Correio Braziliense – Na manhã deste domingo (14/7), o diretor-presidente da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF), Handerson Cabral, concedeu entrevista coletiva para falar sobre o incidente ocorrido na noite desse sábado (13/7), quando um dos carros de um trem pegou fogo na altura da estação 114 Sul. Cabral declarou que, do ponto de vista operacional, a atuação do piloto do veículo e das equipes presentes nas estações acerca do imprevisto foram perfeitas e informou que, agora, o Metrô-DF trabalhará ao lado da empresa fabricante dos trens para uma inspeção detalhada, com o intuito de identificar as causas dos incidentes e planejar ações que eliminem possíveis problemas futuros.
Também estiveram presentes no pronunciamento o Secretário de Estado de Transporte e Mobilidade do DF, Zeno Gonçalves, Márcio Aquino, diretor de operação e manutenção do Metrô-DF, Renato Avelar, superintendente de operação do Metrô, e Victor Mafra, superintendente de manutenção. Durante a entrevista, o presidente da companhia destacou que o o trem incendiado na noite desse sábado não apresentou falhas em nenhuma das manutenções às quais foi submetido ao longo deste ano (ocorridas em março, abril, maio e, a última, em 22 de junho). Segundo o presidente, havia, inclusive, uma inspeção preventiva marcada para a próxima semana.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Ele enfatizou que os trens são seguros e que as equipes são treinadas para agir em caso de intercorrências, priorizando a segurança da população. “Nós temos, no metrô, um conjunto de manutenções que a gente faz com regularidade e o trem 18, que é o que passou pelo incidente ontem, está com as manutenções totalmente em dia, todas preventivas, ele não passou, nos últimos tempos, por nenhuma manutenção corretiva. É um trem que estava, sob o ponto de vista de manutenção, operando de forma 100% segura”, declarou o presidente da companhia
Em janeiro deste ano, houve uma situação semelhante na estação de Águas Claras. De acordo com Cabral, os dois trens que pegaram fogo fazem parte da série 1000, primeira frota de trens instalada no DF, e têm cerca de 27 anos. O presidente ressaltou que a idade útil desses veículos é de, aproximadamente, 45 anos, e, com a manutenção em dia, os carros estão plenamente habilitados para fazer o transporte de passageiros.
O secretário de Transporte e Mobilidade, Zeno Gonçalves, compareceu para prestar apoio à companhia e enfatizar que os modais trabalham de forma integrada. “Como gestora de todo o sistema, a Semob acompanha toda e qualquer intercorrência. Estamos aqui também para rever protocolos de atuação e ver como podemos melhorar ainda mais”, afirmou.
O incidente
O incêndio atingiu o carro do trem 18 por volta das 19h desse sábado. Ao perceber uma movimentação diferente dos usuários na plataforma, o piloto desembarcou na estação 110 Sul, viu o sinal de fumaça e evacuou o trem.
O presidente explicou que o piloto seguiu, integralmente o protocolo de atuação nesses casos, que é fazer o isolamento elétrico do carro (vagão) e comunicar ao Centro de Controle Operacional (CCO), para a análise conjunta com a manutenção do procedimento a ser seguido.
Quando levava o trem para o pátio de manutenção da Asa Sul, o piloto de outro trem percebeu que havia fumaça no túnel e reportou o problema ao CCO. O trem 18, então, foi parado na estação 114 Sul e foi constatado o princípio de incêndio; as vias foram desenergizadas e a operação suspensa em todas as estações da Asa Sul (túnel). O Corpo de Segurança Operacional e o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) foram acionados. O fogo foi rapidamente controlado.
A circulação de trens foi interrompida no túnel da rodoviária e nas estações da Asa Sul por três horas. Às 22h, os trens voltaram a circular normalmente em toda a extensão da linha. Nesta segunda (15/7), a operação de trens será normal, com a mesma quantidade de trens.
As causas do incidente serão investigadas pela perícia do Corpo de Bombeiros, que já realizou trabalhos neste domingo, da Polícia Civil e por uma comissão técnica do Metrô-DF.
Novas medidas
Durante a coletiva, o presidente lembrou que na ocorrência de janeiro o Conselho Permanente de Segurança (COPESE) concluiu que um curto-circuito dentro do armário elétrico (dispositivo que fica dentro do vagão) foi o responsável por causar o incêndio. Após isso, todos veículos da série 1000 passaram por inspeção termográfica e, segundo Cabral, o trem que apresentou falhas na noite de ontem não demonstrou mau funcionamento, à época.
“Nós colocamos esses trens dentro da área de manutenção, deixamos eles energizados, simulando uma situação de operação normal regular, e depois entramos com câmeras térmicas, para verificar se algum componente elétrico estava apresentando risco de curto-circuito ou temperaturas elevadas, porque uma temperatura elevada, além do que o fabricante especifica, pode indicar algum tipo de risco, e esse trem específico, o treino número 18, passou pela o exame de termográfica, e nada foi identificado”, apontou.
Como medida adicional ao protocolo de segurança já aplicado no Metrô-DF, um novo procedimento operacional será incluído: caso alguma situação parecida se repita, a companhia interromperá a circulação do trem onde estiver – desligando o trem completamente e não apenas fazendo o isolamento elétrico do carro, como foi feito neste sábado.
“Não haverá nenhum pudor em interromper a circulação, mesmo que isso cause transtorno à operação e aos usuários. A segurança do passageiro está em primeiro lugar”, disse o diretor de Operação e Manutenção, Márcio Aquino, que completou dizendo que, apesar do sistema ser seguro, a companhia trabalha diariamente para que a logística seja melhorada.
Aumento da frota
Durante a entrevista coletiva, o presidente do Metrô-DF atualizou a situação do projeto de aquisição de 15 novos trens, que tramita no Ministério das Cidades. “O projeto já foi aprovado pelo Ministério e deve ser contemplado na linha de financiamento do BNDES, dentro do Renova Frota, parte do PAC Mobilidade. Nossa expectativa é que saia o resultado entre outubro e novembro”, contou.
“São necessários cerca R$ 900 milhões para esta compra. A partir da contemplação, começa o processo interno dentro do BNDES, que deve durar uns quatro ou cinco meses. Só então é autorizado o início do processo de licitação. É um projeto que ainda vai demandar de dois a três anos, já que é uma concorrência complexa”, explicou.
Atualmente, o sistema conta com 20 trens da série 1000, que têm entre 27 e 30 anos de idade, e 12 trens da série 2000, mais novos. Ele destacou que a nova frota não substituirá a existente, mas complementará.
Investimentos
Durante a coletiva, Cabral foi questionado sobre uma possível redução no volume de investimentos e de manutenção, uma vez que o valor destinado atualmente é metade do que era disponibilizado em 2013. Ele informou que, por ano, são gastos entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões de manutenção.
Sobre esse valor ser metade do praticado em 2013, conforme pedido de representação enviado por parlamentares ao TCDF, o presidente explicou que se deve à mudança no regime de contratação. “Em vez de fazer um só contrato, em que uma só empresa ou consórcio fazia tudo, o Metrô faz agora vários contratos separados. Atualmente, são nove contratos, o que aumentou a competitividade e possibilitou uma considerável redução de custos. O próprio Tribunal acompanhou todos os editais. Ou seja, fizemos uma contratação mais econômica e vantajosa para o estado, mantendo e ampliando as trilhas de manutenção que eram feitas naquela época, mas gastando metade do valor”, concluiu.
Em relação à redução dos investimentos, o presidente explicou que, na verdade, são projetos que estavam na previsão orçamentária, mas que não tiveram como ser executados por algum motivo, como a necessidade de refazer processos licitatórios, período de pandemia e outros – caso, por exemplo, da expansão de Samambaia, que estava prevista em orçamento desde antes de 2019, mas só agora teve o contrato assinado.
Seja o primeiro a comentar