O Globo – Uma semana depois de receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva num evento de lançamento do Programa Novo Carajás, que prevê R$ 70 bilhões em investimentos em cinco anos, a Vale anunciou um corte nos aportes previstos para 2025, mas a diretoria da mineradora garantiu que isso não significa atrasos nos projetos nem reduções de escopo.
Por isso, o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, disse não ver contradições entre o anúncio da semana passada, com sinalizações de investimentos em “parceria” com o governo, e a decisão de encolher os aportes previstos para este ano.
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O convite a Lula para o lançamento do programa de investimentos, aparentemente, selou de vez a paz entre a Vale e o governo federal. Ao longo de 2024, a Vale chamou mais a atenção por causa do turbulento processo de sucessão de seu comando, que só começou a acalmar em agosto, quando Gustavo Pimenta, então vice-presidente responsável pela área de finanças e relação com investidores, foi indicado para substituir Eduardo Bartolomeo.
As dificuldades de relacionamento não só com Brasília, mas também com os governos de Minas e do Pará, foram frequentemente citadas como um dos motivos para a saída de Bartolomeo.
A presença do presidente Lula na cerimônia, realizada no complexo de Carajás, no sul do Pará, foi simbólica também porque se tratava do lançamento de um programa de investimentos. Em declarações públicas no auge dos atritos entre Vale e o governo, Lula dava um tom de cobrança por mais aportes da mineradora em grandes empreendimentos.
Questionado se o corte nos investimentos de 2025 não poderia gerar novos atritos com o governo Lula, Pimenta garantiu que os valores menores produzirão a mesma expansão já planejada:
— Nesse ajuste, não estamos deixando de fazer nada. Temos um olhar de ser o mais eficiente possível. Se pudermos fazer a mesma coisa com menos esforço, essa é a missão do time, é a minha missão, sempre pensando em segurança dos nossos empregados e na qualidade dos nossos ativos.
Segundo o executivo, não haverá redução de projetos.
— Essa economia que buscamos este ano não significa, em nenhum momento, que estamos postergando, deixando de fazer algo. Muito pelo contrário, a gente segue acelerando o plano de desenvolvimento — completou Pimenta.
A Vale agora espera investir US$ 5,9 bilhões este ano, em vez dos US$ 6,5 bilhões previstos anteriormente. A revisão maior foi nos projetos voltados para o crescimento da produção de “metais para transição energética”, como cobre e níquel.
Nas projeções anteriores, a Vale estimava que esses tipos de minerais receberiam investimentos entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões este ano. Agora, o valor está em US$ 2 bilhões, informou a mineradora, num comunicado específico.
Investidores e analistas receberam bem o anúncio do corte no valor dos investimentos porque isso significa maior geração de caixa para a companhia, abrindo espaço para lucros maiores e, portanto, mais dividendos a serem pagos aos acionistas — o que, no fim das contas, aumenta a rentabilidade do investimento nas ações.
Motivos para otimismo
Para Igor Guedes, analista da corretora Genial Investimentos, há motivos para estar mais otimista com a Vale nos últimos seis meses.
Em primeiro lugar, acordos definiram os valores que serão efetivamente gastos com a reparação pela tragédia de Mariana (MG) — onde o rompimento de uma barragem de uma empresa controlada pela Vale matou 19 pessoas em 2015 — e com a renegociação da renovação antecipada de duas concessões de ferrovias.
Além disso, custos operacionais ficaram controlados no quarto trimestre e uma nova estratégia comercial, que aumentou os estoques de minério de ferro à espera de preços melhores de venda, aumentou, já no quarto trimestre de 2024, o valor a mais pago pelos clientes pela alta qualidade dos produtos da Vale.
— A empresa falava em “valor acima de volume”, mas não praticava — afirmou Guedes. — É um começo para lidar com uma demanda chinesa estruturalmente menor. O que não dava era o que víamos antes: o empilhamento de estoques de minério de ferro nos portos da China.
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