A relevância das linhas de metrô na mobilidade urbana

Folha de S. Paulo – À medida que as cidades crescem, melhoram seu desempenho econômico e se expandem territorialmente, a construção de infraestrutura urbana desempenha um papel fundamental na evolução desse modelo. Um sistema de transporte baseado no tráfego rodoviário tem limites físicos e operacionais, e a partir de determinado ponto no processo de desenvolvimento das cidades, o deslocamento das pessoas efetuado por meio de transporte de massa passa a ser fundamental para garantir uma mobilidade adequada no território urbano.

Nesse contexto, o metrô se torna um modal de grande importância na escolha da forma de viagem, entre transporte público e transporte privado. Pesquisadores urbanos têm-se dedicado a estudar esse assunto, e os resultados desses estudos evidenciam alguns aspectos interessantes.

Na China, pesquisas mostram que, embora a proximidade de uma estação possa aumentar a probabilidade de as pessoas preferirem o metrô como meio de transporte, isso não afeta o desejo de posse do automóvel. Por outro lado, analisando o impacto das linhas de metrô na propriedade de carros, bicicletas, e-bikes e motocicletas, descobriram que o metrô e as bicicletas se complementam, mas o metrô substitui as e-bikes e as motocicletas. As pesquisas mostram ainda que a abertura de uma nova linha de metrô, além de induzir ao uso do transporte público, reduz significativamente a probabilidade de as pessoas usarem os ônibus.

Pesquisa de Origem e Destino efetuada pela Companhia do Metrô em São Paulo confirma esses resultados. Entre 2007 e 2017, embora o número de veículos tenha aumentado em 22,8%, o crescimento do número de viagens diárias de veículos foi de apenas 6%. Ao mesmo tempo, houve um aumento de 86% no número de viagens em linhas de metrô e uma diminuição de 26% nas viagens de ônibus.

Segundo a AITP (Associação Internacional de Transporte Público), em 2020, existiam no mundo 193 cidades com linhas de metrô, perfazendo uma extensão total de 17.221 km, que concentravam cerca de 13 mil estações, por onde passavam anualmente 58 bilhões de pessoas.

Ainda segundo a AITP, as cinco cidades com as maiores linhas de metrô no mundo estavam na China, lideradas por Xangai, com 694 km.

São Paulo, embora tenha uma rede com 104 Km, destacou-se em 2019 entre as cidades que transportaram mais de 1 bilhão de passageiros: Londres e Paris (1,5 bi), São Paulo e Shenzhen (1,2 bi) e Singapura (1 bi). No mesmo período, Xangai transportou 2,83 bilhões de passageiros, ficando em primeiro lugar também nesse quesito.

A empresa de guias de viagem Frommers classificou as melhores redes de metrô do mundo em termos de qualidade, considerados os seguintes aspectos: acessibilidade nas estações; conveniência em termos de horário de operação e formas de pagamento; conectividade; preço das viagens; capacidade e eficiência da rede; e regras para o acesso de animais de estimação. Pela ordem, as seguintes cidades apresentaram o melhor desempenho nesses quesitos: Seul, Londres, Estocolmo, Tóquio, Nova Iorque e Paris.

Muitas cidades do mundo desenvolveram e ainda vão desenvolver novos sistemas e novas linhas de metrô, que certamente impactarão os ambientes naturais e construídos. Mas devem reduzir a poluição atmosférica e as emissões de gases com efeito de estufa, além de incentivar novos modelos de ocupação urbana, como o aumento da densidade populacional em determinados locais, e novos usos urbanos para o subsolo das cidades.

No entanto, existem, e devem ser avaliados, os impactos positivos e negativos dos sistemas de metrô, tanto na busca pela igualdade de oportunidades de deslocamento, acessibilidade, conectividade e saúde pública, como, de forma abrangente, no desenvolvimento econômico, social e ambiental das cidades.

O pleno conhecimento dos efeitos das linhas de metrô no desenvolvimento e operação das cidades pode alimentar a conceituação de modelos de desenvolvimento urbano mais eficientes, e retroalimentar o planejamento da ampliação das redes de transporte.

Fonte: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/claudiobernardes/2025/06/a-relevancia-das-linhas-de-metro-na-mobilidade-urbana.shtml

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