Valor Econômico – Ainda que tenha apresentado um aumento no volume de produção de minério de ferro no terceiro trimestre deste ano, a Vale deve ter resultados financeiros mais fracos no período. Conforme levantamento do Valor, analistas de mercado esperam que a mineradora registre recuos nas principais linhas do balanço por conta do menor preço nas vendas.
A companhia divulgará o resultado do período julho a setembro na quinta-feira (24), depois do fechamento dos mercados. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) deve ficar, em média, em US$ 3,5 bilhões no terceiro trimestre, segundo o cálculo dos bancos, recuo de 15,4% ante igual período de 2023. A receita líquida deve cair 9,2%, para US$ 9,6 bilhões.
A expectativa é de que o lucro líquido da mineradora tenha queda de 40,2%, para US$ 1,7 bilhão, na média das estimativas de cinco bancos e corretoras: Itaú BBA, Santander, BTG Pactual, Citi e Ativa Investimentos.
Os números foram calculados pelos analistas dos bancos antes do fato relevante divulgado pela companhia na sexta-feira (18), com informações sobre os termos do acordo definitivo pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), que deve custar R$ 170 bilhões, sendo R$ 100 bilhões em 20 anos.
No comunicado, a mineradora estimou que R$ 5,3 bilhões (US$ 956 milhões) serão adicionados aos passivos associados à reparação de Mariana nos resultados do terceiro trimestre.
Consultados, os bancos disseram que não haviam alterado as projeções de Vale para o terceiro trimestre em função do anúncio do acordo de Mariana. É possível que uma eventual provisão a ser feita pela mineradora no trimestre acabe por reduzir as estimativas de lucro. Os analistas têm mais dificuldade de calcular o lucro pois não conseguem antecipar efeitos de fatores extraordinários reconhecidos pela empresa e que afetam o resultado final.
Conforme o balanço da Vale do segundo trimestre, a companhia tinha em 30 de junho US$ 3,7 bilhões em provisões referentes à tragédia de Mariana, além dos US$ 2,4 bilhões do rompimento da barragem de Brumadinho (MG). O Goldman Sachs classificou a provisão de US$ 956 milhões como pequena.
No terceiro trimestre deste ano, a Vale atingiu o maior nível de produção de minério de ferro desde o quarto trimestre de 2018. Mas segundo os bancos consultados o menor preço realizado entre julho e setembro deste ano em comparação com igual período do ano passado deve causar um recuo dos resultados da mineradora.
A empresa fechou o terceiro trimestre com preço médio realizado nas vendas de finos de minério de ferro de US$ 90,6 por tonelada, uma queda de 13,8% frente a igual período do ano anterior, quando o valor médio foi de US$ 105,1 por tonelada.
Reparação de Mariana deverá aumentar passivo da empresa em US$ 956 milhões
As estimativas de lucro líquido variaram entre US$ 977 milhões, do Itaú BBA, e US$ 2,1 bilhões do BTG Pactual. As projeções de receita líquida vão de US$ 9,2 bilhões, do BTG Pactual, a US$ 10,5 bilhões, da Ativa Investimento. Para o Ebitda, a menor expectativa é do Itaú BBA, de US$ 3,3 bilhões, e a maior, da Ativa Investimentos, de US$ 3,9 bilhões.
De acordo com o relatório do terceiro trimestre, a Vale registrou aumento de 5,5% na produção de minério de ferro em comparação com igual período de 2023, para 90,971 milhões de toneladas. A maior produção de minério foi impulsionada pelo melhor desempenho em S11D, Itabira e Brucutu.
Em setembro, a Vale informou o aumento da projeção de produção de minério para 2024: a meta, que antes era de 310 milhões a 320 milhões de toneladas, agora, é de 323 milhões a 330 milhões de toneladas para o ano. Na visão do Goldman Sachs, os dados recentes de produção mostram que a Vale está no caminho certo para atingir o ponto mais alto da nova da nova projeção.
Para o Itaú BBA, o trimestre da Vale foi marcado pela maior produção de minério de ferro desde o rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro de 2019, e por melhora na qualidade média da companhia, com menos vendas de produtos com alto teor de sílica, considerados de pior qualidade, além da maior produção no norte do Brasil.
O BTG Pactual disse que os dados de produção da Vale do terceiro trimestre mudaram a visão do banco: “Estávamos cautelosos sobre a Vale por um tempo, mas devemos admitir que gostamos do que vimos em suas operações de minério de ferro ultimamente, embora a área de metais básicos ainda precise ser estabilizada.” Em relatório, o banco afirma que a ação da Vale tem ficado volátil ultimamente, assim como a China, em referência às medidas do país asiático. “A Vale tem ficado muito volátil ultimamente, surfando a onda (diária) de especulação em torno do estímulo chinês, o que continua sendo uma batalha difícil de prever”, diz o BTG. O governo da China tem anunciado medidas para estimular as construções no país, com projetos habitacionais para reforma de moradias em áreas degradadas e tentativas de acelerar a concessão de crédito.
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