O Globo – O aeromóvel que vai conectar a Linha 13-Jade da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) aos três terminais do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), que era para ter ficado pronto em fevereiro do ano passado, deve atrasar pelo menos até agosto. A informação foi repassada ao GLOBO pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que acompanha as obras junto à concessionária GRU Airport. A companhia, por sua vez, não respondeu os pedidos de informação da reportagem desde o início do mês.
O modal entrou em fase de “pré-operação” em janeiro deste ano, depois da entrega física dos principais equipamentos e sistemas pelo consórcio liderado pela Aerom. Composto por três veículos articulados com capacidade para 240 passageiros, o “Automated People Mover” de 2,7 quilômetros e quatro estações deve abreviar as viagens para seis a nove minutos, a depender da demanda, sem custo ao usuário. O trajeto hoje é feito por ônibus.
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O GLOBO acompanhou uma sessão de testes no dia 9 de março, um domingo. Atualmente, a rodagem está restrita aos finais de semana, por dez horas consecutivas — de modo a não atrapalhar o andamento dos trabalhos da Certifer, empresa francesa contratada para verificar o nível de segurança e conformidade do aeromóvel, nos dias úteis.
Apesar do prazo oficial dado pela GRU Airport, funcionários que acompanham os testes entendem que o transporte deve estar apto a receber passageiros aos sábados e domingos a partir de maio, após uma autorização parcial da certificadora. Nessas condições, a abertura ficaria a critério da concessionária, caso entenda que a operação seria vantajosa do ponto de vista administrativo.
Aeromóvel de Guarulhos
O projeto tem custo de R$ 271 milhões bancados pela administradora do aeroporto, em recursos que a União deixou de arrecadar com a operação em Guarulhos. “O processo administrativo sancionador instaurado após a constatação da não entrega do investimento na data prevista continua sob análise, podendo culminar em aplicação de multa pelo atraso”, declarou a Anac, por meio de nota.
Justificativa
Marcus Coester, CEO da Aerom, justificou o atraso por conta de uma análise do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o contrato. Apesar de não ter contado para os 24 meses de prazo inicialmente acordados, ele alega que a parada prejudicou o planejamento das obras e a compra de materiais. Outro ponto citado é o parâmetro de segurança exigido, de nível 4, o mais elevado na escala de certificação de projetos de infraestrutura.
— O tempo médio da implantação do People Mover no mundo é de cinco anos. O de Los Angeles (3,6 quilômetros e seis estações) começou em 2019, dois anos antes de Guarulhos, e só vai ficar pronto em 2026. São sistemas que envolvem uma complexidade grande, e é uma obra cirúrgica, porque se trabalha dentro de um aeroporto em funcionamento — aponta o dono da empresa, a mesma que construiu o aeromóvel que liga o Trensurb ao Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre (RS).
O governo Lula chegou a prometer a abertura do sistema para o primeiro semestre de 2024. Foi em fevereiro do ano passado, pouco antes do estouro do prazo, quando os ministros Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Renan Filho (Transportes) estiveram no canteiro de obras. Desde então, apesar de distante da agenda política de Brasília, o aeromóvel foi objeto de consulta constante da Anac.
Disputa de paternidade
A inauguração do aeromóvel deve ter ainda um componente político. Ainda que a responsabilidade total da obra seja do governo federal, o projeto foi assinado quando o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), era o ministro de Infraestrutura do governo de Jair Bolsonaro (PL), com participação ativa do ex-governador João Doria.
Tarcísio, inclusive, costuma dar pitacos sobre o andamento das obras. Ao comentar os seus planos para ligar os três grandes aeroportos do estado (Guarulhos, Congonhas e Viracopos) através de linhas de trem, o governador paulista disse que, “provavelmente em março, vamos entregar aquela linha do monotrilho que une a última estação da CPTM em Guarulhos até o Terminal 3”.
O próprio governo estadual admite que não tem gerenciamento sobre o projeto, apesar de a Fazenda ter isentado parte dos materiais de Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), modo a baratear os custos da implantação.
Essa obra se somaria a outra que é esperada pela população de São Paulo desde a Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil: a Linha 17-Ouro do monotrilho do metrô, na Zona Sul, esta sim sob responsabilidade do governo do estado.
Depois de nove paralisações, a obra prometida por Geraldo Alckmin foi retomada e tem previsão de ficar pronta até junho de 2026, após a passagem de três governadores diferentes pelo Palácio dos Bandeirantes. O trajeto de 6,7 quilômetros e oito estações conecta o Aeroporto de Congonhas à estação Morumbi, da Linha 9-Esmeralda.
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