Valor Econômico – Dois fatores estão no centro das preocupações das grandes economias globais. O primeiro são os riscos climáticos de curto prazo, e também como se preparar para uma transição ambiental mais duradoura. O segundo é a crescente demanda por energia renovável. Nesse cenário, o Brasil pode acabar se beneficiando, segundo Jason Rekate, chefe global de corporate banking do Citi.
“Todas as partes estão avaliando isso, é um risco que discutimos ativamente com as empresas, reguladores. Existem dois componentes. Um é do risco físico mesmo, de ter uma planta em uma área sujeita a inundações, por exemplo. As grandes multinacionais têm diversificado sua presença nos últimos anos, não concentram a operação em um só lugar. Falamos com clientes em muitos países e é raro uma empresa que não tenha planos em vigor para lidar com isso”, disse Rekate em entrevista ao Valor durante eventos da Brazil Week, em Nova York.
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O segundo aspecto, explica, é uma transição climática de longo prazo, que deve começar a afetar as empresas em cinco, dez anos, fazendo-as se preparar para mudanças regulatórias, na disponibilidade de energia, nas cadeias de suprimento. “Não há uma empresa que não esteja pensando nisso”.
Essa questão climática se liga muito com a transição energética, que é um aspecto que já vem beneficiando o Brasil, segundo o executivo. Um ponto que começa a chamar a atenção dos investidores é a necessidade cada vez maior de data centers, uma infraestrutura essencial para diversos tipos de tecnologia, incluindo machine learning e inteligência artificial. Rekate conta que grandes empresas globais, ou mesmo players um pouco menores do setor de tecnologia, mas que têm caixa e flexibilidade, estão procurando locais em todo o mundo onde possam construir seus data-centers. “Alguns países, como o Brasil, tem vantagens, como a boa oferta de soluções de energia renovável”.
Miguel Queen, diretor de large corporates do Citi no Brasil, diz que nos Estados Unidos já se discute a construção de data-centers com capacidade de 200 megawatts, enquanto no cenário brasileiro ainda se fala de unidades de 50 MW, que mesmo menores custam quase US$ 500 milhões. “Esse é um mercado global”.
No geral, Rekate diz que o Brasil tem se sobressaído nos últimos anos, conseguido atrair bons fluxos de investimento estrangeiro (IDP), graças às vantagens comparativas em relação a outros emergentes. “Os prospectos me parecem bons, a inflação não está fora de controle, o Brasil tem sido disciplinado, tem um BC independente, um bom ambiente para as pessoas se sentirem bem em investir”. Ele conta que esteve no país há um mês e meio e ficou impressionado com o dinamismo dos empresários. Questionando se não percebeu algum receio do setor produtivo com a política fiscal, ele disse que “nunca tive uma viagem para o Brasil em que não se falasse sobre isso”. Ainda assim, aponta que sua sensação é que o empresariado acredita que pode prosperar mesmo em cenários de diferentes políticas governamentais.
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