G1 – Empresa vencedora do leilão das linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade da CPTM, o Grupo Comporte Participações S.A deve assinar o contrato de concessão com o governo de São Paulo ainda no no 1° semestre de 2025, segundo o Palácio dos Bandeirantes.
A Secretaria de Parcerias em Investimento (SPI) afirma que, após a assinatura do contrato, começa o processo de transição de trens por parte da CPTM para a empresa vencedora.
Para evitar as falhas ocorridas a partir de 2022, quando a Viamobilidade assumiu as linhas 8 e 9, a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) diz que o processo de transição total entre CPTM e Comporte deve durar ao menos dois anos.
“O novo contrato [que será assinado] traz uma série de inovações e aprimoramentos regulatórios, incluindo um programa de investimentos iniciais e uma fase de transição operacional de 24 meses, com previsão de treinamentos e operação assistida da concessionária”, disse a pasta.
Segundo a pasta, “essa fase tem como objetivo garantir uma migração eficiente entre a gestão da CPTM e a nova concessionária, proporcionando mais segurança e continuidade na prestação do serviço”.
👉 Controlado pela família do fundador da companhia aérea Gol – Nenê Constantino – o Grupo Comporte superou a Viamobilidade no leilão realizado na B3 na última sexta (28), arrematando as três linhas da CPTM pelo valor de R$ 14,3 bilhões em investimento, além de também ter a obrigação de operar o Expresso Aeroporto.
Parte desse valor – R$ 10 bilhões – será ressarcido pelo estado ao longo dos 25 anos de concessão.
A empresa ofereceu desconto de 2,57% ao governo paulista sobre os pagamentos que receberá futuramente, com valor máximo de R$ 1,49 bilhão por ano. Isso significa uma economia de cerca de R$ 1 bilhão ao longo da concessão, segundo o governo paulista.
Hegemonia perdida
Assim que a nova empresa assumir e as novas linhas privadas forem inauguradas em 2026, o estado de São Paulo perderá a hegemonia na administração direta das linhas de transporte sobre trilhos na Grande SP.
Atualmente, o estado tem nove linhas sob sua responsabilidade direta na operação: cinco linhas da CPTM e quatro do Metrô. Já a iniciativa privada é responsável pela operação de quatro linhas: duas de trens e duas de metrô.
Duas linhas privadas também estão em construção e devem mudar a lógica da operação das linhas de transporte sobre trilhos na Grande SP, que devem ficar da seguinte forma:
- Empresas privadas – operação de 10 linhas (sete de trens, três de metrô)
- Governo de SP – 5 linhas (quatro de metrô + monotrilho e uma de trem)
Trens metropolitanos (sete linhas):
- 7 – Rubi – TiC Trens (dezembro de 2024 começou a operação assistida em conjunto com a CPTM e em 26 de novembro de 2025 inicia operação privada total);
- 8 – Diamante – ViaMobilidade;
- 9 – Esmeralda – ViaMobilidade;
- 11- Coral – Grupo Comporte;
- 12 – Safira – Grupo Comporte;
- 13-Jade – Grupo Comporte;
- 17-Ouro (Monotrilho) – ViaMobilidade (entrega prevista para 2026).
Linhas privadas de metrô (três linhas):
- 4 – Amarela – ViaQuatro;
- 5 – Lilás – ViaMobilidade;
- 6 – Laranja – Concessionária Linha Uni / Acciona (Entrega prevista para outubro de 2026).
Linhas operadas pelo governo de SP (cinco linhas):
- 1-Azul– Metrô;
- 2-Verde – Metrô;
- 3-Vermelha – Metrô;
- 15-Prata (Monotrilho) – Metrô;
- Linha 10-Turquesa -CPTM.
Como foi o leilão
A Comporte ofereceu 2,57% de desconto sobre os pagamentos que receberá do governo paulista, com valor máximo de R$ 1,49 bilhão por ano. Contratos de concessão preveem que o poder público pague à empresa pela prestação do serviço.
A CCR, derrotada na disputa, ofereceu 1,45% de desconto. Como a diferença entre as propostas foi acima de 20%, não houve nova rodada de lances.
Com a proposta da Comporte, o estado economizará até R$ 38,2 milhões por ano, ou R$ 957 milhões ao longo dos 25 anos de concessão.
“As pessoas às vezes não têm noção do que que é um desconto de 2,57% na contraprestação, mas isso, ao longo do período de concessão, a gente tá falando de R$ 1 bilhão, é muito significativo”, comentou o governador Tarcísio de Freitas.
O Grupo Comporte é o mesmo que vai construir o trem entre a capital paulista e Campinas, no interior de SP.
“A Comporte, mais uma vez, está aqui presente. Muito feliz de conquistar mais essa concessão e agradecer também à família Constantino, que nos confiou também a condução dessa proposta”, disse José Efraim Neves, diretor institucional da Comporte, após anúncio do resultado.
Histórico de falhas das linhas 8 e 9
Como o g1 mostrou, as duas linhas de trem operadas pela concessionária ViaMobilidade apresentaram quase o dobro de falhas do que as registradas em quatro linhas da CPTM (7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral e 12-Safira) nos últimos três anos.
Na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), a oposição chegou a dizer que o governo de Tarcísio estaria indo por “um caminho equivocado” ao entregar novas linhas de trem para a iniciativa privada sem antes resolver problemas das linhas que já foram transferidas ao setor privado.
Ele se referem às constantes falhas registradas nas linhas Linha 8-Diamante e 9-Esmeralda, após serem repassadas para a Viamobilidade em 2022.
Os problemas enfrentados pela concessionária foram inclusive objeto de investigação do Ministério Público de São Paulo e levaram o governo paulista a aplicar mais de R$ 40 milhões em multas à empresa do Grupo CCR.
Responsável pelo edital do leilão, Augusto Almudin afirma que o governo paulista previu nesse novo processo de concessão mecanismos para que as falhas registradas no início da operação da ViaMobilidade não se repitam de novo.
Quem é o Grupo Comporte
O Grupo Comporte é administrado pela família do empresário Nenê Constantino, um dos principais nomes no ramo de transporte do Brasil e fundador da empresa Gol Linhas Aéreas.
A empresa administra atualmente o metrô de Belo Horizonte (MG) e, em fevereiro do ano passado, se juntou à empresa chinesa China Railway Construction Corporation (CRCC) no “Consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos”.
O consórcio venceu o leilão do Trem Intercidades (TIC) para construção da linha de trem que deve ligar as cidades de São Paulo e Campinas, prometendo investimentos de R$ 14,2 bilhões na obra e tarifa de R$ 64 no serviço. A empresa também vai administrar a linha 7-Rubi da CPTM.
A Comporte Participações S.A. é uma holding que também controla várias empresas de ônibus no estado de São Paulo, como a Viação Piracicabana, Expresso de Prata, Expresso Itamarati e Viação Luwasa, por exemplo.
A companhia opera atualmente o VLT entre as cidades de Santos e São Vicente, no litoral Sul de São Paulo, através da subsidiária BR Mobilidade, além de ser dona de aplicativos de vendas de passagens de ônibus como Mobifácil e 4Bus.
Seja o primeiro a comentar