Debêntures incentivadas batem recorde neste ano

Valor Econômico – Entre os produtos de investimento isentos de Imposto de Renda, as debêntures incentivadas experimentaram neste ano um dos melhores momentos desde 2011, quando foram criadas pela Lei 12.431, com o objetivo de financiar projetos de infraestrutura. De janeiro a outubro, as emissões de incentivadas ultrapassaram R$ 111,9 bilhões, o que representa um aumento de 65% em relação ao montante registrado no mesmo período em 2023, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Além do salto das emissões, o mercado secundário de debêntures incentivadas tornou-se mais líquido ao longo do ano. Essa evolução é percebida pelos especialistas em crédito privado como um amadurecimento dessa classe de ativo, que deve continuar apresentando resultados positivos ao longo de 2025.

“Vimos uma evolução muito grande de emissões. Neste ano foi recorde quando comparado aos anteriores. Consequentemente, houve uma maturação do mercado secundário, que não era tão pujante. Hoje a debênture incentivada corresponde a uma classe de ativos madura, tanto pelo nível de emissão como pela liquidez no mercado secundário”, diz Rafael Ohmachi, sócio e portfolio manager da RB Asset.

Somado a esse cenário, as debêntures incentivadas ganharam ainda mais atenção dos investidores, entre os produtos isentos, após mudanças instituídas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em fevereiro. As resoluções do CMN restringiram a liquidez da Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e da Letra de Credito do Agronegócio (LCA). Essas mudanças favoreceram a migração das carteiras para fundos de crédito privado com ênfase em debêntures incentivadas.

Na análise dos especialistas em crédito privado, o cenário positivo para os fundos de debêntures incentivadas deve prevalecer em 2025. Lucas Dias, gestor de crédito privado da ARX Investimentos, observa que os investimentos isentos de IR se destacam em um cenário de alta de inflação. “A isenção de IR em um cenário de inflação mais alta ajuda a ter um retorno maior. Na comparação com investimentos sem isenção, os isentos acabam ganhando mais. Além disso, o cenário de juros altos que se desenha para o primeiro semestre de 2025 favorece a alocação em renda fixa”, ressalta Dias.

Apesar do período considerado positivo para a indústria de incentivadas, Michelle Lauande, gestora de fundos de infraestrutura na Santander Asset Management (SAM), chama atenção para a dificuldade na alocação estratégica. De acordo com Lauande, o nível dos prêmios de crédito, que esteve longe do ideal neste ano, levou a gestora a tomar uma decisão considerada ousada, de fechar os fundos de crédito privado com debêntures incentivadas para captação na maior parte do ano. “Sentimos que o mercado estava em um nível do prêmio de crédito que não considerávamos ideal. Então, fechamos todos os fundos para a captação em boa parte do ano. Foi uma decisão acertada, mas ousada”, diz.

Em 2025, a gestora enxerga espaço para atuar de forma menos defensiva. Porém, ressalta que essa decisão ainda depende do comportamento do mercado. “Se sentirmos que o número de emissores está aumentando e vermos números mais fortes de projetos, que têm operações mais estruturadas e pagam mais prêmios, ou seja, se o mercado andar, provavelmente seremos um pouco mais arrojados”, diz.

Com uma postura mais conservadora em termos de captação, que Lauande entende como “uma estratégia mais difícil comercialmente”, a gestão da estratégia de fundos de crédito privado para debênture incentivadas na SAM priorizou performance e rentabilidade durante 2024. “Em 2023, houve muita volatilidade. Preferimos manter a sustentabilidade dos fundos e preservar o cotista.”

Ao longo de 2025, Lauande enxerga mais oportunidades para aumentar a posição de concessões rodoviária e portuária. Em project finance, jargão do mercado para definir o modelo de financiamento em projetos de infraestrutura de longo prazo, o foco da gestora envolve as torres de telecomunicações. O setor deve ganhar novos projetos por conta da demanda das redes de 5G.

Na ARX, a gestão ativa promove uma reciclagem dos ativos com frequência, para trazer retorno aos fundos, diz Dias. No ARX Hedge Incentivados Infra, mais de 50% da carteira corresponde ao setor elétrico, com ênfase nos setores mais defensivos, como transmissão e distribuição de energia. “Transmissão é um dos mais defensivos dentro de crédito privado, pela estabilidade de receita, que é indexada à inflação. Por outro lado, temos evitado, dentro do setor elétrico, a alocação de energia eólica pelas incertezas em relação à capacidade de escoar a energia gerada”, ressalta Dias.

Com foco em project finance, a RB Asset tem predileção por debêntures incentivadas atreladas a projetos por oferecerem mais garantias. Segundo Ohmachi, a gestora tem apresentado bons resultados por saber selecionar bem as ofertas. “Gostamos de entrar em projetos e não necessariamente tomamos mais risco por isso. Não entramos quando o prêmio não compensa o risco. É importante saber escolher ofertas, os ativos e alocar bem. Por outro lado, é fundamental ainda enxergar as oportunidades para a venda”, detalha Ohmachi.

Fonte: https://valor.globo.com/guia-de-fundos/fundos-de-investimento/noticia/2024/12/18/debentures-incentivadas-batem-recorde-neste-ano.ghtml

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