Valor Econômico – Infraestrutura desenvolvida, mão de obra qualificada e mercado consumidor garantiram ao longo do tempo às regiões Sul e Sudeste do Brasil os maiores volumes de investimentos estrangeiros diretos (IED). Sozinho, São Paulo responde por 47,3% do total. Com o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, esse percentual chega a 64,7%, de acordo com o “Relatório de Investimento Direto”, do Banco Central. Nem mesmo a guerra fiscal entre os Estados brasileiros foi capaz de mudar essa distribuição. A ação coordenada de governos locais em blocos e a reforma tributária, no entanto, podem começar a dissolver a concentração.
O relatório do BC espelha os dados de 2020, os mais recentes com esse recorte, e apontam que o cenário oscilou pouco no intervalo de cinco anos. Nesse período, no Nordeste, por exemplo, Pernambuco cresceu 0,4 ponto percentual na divisão do destino dos recursos estrangeiros e chegou a 2,5%. A Bahia por sua vez recuou na mesma comparação para 3%. Mesmo com o maior crescimento da região, 1,4 ponto percentual, Sergipe não ultrapassou 1,7% desse bolo.
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No Norte, seus sete Estados somam 3,2%. Nem mesmo o potencial de geração de renda das cadeias biosocioeconômicas e janelas de oportunidade como a geração de créditos de carbono na maior floresta tropical do mundo foram suficientes para atrair mais investimentos.
“Nós temos um problema de concentração econômica. Isso faz parte da atividade econômica dos países. Mas, quando você cria uma guerra fiscal, acaba limitando as ações de investimentos”, diz o diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rafael Lucchesi.
A disputa entre Estados acaba, muitas vezes, por afastar investidores estrangeiros afugentados pelo emaranhado de diferentes formas de tributação dentro do mesmo país. “Uma das questões esperadas com a reforma tributária é simplificar o processo de recolhimento de impostos e uniformizar, tornando mais transparente”, diz a coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP, Claudia Yoshinaga. “O que se espera com isso é que o país se torne um ambiente mais fácil para um estrangeiro – e que isso potencialize investimentos.”
No Estado mais rico do país, a disputa entre as unidades da federação causou problemas que começam a diminuir com a previsão das novas regras, diz o secretário de Desenvolvimento Econômico, Jorge Lima. “Nenhum país que eu conheça sobreviveu a uma guerra fiscal, nenhum. Então, no passado, atrapalhou muito. Hoje, as pessoas já enxergaram que [com a reforma tributária] a cobrança será feita no destino, no local do consumo”, diz. “Se você tem uma planta que consegue desmobilizá-la rápida, você até vai [para um Estado que dê incentivos fiscais], mas se tem um investimento alto, que tem que amortizar o ‘capex’ [despesas de capital] a longo prazo, não vai. As pessoas estão fazendo uma conta agora.”
A competição entre Estados e cidades brasileiras para atrair IED é intensa e envolve uma combinação de estratégias que vão desde os incentivos fiscais e promoção de infraestrutura até a realização de eventos internacionais. Essa é uma forma de alavancar o interesse de empresas estrangeiras em colocar seu dinheiro no Brasil.
Se as missões internacionais de representantes brasileiros não chegam a ser novidade, nos últimos anos, tornou-se mais comum a presença em blocos, como o Consórcio Nordeste e o Consórcio Amazônia Legal. Em maio, uma comitiva formada por governadores do Consórcio Nordeste, criado em 2019, embarcou pela segunda vez para a Europa em busca de investimentos sustentáveis.
Paradoxalmente, o Norte e o Nordeste, duas das regiões que recebem os menores percentuais de IED, têm enormes potenciais em um cenário de transição energética e descarbonização da economia. “Essa tendência de investimentos focados mais na área de tecnologia e economia verde pode mudar o cenário de para onde vão os investimentos”, diz a coordenadora do Centro de Estudos em Finanças da FGV EAESP. “Existem potencialmente algumas regiões que podem ser consideradas polos para receber esses investimentos diretos.”
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