Valor Econômico – A expansão da oferta de infraestrutura ferroviária nas regiões agrícolas do Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país deve ganhar impulso nos próximos anos, com a construção de novos trechos ferroviários, requalificação de trechos antigos e a instalação de novos terminais de transbordo.
A produção agrícola acima do paralelo 16º S, linha imaginária que corta o Brasil na altura do sul de Mato Grosso ao sul da Bahia, cresce a uma taxa de 9,4% ao ano há mais de uma década. Em 2023, a região foi responsável pela produção de 197,5 milhões de toneladas de grãos, 68,9% de toda a produção nacional, e respondeu por 34% das exportações.
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Uma das principais obras em execução na região é a construção da Ferrovia de Integração Estadual de Mato Grosso, contratada no modelo de autorização pelo governo estadual junto a Rumo Logística, com investimento de R$ 15 bilhões. A obra de 743 km de extensão partirá de Rondonópolis, no sul do Estado, seguirá até a capital Cuiabá e depois alcançará até 2031, Lucas do Rio Verde, no norte mato-grossense.
Um primeiro terminal de cargas começou a ser construído em Dom Aquino, a 170 km de Cuiabá, e deverá entrar em operação em 2026, com capacidade para escoar até 10 milhões de toneladas de grãos por ano. A aposta da Rumo é que o terminal receba insumos e agregue novas cargas com a abertura de novos negócios na região.
“A chegada da ferrovia é um indutor de transformação econômica, gera oportunidades de introduzir na região novas atividades como a produção de óleo e farelo de milho ou uma fábrica de fertilizantes”, diz Guilherme Penin, vice-presidente de regulação da Rumo.
Entre Rondonópolis e Estrela d’Oeste (SP), a Rumo opera a Malha Norte, por onde transportou 24,3 milhões de toneladas de grãos em 2023. A Malha Norte se conecta em Estrela d’Oeste com a Malha Paulista, chegando ao Porto de Santos. Hoje, a Malha Paulista tem capacidade para movimentar 53 milhões de toneladas de carga por ano e a previsão da Rumo é chegar a 75 milhões até 2030.
Estrela d’Oeste também é o ponto de conexão com a Malha Central da Rumo, trecho da Ferrovia Norte Sul (FNS) que chega até Porto Nacional (TO), por onde a companhia transportou 7,2 milhões de toneladas de grãos em 2023. A Rumo assumiu em 2019 a concessão do trecho ferroviário de 1.537 km, concluído em julho de 2023. Em setembro, a companhia inaugurou seu quinto terminal de cargas conectado à FNS, em Alvorada (TO), em uma parceria com a CHS Agronegócio. A estrutura terá capacidade de movimentar 1,5 milhão de toneladas de grãos por ano.
A FNS foi concebida nos anos 1980 como a obra estruturante da logística nacional e levou 36 anos para ser concluída. No total são 2,2 mil km em sentido longitudinal entre Açailândia (MA) e a paulista Estrela d’Oeste, onde se conecta à Malha Paulista e chega ao Porto de Santos. No Maranhão, a FNS faz conexão com a Estrada de Ferro Carajás (EFC) e chega ao Porto de Itajaí (SC).
A VLI é a concessionária do Tramo Norte da FNS, o trecho de 720 km entre Porto Nacional e Açailândia. Em 2023, transportou no trajeto 10,96 milhões de toneladas de grãos, recebidos em três terminais de transbordo, sendo dois em Tocantins e um no Maranhão. “Estamos em pontos estratégicos em uma região, o Matopiba, com grande potencial de expansão”, diz Carolina Hernandez, diretora comercial da VLI.
A região do Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, produziu 18,5 milhões de toneladas de soja em 2023 e está diversificando as atividades com milho e algodão. Projeção do Ministério da Agricultura indica um crescimento de 37% na produção de grãos na região em 10 anos. “Vamos expandir nossa infraestrutura de terminais e material rodante de acordo com a evolução da demanda”, diz Hernandez.
Um projeto previsto para incorporar carga à FNS é o primeiro trecho da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO), com 383 km entre Mara Rosa (GO) e Água Boa (MT). A obra, sob responsabilidade da Vale, tem aportes de R$ 2,7 bilhões e conclusão prevista para 2027. A expectativa é que o trecho transporte cerca de 10 milhões de toneladas de grãos por ano.
Outro investimento de impacto é a renovação por mais 30 anos do contrato de concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que conecta as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste em 7 mil km de trilhos. A VLI a concessionária desde 2011 e o contrato de renovação junto à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está em fase de conclusão. A VLI pleiteia devolver 2,1 mil km que não utiliza. Por outro lado, se compromete a investir R$ 24 bilhões na modernização da malha restante e aquisição de vagões e locomotivas.
Em 2023 a VLI transportou 9,74 milhões de toneladas de grãos pelos trilhos da FCA, 2,3 milhões de toneladas de fertilizantes e por volta de 7 milhões de toneladas de açúcar. A expectativa é ampliar em 46% o volume total de carga transportada com os investimentos que serão contratados mediante a renovação da concessão.
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