O Tempo (MG) – O Metrô BH, formado pelo Grupo Comporte Participações, assumiu o modal belo-horizontino há um ano, com o desafio de melhorar a qualidade do serviço e, consequentemente, conter a queda de usuários, que vem ocorrendo ano após ano. De 2013 para 2022, a quantidade anual de passageiros transportados caiu 72% – de 64,9 milhões para 18,1 milhões, conforme relatórios públicos de gestão da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), responsável pela administração do sistema até aquele ano – os dados de 2023 não foram informados pela concessionária.
Entre os fatores que explicam a queda, a CBTU pontuou no documento de 2016 que a situação foi reflexo da “crise econômica pela qual passa o país, com grande número de cidadãos desempregados, e a concorrência predatória do BRT em Belo Horizonte, levando a uma perda de cerca de 3,3 milhões de passageiros naquele sistema”. O BRT (Bus Rapid Transit, que pode ser traduzido como “transporte rápido por ônibus”, chamado de “Move” em BH) foi inaugurado em 2015.
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Para Mauro Zilbovicius, professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica (Poli) da USP e coordenador do Laboratório de Estratégias Integradas da Indústria da Mobilidade (MobiLab), um fator que influenciou fortemente a queda foi o aumento do valor da tarifa, que passou de R$ 1,80 em 2019 para R$ 5,30 em julho de 2023, o que a faz a terceira mais cara do país, atrás de São Paulo e Brasília.
“A tarifa é um regulador da demanda. A tarifa mais alta significa perder passageiro, porque a população tem renda baixa, e isso não é só no Brasil”, disse. Segundo ele, a operação do metrô de Paris, por exemplo, é paga pela soma do que é arrecadado com a tarifa dos usuários, além do aporte do Tesouro francês (dinheiro público), e de uma contribuição do comércio, que é considerado um grande usuário do sistema.
Por isso, o professor de urbanismo Roberto Rolim Andrés, da Escola de Arquitetura da UFMG, defende um subsídio para que a tarifa diminua em BH. “Você só recupera esses usuários com subsídio público para reduzir a tarifa. Isso, infelizmente, não está na perspectiva da gestão atual do metrô”, avalia.
Procurado, o Metrô BH não comentou a queda dos usuários e se há um plano para diminuir o valor da tarifa. O governo de Minas e o Ministério das Cidades também não tinham respondido sobre o subsídio até o fechamento desta edição.
Atrasos e falta de diálogo
O Super andou de metrô para observar o serviço e ouvir os usuários. Em geral, o passageiro que mora e trabalha em região atendida pela Linha 1 gosta do modal, em comparação com o ônibus, pela agilidade e maior previsibilidade que esse tipo de transporte oferece. Mas duas reclamações se repetiram: a falta de pontualidade das viagens e a ausência de comunicação do metrô com os usuários.
“Hoje mesmo, cheguei tarde no meu serviço porque o trem passou com 15 minutos de atraso. Isso tem acontecido umas duas ou três vezes por semana, desde que privatizou”, disse o estagiário Guilherme Augusto Gomes, de 19 anos, morador do bairro Camargos, na região Noroeste de BH. Ele ainda reclamou do fechamento de uma das duas escadas da estação Eldorado, o que faz o desembarque se estender por cerca de 5 minutos.
“Para mim, piorou. Passagem cara, só vem lotado, não tem ar-condicionado. E trasa. Antes não havia tanto problema de atraso. Eles colocam a culpa no ‘raio que caiu’, mas nem chovendo está”, disse a analista de sucesso Dainara Gomes, de 31 anos, que pega o modal na Vila Oeste até o centro da capital.
A professora Marinez Bressan da Costa, de 56 anos, também diz ter notado aumento nos atrasos. “Pego o metrô todo dia às 5h20. Hoje passou 5h45, já lotado. Tirei foto e mandei para eles (Metrô BH) via WhatsApp (31 3250-3901), perguntando ‘cadê o metrô?’, mas não me responderam. Neste primeiro ano, eu não vi melhora no serviço”, denuncia. No dia do problema relatado por Maria Inês, a empresa não havia respondido para ela até 18h32.
Empresa informa que já fez melhorias
O Metrô BH informou que, desde março de 2023, quando assumiu a concessão, o sistema opera de forma mais eficiente. “As melhorias graduais refletem o empenho da empresa em proporcionar regularidade, pontualidade e conforto ao usuário”, declarou, em nota.
Entre as ações, a empresa cita a redução das “evacuações” dos trens – quando todos os passageiros têm que descer por causa de alguma pane – de uma média de 30 para uma por mês. “O tempo médio de percurso entre as estações Vilarinho e Eldorado foi reduzido de 55 para 47 minutos. Já o número médio de viagens em atraso diminuiu de cerca de 35 para três, mensais”, alega.
100 mil pessoas utilizam o metrô de BH diariamente
“O preço da passagem está um pouco puxado. E a linha tem vez que atrasa. E atrasa a gente no trabalho. De minuto em minuto, a gente acaba saindo no prejuízo.”
Ronderson de Amorim, de 47 anos, assistente administrativo, morador do Barreiro
“Diz que vai ter melhora, mas até agora nada. Tinha que ter mais horários. A gente, cansada, com sessenta e poucos anos, tem que ir em pé, e os mais novos vão sentados.” Marinalva Chaves, de 60 anos, empregada doméstica, moradora de Contagem
Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/metro-bh-numero-de-passageiros-caiu-72-em-uma-decada-1.3352575
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