Setor de logística e transporte lidera a emissão de debêntures incentivadas em 2025

Valor Econômico – O robusto programa de concessões dos governos federal e estaduais na área de logística vem animando os bancos e acena para um horizonte de muitas operações neste ano e nos próximos. As ofertas de debêntures incentivadas no mercado de capitais têm sido o destaque.

As emissões de debêntures incentivadas, regidas pela Lei nº 12.431/2011 – que dão isenção do Imposto de Renda para os investidores, respeitadas algumas condições –, saíram de R$ 40,8 bilhões em 2022 para R$ 135,01 bilhões em 2024. E este ano já começou aquecido: só no primeiro bimestre, chegaram ao mercado R$ 25,91 bilhões, a maioria (51%) em transporte e logística. Considerando só fevereiro, o setor liderou as emissões, com quase 60% do volume total, equivalente a R$ 7,6 bilhões. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

“Em 2024, o número já foi recorde. Para 2025, estão previstos leilões de rodovias nas esferas federal e estadual que implicam R$ 200 bilhões em investimentos contratados”, diz Ricardo Ivan Valente Lee, head de project finance logística do Santander Brasil. “Hoje temos 22 mandatos de assessoria e crédito em andamento. E a expectativa com o pipeline de leilões neste ano é que ao longo dos próximos meses os mandatos de assessoria aumentem”, observa Lee.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aumentou em dez vezes o volume financeiro destinado à infraestrutura de 2021 para cá, usando todos os seus instrumentos de financiamento, e tem aprovado para este ano R$ 80 bilhões para esta finalidade. O banco esteve bem ativo nas últimas concessões, tanto em rodovias quanto em mobilidade urbana. “O mercado de capitais se tornou instrumento importante, pois debênture é modalidade mais líquida do que o Finem – linha tradicional de financiamento do banco e que representa cerca de metade das aprovações. Mas o crescimento do uso do mercado de capitais tem acelerado”, afirma Luciana Costa, diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do BNDES. A executiva explica que a intenção é aumentar o cofinanciamento e deixar o Finem para quando o banco for financiar sozinho.

Para dar suporte ao crédito longo, o banco lançou no meio de 2024 as debêntures faseadas. “A gente subscreve debêntures pelo prazo do contrato e vai integralizando e desembolsando a operação de acordo com o projeto. Com isso, o cliente reduz o custo de carregamento da dívida”, explica Costa. A primeira estruturação de debênture faseada – que também se vale da Lei nº 12.431 – foi a da Dutra. A operação foi de R$ 9,4 bilhões e o total financiado bateu em R$ 10,75 bilhões, sendo R$ 1,34 bilhão pelo Finem. O projeto Rio/Santos contou também com Itaú, Santander e Bradesco. “Foi a maior emissão de debêntures do país”, afirma a executiva. Em 2023 e 2024, entre rodovias, mobilidade urbana, portos, aeroportos e ferrovias, foram aprovados mais de R$ 60,8 bilhões.

Neste ano, a transação mais significativa foi a do EPR Litoral Pioneiro, que envolveu R$ 6,4 bilhões, sendo R$ 5,5 bilhões em incentivadas. E o BNDES já tem mais de R$ 30 bilhões no pipeline. “A maior parte é para rodovias, com dez projetos”, afirma Costa.

O BTG, que tem cinco mandatos para 2025, com volume de R$ 5 bilhões, já liquidou três transações neste ano de R$ 3,05 bilhões, envolvendo Ecovias Rio Minas, Ecovias e CLI. “Em 2024, foram mais de 20 emissões de logísticas distribuídas a mercado, que envolveram mais de R$ 30 bilhões. Com os juros altos, a demanda por papéis de renda fixa está muito forte. Quem vai querer investir em bolsa?”, diz Daniel Vaz, head de mercado de capitais de renda fixa e project finance do BTG Pactual.

O Itaú BBA também olha o setor com interesse, sendo que o total das emissões de logística que coordenou em 2024 foi de R$ 7,87 bilhões. O banco salienta o crescimento expressivo da participação do mercado de capitais no financiamento à infraestrutura de 2023 para cá. Segundo levantamento da instituição, em 2023 a demanda era de R$ 130 bilhões, sendo R$ 68 bilhões via debêntures incentivadas. “Em 2024, o crescimento de recursos passou para R$ 210 bilhões, sendo 65% via mercado de capitais”, afirma Rogerio Yamashita, responsável pela cobertura de infraestrutura em project finance no Itaú BBA.

“A expectativa é que em 2025 continue forte porque, quando o sponsor assina o contrato de concessão, contrata as obrigações de investimentos associadas e não pode parar”, observa. Ele espera por mais 27 leilões de rodovias neste ano, sendo 15 federais e 12 estaduais – projetos que demandariam R$ 120 bilhões.

São justamente as concessões de rodovias que vêm mais atraindo o mercado. Embora estejam previstos leilões de ferrovias, portos, mobilidade urbana e aeroportos, o interesse maior é pelos leilões de rodovias, segundo Fernando Guimarães, head de project finance do Bradesco BBI. No ano passado, o banco coordenou operações de renda fixa que totalizaram R$ 88 bilhões (parcela do BBI). No setor de logística (incluindo rodovias, ferrovias, mobilidade urbana e portos), as ofertas totalizaram cerca de R$ 21 bilhões, destacando-se rodovias, com R$ 14 bilhões. “No ano passado também houve dez leilões de rodovias, com 15 grupos participantes, e oito levaram lotes. Os investimentos dos dez lotes dão R$ 70 bilhões para frente”, conta Guimarães.

Fonte: https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/revista-logistica/noticia/2025/04/14/setor-de-logistica-e-transporte-lidera-a-emissao-de-debentures-incentivadas-em-2025.ghtml

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