Mesmo os mais conscientes do clima perceberam que o caminho a longo prazo para a descarbonização incluirá hidrocarbonetos, embora em menor quantidade, durante algum tempo.”

Mais uma vez, Fink diz que o mercado de capitais pode ser fundamental para se arbitrar o preço do “prêmio verde”, a sobretaxa que as pessoas estariam dispostas a pagar por iniciativas sustentáveis, ajudando as empresas de energia a reduzir o custo das suas inovações e expandi-las para outros mercados. O executivo citou investimentos feitos pela BlackRock no Sudeste Asiático e na África, além da parceria com a Temasek na Antora Energy para viabilizar baterias térmicas movidas à energia eólica ou solar.

A BlackRock fechou ainda acordo de US$ 12,5 bilhões para comprar a Global Infrastructure Partners (GIC), uma gestora de fundos de infraestrutura que opera empresas de energia, transportes e resíduos e água em todo o mundo.

“O mercado de energia não está dividido como algumas pessoas pensam, com uma forte divisão entre os produtores de petróleo e gás, de um lado, e as novas empresas de energia limpa e de tecnologia climática, do outro. Muitas empresas, como a Occidental, fazem as duas coisas, o que é uma das principais razões pelas quais a BlackRock nunca apoiou o desinvestimento em empresas de energia tradicionais. Elas são pioneiros da descarbonização.”

A BlackRock tem mais de US$ 300 bilhões investidos em companhias tradicionais de energia. Metade está nos EUA. “Investimos nessas empresas por uma razão simples: é o dinheiro dos nossos clientes”, diz Fink. Outros US$ 138 bilhões estão em estratégias de transição energética. “Isso faz parte de ser um gestor de recursos. Seguimos os mandatos dos nossos clientes.”

Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2024/03/26/futuro-da-infraestrutura-est-em-parcerias-pblico-privadas-diz-fink-da-blackrock.ghtml

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