O Globo – De uns anos para cá, as linhas de trem europeias vêm gerando uma empolgação como raramente se viu até hoje — e as empresas ferroviárias, ansiosas para lucrar com esse entusiasmo renovado, estão se empenhando em criar novos destinos, ressuscitar outros, antigos, e/ou simplesmente aumentar o número de assentos nas rotas mais populares. Há também aquelas que estão investindo no filão do luxo, recriando a opulência que esse tipo de viagem tinha em tempos passados.
O resultado é um sem-fim de opções que até dificulta a escolha; aqui, porém, selecionamos aquelas que são consideradas clássicas — rotas testadas e aprovadas, de fácil acesso, proporcionando os belos cenários que enchem o viajante de prazer há décadas, ou, às vezes, há mais de um século. A maioria tem horários diários e não custa muito, mas, ainda assim, contém detalhes especiais que tornarão sua viagem confortável, deslumbrante e inesquecível.
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1. Áustria — Transalpino Eurocity
O Transalpino que faz o trajeto de Zurique a Graz, na Áustria, é um dos poucos que têm o vagão panorâmico da Swiss Federal Railways SBB na primeira classe, cujos janelões, curvos e altos, revelam cenas belíssimas dos Alpes. Quando o tempo está bom, dá para passar a maior parte das nove horas e meia de viagem (só opera durante o dia) admirando as montanhas, as campinas, os lagos translúcidos e os vilarejos tranquilos do percurso.
Atravessando praticamente a Áustria inteira, o trem para em resorts de montanha populares, que aumentaram a variedade de atividades promovidas durante o ano inteiro — como caminhadas, passeios ciclísticos, esportes aquáticos e hospedagem rural — para complementar os tradicionais esportes de inverno.
O restaurante serve schnitzel, knödel e outros pratos típicos e vinhos austríacos, e, se estiver na primeira classe, você pode ser atendido no próprio assento, se preferir. Há opções de café da manhã servidas com os pãezinhos fofos Kaiser a partir de 6,60 euros (cerca de R$ 42), pratos principais a 11,40 euros (R$ 72) e um cardápio sazonal com opções veganas e vegetarianas.
Graz, segunda maior cidade da Áustria, tem um bairro histórico muito gostoso às margens do Rio Mur, e é um excelente ponto de partida para uma aventura pela Europa Central graças às ótimas conexões com Viena, Praga, Budapeste e outras tantas cidades.
Os preços dos bilhetes da Austrian Federal Railways começam em 40 euros (R$ R$ 255) para a segunda classe, e 60 euros (R$ 382) para a primeira. Se puder, opte pelos trens EC163 ou 164: com três euros de reserva, dá para pegar um assento na primeira classe e ainda escolher a poltrona no vagão panorâmico.
2. Suíça — Treno Gottardo
A Linha do Gotardo, um dos principais portais entre a Suíça e a Itália, combina paisagens dramáticas com façanhas inacreditáveis de engenharia. Para aproveitar o cenário ao máximo, opte pelo Treno Gottardo, direto, que sai da Basileia, de Zurique ou de Locarno e segue pelo Túnel Gotardo original, de 1882, a mais de 900 metros de altitude. Percorre o trecho em dez minutos, permitindo aos passageiros tempo mais que suficiente para apreciar a vista de ambos os lados. Você pode ficar tentado a parar e explorar o cantão de Ticino, italoparlante, antes de seguir para Milão ou Veneza em trens diretos.
Ao sul do Lago Lucerna, o trem passa por uma série de pontes e túneis espiralados até alcançar os picos nevados antes de descer rumo a Locarno, na orla enfeitada por palmeiras do Lago Maggiore. O corpo de águas azuis é ladeado por encostas íngremes e faz a divisão entre a Suíça e a Itália. Em suas ilhotas, há palacetes elegantes e jardins vistosos.
As passagens para Locarno custam 32 francos suíços (cerca de R$ 216) saindo da Basileia, ou 24 francos (R$ 162) com saída de Zurique, e podem ser adquiridas pelo site Südostbahn.
3. Itália — Intercity Notte para a Sicília
O trajeto de Milão ou Roma para a Sicília está entre as rotas diretas mais longas da Europa — e embora a distância talvez seja grande demais para ser percorrida durante o dia, pode ser perfeita como viagem noturna.
De fato, os dois trens que antes faziam esse percurso — o Freccia del Sud, ou Flecha do Sul, e o Treno del Sole, ou Trem do sol — tiveram um papel importante na migração interna, do sul rural para o norte industrial, no pós-guerra.
O viajante hoje pode pedir o jantar ou ir para a cama logo depois do embarque e acordar com o solão e as paisagens costeiras do sul. O ponto alto é por volta da hora do café da manhã, quando todos os vagões já estão acomodados na última balsa mista (para trens e passageiros, com direito até a trilhos) da Europa para atravessar o Estreito de Messina rumo à Sicília. A etapa final é feita no belíssimo cenário ao longo da costa para Palermo ou Siracusa.
A passagem mais barata do Trenitalia (em poltrona leito no compartimento básico para quatro pessoas) para Milão ou Roma sai a 50 euros (cerca de R$ 338). O beliche triplo e a cabine privativa com banheiro são mais caros. Todas as tarifas incluem o café da manhã.
4. Escócia — Linha West Highland
Logo depois de sair de Glasgow, o trem se volta para o norte, deslizando entre os lagos de superfície brilhante, e segue rumo à vastidão selvagem das terras altas. Depois de três horas, chega à estação Corrour, situada em uma área pantanosa imensa acessível apenas a pé ou de trem, onde há um café e de onde saem várias trilhas de caminhada. Além disso, é famosa por uma cena de “Trainspotting”, de 1996, na qual o personagem de Ewan McGregor aparece cercado pelas montanhas e faz um desabafo, confessando quanto é insuportável ser escocês.
Mais à frente, Fort William é a parada ideal para a subida da Ben Nevis, montanha mais alta do país — e, antes de chegar a Mallaig, o trem atravessa a Ponte Glenfinnan, da era vitoriana, muito popular entre os diretores de cinema e vista, mais recentemente, na série “The Crown”, da Netflix. Do porto de Mallaig é possível pegar a balsa para a Ilha de Skye e explorar seus castelos e seu litoral dramático.
A empresa ScotRail oferece vários trens diários, com a passagem só de ida mais barata a 20 libras (cerca de R$ 150), e passes de viagem por um preço fixo para quem pretende fazer paradas ao longo do caminho.
5. França – Trem da Côte d’Azur
Inspirada nas águas azuis do Mediterrâneo, essa viagem de Marselha a Miramas leva menos de duas horas, e é popular graças à primeira parte — até a cidadezinha pesqueira de Martigues —, onde acompanha os penhascos brancos que dão no mar. Na verdade, passou por uma reforma mais que necessária há pouco tempo para reforçar a segurança e evitar a interdição.
A melhor forma de aproveitar o passeio, saindo do centro de Marselha, é parando ao longo do caminho para apreciar as atrações. Da estação L’Estaque, é possível fazer um tour a pé pelos locais que inspiraram pintores como Paul Cézanne e Georges Braque; seguindo a trilha na orla de Niolon a Cap Méjean, você chega a uma série de calanques, ou enseadas rústicas de calcário que lembram minifiordes. Nessa região, eles não são tão preservados quanto os do parque nacional no sul de Marselha, mas o porto minúsculo e a ponte ferroviária imponente que se erguem sobre o mar azul, como em Méjean, lhe emprestam uma característica toda especial.
O porto de Sausset-les-Pins fica a curta distância da estação e oferece várias opções de restaurantes à beira-mar. Em Martigues, um ônibus o levará ao centro para ver as casas em tons pastel que margeiam os canais.
O bilhete da empresa ferroviária nacional SNCF mais barato sai a 13,20 euros (cerca de R$ 84). Comprando o passe diário para o departamento de Bouches-du-Rhône, onde fica Marselha, você pode embarcar e desembarcar quantas vezes quiser ao longo do caminho por 20 euros (R$ 127).
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