Tarifa do metrô de BH sobe 205% em 5 anos, quase 13 vezes a mais que a de ônibus

O Tempo (MG) – Um ano e meio após a concessão do metrô na região metropolitana de Belo Horizonte, a tarifa vai ser aumentada pela segunda vez a partir das 0h de segunda-feira (1º de julho). Em menos de 5 anos e 2 meses, o aumento acumulado é de 205% no tíquete do modal, que era de R$ 1,80 e passará a ser R$ 5,50 no início da próxima semana. Apesar do baque no bolso do consumidor, a empresa reforça as revitalizações já feitas por ela ao longo do tempo, e o governo de Minas lembra da implantação de internet Wi-fi nos trens e estações e, além de um novo sistema de bilhetagem digital.

O aumento do metrô, comparado com o reajuste do ônibus na capital mineira, é 12,8 vezes maior. O transporte rodoviário saiu, em 2019, de R$ 4,50 para os R$ 5,25 atuais, um aumento de 16,6%.

A Metrô BH, atual concessionária responsável pelo transporte sobre trilhos da região metropolitana de Belo Horizonte, assumiu o sistema quando a tarifa estava em R$ 4,25. Em 1º de julho do ano passado, o valor subiu para R$ 5,30 e, agora para R$ 5,50, um aumento de 29,4% no período. Por ser uma concessão, ambos os reajustes foram definidos pelo governo do Estado.  

O segundo reajuste ocorre após uma promessa não cumprida pela concessionária. No ano passado, a empresa afirmou que iniciaria as obras da linha 2 (que levaria o tão sonhado metrô ao Barreiro) em maio deste ano, “após o período chuvoso”. No site da empresa, a previsão era de iniciar as intervenções no primeiro semestre deste ano. Sem justificar o atraso, a concessionária agora fala que vai começar “ainda em 2024”, ou seja, o prazo se estende até dezembro. 

 “As obras de implantação da Linha 2 do Metrô BH iniciarão ainda em 2024. Para isso, várias etapas já estão em andamento. Quando pronto, o sistema vai transformar positivamente a mobilidade urbana de cerca de 90 bairros próximos ao metrô da região metropolitana de Belo Horizonte. O novo traçado terá sete estações e 10,5 km de via permanente”, diz a nota.

A empresa confirmou que sequer iniciou a fase de desapropriação, também prometida para o começo deste ano. “Os processos em andamento envolvem estudos de solo, especificações de equipamentos, projetos civis e de sistemas, tanto da via, quanto das estações. A concessionária informa que ainda não está na fase da desocupação das benfeitorias construídas irregularmente na faixa de domínio da ferrovia. Já foi realizado o mapeamento da área, a selagem das casas que serão desocupadas e o perfil socioeconômico das famílias foi traçado, após entrevistas com os moradores. O próximo passo será as negociações, mas para iniciá-las, a empresa precisa aguardar  a emissão da licença ambiental pelo órgão competente, a fim de seguir o processo com assertividade”, argumentou.  

A publicitária Patrícia Soares, de 33 anos, é moradora de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, e utiliza o metrô como meio de transporte há anos, como ela mesmo lembrou, “desde quando a passagem custava R$ 1,80”. “A gente não gastava nem R$ 4 para ir até o centro de Belo Horizonte e voltar. Já frequentei praticamente todas as Estações, pois trabalhava na Cidade Administrativa. Estou muito abalada com essa notícia do aumento, pois isso impacta muito na economia da gente, que trabalha todo dia. Vai dar R$ 11 por dia para ir até o centro”, lamenta. 

Ainda conforme a usuária, o mais revoltante é justamente o fato de que o preço está aumentando mas, em contrapartida, a qualidade do transporte piorou. “Até hoje essas obras não andaram, principalmente essa da estação Eldorado. A escada rolante só tem uma funcionando e funciona na hora que quer. A iluminação na parte de subir para a rua Jequitibás não está funcionando direito. Os banheiros também não acabam as obras. Essa privatização, a única coisa que a gente não tem é greve”, protesta Patrícia. 

Impactos

Com o aumento de R$ 0,20 por tarifa do metrô, o mestre em trânsito Silvestre de Andrade Puty Filho avalia que alguns passageiros podem migrar de sistema de transporte. “A demanda é sensível ao preço por causa da lei da oferta da economia. Quanto maior o preço, menor a demanda. Se há reajuste, certamente há rearranjo na composição das viagens na cidade. A pessoa pode migrar para outro modo de transporte público ou até individual, e isso não é bom para o sistema de trânsito como um todo”, declarou ao lembrar que os belo-horizontinos já sofrem com congestionamentos em função do alto índice de veículos que circulam nas vias.  

Um impacto já sentido na prática em função das outras elevações, uma vez que já houve uma redução de 15% no número de passageiros do transporte metroferroviário na região metropolitana. Se antes o governo e a empresa concessionária divulgavam a média de 100 mil passageiros por dia, a projeção agora é de 85 mil pessoas.  

O especialista pondera que não se pode jogar toda a culpa pela defasagem no sistema na empresa que assumiu o transporte há um ano e meio. Para ele, o que houve foi a herança de um modal administrado há anos pelo poder público sem nenhum avanço significativo. Silvestre Puty Filho lembrou que um investimento não é feito “do dia para a noite”, mas que promessas não cumpridas precisam ser cobradas.  

Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo Souza e Silva ressalta que os reajustes em qualquer tarifa de transporte público afetam a saúde financeira das empresas. Isso porque, conforme lembra ele, a maioria das organizações é responsável por custear a maior parte do transporte dos colaboradores. 

“Muitos empreendedores e empregadores já haviam providenciado o carregamento dos cartões de vale-transporte para o próximo mês com base na tarifa vigente. A inesperada mudança de valor exige uma reorganização financeira imediata e não planejada”, diz ele.

O presidente da CDL-BH destaca que alguns reajustes são previstos e, em alguns casos, necessários, mas para isso é importante ver melhorias no sistema. Para ele, é necessário haver a modernização, a ampliação de frota e a redução do tempo das viagens.

“Destacamos também a importância de um aviso prévio de, no mínimo, 30 dias para reajustes nas tarifas do transporte público. É essencial que a população e as empresas sejam informadas com antecedência, permitindo que se preparem adequadamente para as mudanças”, diz ele.

O economista Diogo Santos, da Fundação IPEAD/UFMG, estima que o impacto na inflação da cidade com o aumento da tarifa deve ficar na casa de 0,01%, algo quase imperceptível. Ele considera que a influência na economia deve ser pequena no Índice de Preços ao Consumidor Restrito (IPCR), que abrange famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos, pelo fato de não ser um meio de transporte amplamente utilizado na comparação com os ônibus.  

Melhorias

Em nota sobre o aumento publicado nesta quinta-feira, o governo de Minas pontuou que “até o momento, já foram feitas melhorias em serviços prestados aos mais de 85 mil passageiros transportados todos os dias, como reformas de estações, implantação de internet Wi-fi nos trens e estações e sistema de bilhetagem digital”.

A gestão estadual ponderou, ainda, que “estão planejadas diversas atualizações tecnológicas de sistemas, como os de controle e segurança dos trens, o que trará mais conforto, acessibilidade, segurança e regularidade nas viagens”.

 A projeção é de que a nova estação da linha 1, a Novo Eldorado, seja implantada em 2026. A famosa linha 2, que chegaria ao Barreiro, tem expectativa de entrar em operação “até 2029”.

Fonte: https://www.otempo.com.br/cidades/2024/6/27/tarifa-do-metro-de-bh-sobe-205–em-5-anos–quase-13-vezes-a-mais

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