Demanda interna na indústria siderúrgica já cresce acima de 2%

Valor Econômico – Executivos do setor siderúrgico já trabalham com uma expansão da demanda no mercado interno similar, ou até um pouco maior, que as expectativas para o crescimento do Produto Interno Brasileiro (PIB), que está na casa dos 2%. A projeção do Instituto Aço Brasil, por enquanto, é de alta de 1% no consumo aparente de aço em 2024, totalizando 24,2 milhões de toneladas. É um número conservador.

“Com uma expansão do PIB de 2%, o consumo de aço no ano deve crescer entre 2% e 3%”, avalia Jefferson De Paula, presidente da ArcelorMittal Brasil. Os elementos para uma expectativa mais otimista para o ano estão relacionados com a expansão da demanda proveniente da construção civil, da indústria e do setor automobilístico. “Os indicadores para o mercado brasileiro são positivos no segundo semestre”, afirma Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, que se diz “cautelosamente mais o otimista”.

Werneck cita como exemplo de um mercado promissor a previsão da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) de um aumento de 8,5% nos lançamentos de imóveis em 2024. Em julho, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que engloba dados do mercado imobiliário e também de construção pesada, anunciou que espera um crescimento de 3% para o setor no ano.

Outro sinal positivo vem da indústria automobilística. A projeção da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) é de um aumento na produção de 4,9% em 2024. O destaque é a expansão da produção de veículos pesados – caminhões e ônibus -, que deve chegar a 32,1% no ano. Por outro lado, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), setor que se posiciona entre os grandes consumidores de aço no mercado brasileiro, estima uma retração de 7% em suas atividades no ano.

Quando se olha o conjunto da produção industrial, o primeiro semestre de 2024 registrou um crescimento de 2,6% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento da renda e do poder aquisitivo da população gera expectativa de aumento do consumo. No primeiro semestre foram criados mais de 1 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. O IBGE calcula que a expansão da massa salarial no país foi de 9% em um ano, entre o trimestre terminado em maio de 2024 e o mesmo período de 2023.

Para De Paula, as condições conjunturais deverão permanecer estáveis em 2025, devendo proporcionar um avanço na casa de 2% na demanda de aço no país. “Deve ser um bom ano”, diz.

O consultor Helcio Takeda, sócio-diretor da Pezco Economics, avalia que o consumo aparente de aço no Brasil deverá permanecer em crescimento pouco acima da evolução do PIB do país nos próximos anos, podendo alcançar 28,8 milhões de toneladas em 2027 e 2028, igualando o patamar de antes da recessão de 2015-2016. “Parte importante desse crescimento será resultado do investimento em infraestrutura contratado pelos leilões de concessões e PPPs [parcerias público-privadas] realizados entre 2017 e 2022”, afirma Takeda.

A efetivação dos investimentos públicos e privados de R$ 1,7 trilhão previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) é outro fator que gera expectativa no setor. Passado um ano desde o lançamento do programa, no entanto, pouco foi efetivado. “Ainda não é possível constatar demanda de aço proveniente de obras do PAC”, diz De Paula. “São projetos necessários para o país, que precisam sair do papel.”

A Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) estima que o Brasil precisa de investimentos anuais de 4,31% do PIB durante uma década para superar as suas principais deficiências em infraestruturas de saneamento básico, transportes, energia elétrica e telecomunicações. Nos últimos dez anos, esse investimento foi, em média, menos de 2% do PIB.

A expansão dos aportes em infraestrutura é vista pelos executivos da indústria siderúrgica como o grande fator capaz de elevar de forma sustentável o patamar da demanda de aço no Brasil, estagnado há anos na casa de 110 quilos por habitante ao ano, contra 230 kg/hab. da média mundial. A superação desse gap é o que motiva o programa de investimentos siderúrgicos no país, que soma R$ 100 bilhões de 2023 a 2028, de acordo com o Aço Brasil. “Os investimentos são uma aposta no futuro. Uma hora o Brasil vai ter que enfrentar seus problemas de infraestrutura e a demanda de aço crescerá. Vamos estar preparados”, diz De Paula.

O maior plano de investimentos em marcha é da ArcelorMittal, que detém por volta de 42% da capacidade produtiva brasileira, com 15,5 milhões de toneladas anuais. São R$ 25 bilhões programados entre 2022 e 2026, sendo que R$ 11 bilhões foram para a compra em 2023 da Companhia Siderúrgica de Pecém. Os demais R$ 14 bilhões envolvem projetos de geração de energia renovável, mineração, modernização e aumento de capacidade siderúrgica, que deve alcançar 17,5 milhões de toneladas por ano em 2026.

A CSN anunciou investimentos entre 2023 e 2028 de R$ 15,3 bilhões em projetos de mineração e outros R$ 7,9 bilhões destinados à modernização do parque siderúrgico.

A concorrência chinesa levou a Gerdau a readequar suas atividades e hibernar sua usina em Barão de Cocais (MG). A companhia, porém, manteve seu plano de investimentos de R$ 6 bilhões em 2024 voltados à manutenção, expansão e atualização tecnológica de suas operações. Uma nova capacidade de produção de minério de ferro, de 5,5 milhões de toneladas, está prevista para entrar em operação no final de 2025, em Ouro Preto (MG). Na usina de Ouro Branco (MG), um novo laminador de bobinas a quente com capacidade de 250 mil toneladas por ano está previsto para entrar em operação ainda em 2024.

“A indústria brasileira investe constantemente e possui processos produtivos que a tornam bastante sustentável e competitiva”, diz Werneck. “Mas não é o suficiente.” Para o CEO da Gerdau, um novo ciclo de crescimento sustentável do setor depende de o país corrigir assimetrias competitivas, como o custo Brasil. “As empresas brasileiras, em um ambiente de negócios mais competitivo, poderiam gerar uma receita 20% maior”, diz o executivo.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/siderurgia/noticia/2024/08/16/demanda-interna-na-industria-siderurgica-ja-cresce-acima-de-2percent.ghtml

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