Valor Econômico – A posse no começo do mês de Gustavo Pimenta como novo CEO da Vale e as primeiras mudanças feitas pelo executivo no alto escalão da mineradora parecem não ter aplacado a intenção do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de intervir na empresa. A tentativa de interferência pode vir agora via conselho de administração, apurou o Valor.
Fontes próximas da companhia asseguram, porém, que nomes que não fizerem sentido e não passarem pela governança interna da Vale sequer serão avaliados. “A governança será seguida passo a passo”, disse um interlocutor.
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Na sexta-feira (25), na cerimônia de assinatura do acordo de Mariana, no Palácio do Planalto, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse, em discurso, que as mudanças na diretoria da Vale e a “iminente” troca do conselho de administração oferecem a oportunidade de “avançar na mineração brasileira”.
No setor, houve quem considerasse que, ao falar em troca “iminente”, Silveira avançou sobre um tema que cabe à empresa e aos acionistas. Procurado, o ministro não retornou até o fechamento desta edição.
Apesar do discurso, uma mudança mais ampla no conselho da mineradora terá que esperar até abril do ano que vem, quando a Vale vai eleger os integrantes do colegiado para o período 2025-2027. O conselho da empresa tem 13 integrantes e a expectativa é que somente uma parte deles seja reconduzida. Alguns conselheiros podem, inclusive, desistir de ficar.
Nos bastidores, comenta-se que Paulo Hartung e Manuel Oliveira, conhecido como Ollie, comunicaram às instâncias de governança da companhia que não querem permanecer no conselho. Ambos discordaram dos rumos tomados pela empresa ao longo do processo sucessório para a escolha do novo CEO. Procurados, Hartung e Ollie não comentaram.
Em 14 de novembro, está prevista uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da Vale para eleger Heloisa Bedicks e Reinaldo Duarte Castanheira Filho como conselheiros para cumprir mandato tampão até abril de 2025. Os dois entraram nas vagas de dois conselheiros – José Luiz Duarte Penido e Vera Marie Inkster – que renunciaram este ano em meio ao conturbado processo sucessório da Vale, marcado por tentativas de intervenção do governo. Lula tentou fazer o ex-ministro Guido Mantega como CEO, mas a indicação não prosperou diante de reações negativas de acionistas e do mercado.
Desde 1º de outubro, quando assumiu a presidência da companhia, Pimenta fez as primeiras mudanças nas vice-presidências e outras trocas no alto escalão são esperadas. O executivo, que ocupava o cargo de principal executivo financeiro (CFO) da Vale, foi anunciado em 26 de agosto como novo CEO no lugar de Eduardo Bartolomeo.
Ontem, a colunista Malu Gaspar, de “O Globo”, informou que a mineradora está contratando um novo diretor para cuidar das relações institucionais da mineradora. O cargo será ocupado pelo jornalista Kennedy Alencar. Procurada, a Vale não se pronunciou sobre o tema.
Nas últimas semanas ganhou força versão segundo a qual a Vale poderia criar uma vice-presidência executiva para cuidar de relações institucionais. Mas o desenho dessa área ainda está em andamento. Não foi definido se vai mesmo ser criada a vice-presidência ou se a mudança vai se limitar a nomear diretores regionais para melhorar o diálogo com públicos de interesse, incluindo o governo. Fala-se em três diretorias: uma para Brasília, a ser ocupada por Alencar; outra para o Norte-Nordeste, onde estão as operações de Carajás (PA) e o corredor logístico até São Luís (MA), e uma terceira para o Sudeste, região que abarca as operações de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio.
Na cerimônia no Planalto, Lula indicou que segue discordando do caminho da Vale: “Já tive oportunidade de negociar com a Vale quando ela tinha dono, quando o dono era o governo. Depois tive o prazer de negociar com a Vale quando ela já era uma mescla de fundos, mas tinha presidente. E quero dizer que é muito difícil negociar com uma ‘corporation’ [empresa sem controle acionário definido] se a gente não sabe quem é o dono e tem muita gente dando palpite […] muitas vezes o dinheiro que poderia ter evitado a desgraça que aconteceu é utilizado para pagar dividendos”, disse o presidente.
Por “desgraça”, Lula se referiu ao rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em 2015, que matou 19 pessoas e causou uma das maiores tragédias socioambientais do país. A Samarco, empresa em recuperação judicial, é controlada meio a meio por Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton. As empresas assinaram, na sexta-feira, acordo com União e Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, atingidos pelo desastre, pelo qual vão pagar R$ 170 bilhões.
Até o momento, o novo CEO da Vale mexeu na vice-presidência de soluções de ferrosos, cargo estratégico pela importância desse negócio para a companhia. Marcello Spinelli deixou o cargo e foi substituído por Rogério Nogueira, um executivo da Vale, como interino até 31 dezembro. Na sexta, a Vale também comunicou a aprovação, pelo colegiado, de Marcelo Bacci como vice-presidente executivo de finanças.
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