Trens perderam 45 mil passageiros, afastados do transporte por medo de confrontos em comunidades do Rio

Extra – Luíza Pombo, moradora do Parque Estrela, em Magé, se viu obrigada a mudar definitivamente o trem pelo ônibus nas viagens diárias para o trabalho. A rotina era atravessada pelos constantes tiroteios nas regiões por onde passam os trens do ramal Saracuruna da SuperVia — que corta áreas de conflitos como Manguinhos, Parada de Lucas, Vigário Geral e Cordovil, na Zona Norte do Rio. A mudança pede que Luiza saia mais cedo de casa, além de pagar mais caro pela viagem. Mas ela não está sozinha: a concessionária alega ter perdido 45 mil passageiros só em julho, na comparação com junho, por conta desses episódios de violência. Os ramais mais afetados foram os de Saracuruna e Belford Roxo.

— Ultimamente tenho utilizado pouquíssimas vezes o trem. Exatamente por medo dos tiroteios. O jeito é acordar mais cedo e ir de ônibus — conta a usuária, que viu a despesa com a passagem saltar de R$ 7,10 (com a tarifa social do bilhete único cai para R$ 5) para R$ 16,60, em cada trajeto diário.

O gestor de logística Douglas Mendonça, de 36 anos, morador de Saracuruna, não chegou a trocar de vez o meio de transporte. Mas, atento ao noticiário antes de sair de casa, quando fica sabendo de algum tiroteio no trajeto do trem opta pela van para chegar ao Centro do Rio, onde completa a viagem até o trabalho, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, de metrô. Nessas ocasiões, também paga mais caro: R$ 13,65 pela viagem, que é meia hora mais demorada em relação ao trem.

— Os tiroteios têm prejudicados muito a vida dos usuários, gerando atrasos e estresses — reclama o passageiro, que é administrador de um grupo de WhatsApp destinado a manter os usuários do ramal Saracuruna informados sobre o movimento dos trens.

Dados da concessionária mostram que, de janeiro a julho, os tiroteios provocaram 14 interrupções no serviço. Nesse período, ocorreram nove interrupções no ramal Saracuruna (cinco por conta de conflitos em Cordovil, três em Vigário Geral e uma em Triagem) e cinco no ramal Belford Roxo (três vezes no Jacarezinho e duas em Costa Barros). A perda financeira estimada é de cerca de R$ 320 mil. A SuperVia diz ainda que, apenas em julho, realizou um total de 6.669 ressarcimentos, sendo que 3.291 ocorreram no dia 22, no ramal Saracuruna.

Durante dois dias — quinta e sexta-feira — O GLOBO embarcou nos dois ramais. A viagem no de Belford Roxo foi feita numa composição cujos vidros dianteiros estavam estilhaçados. O maquinista disse que foi por conta de pedradas. Nos vidros de uma das portas estava escrito o símbolo de uma facção criminosa. No da janela de um dos vagões, estava desenhado um pedido com estilete: paz.

A viagem costuma ser tensa, mesmo para quem está acostumado a transpor as mais de 15 estações, percorridas em cerca de uma hora. É que o trajeto corta diversas comunidades controladas pelo tráfico (Jacarezinho, Costa Barros e Barros Filho) e pela milícia (Bandeira Dois). O itinerário feito até Duque de Caxias pelo ramal Saracuruna, por exemplo, foi mais tranquilo, mas pelo caminho foi possível ver usuários de crack circulando pelos trilhos, entre Bonsucesso e Ramos, na Zona Norte.

Procurada, a Polícia Militar informou que o Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer) patrulha mais de 270 quilômetros de extensão de malha ferroviária, para coibir delitos. Diz, ainda, que as estações contam com o reforço dos agentes do Programa Estadual de Integração na Segurança (CPROEIS).

Fonte: https://extra.globo.com/rio/casos-de-policia/noticia/2024/08/trens-perderam-45-mil-passageiros-afastados-do-transporte-por-medo-de-confrontos-em-comunidades-do-rio.ghtml

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