Valor Econômico – Cada US$ 1 investido em adaptação climática pode trazer mais de US$ 10 em benefícios ao longo de 10 anos. O retorno potencial é de mais de US$ 1,4 trilhão, com retorno médio de 27%. Se o investimento for feito na saúde com a intenção de se proteger vidas de impactos climáticos como estresse térmico, malária e dengue, o desempenho pode ser superior a 78%. Um novo estudo indica que o financiamento para adaptação e resilência à crise climática são urgentes e uma boa decisão de desenvolvimento.
Os dados estão no estudo “Strenghtening the investment case for climate adaptation: a triple dividend approach” lançado hoje pelo World Resources Institute, o WRI, um instituto global de pesquisa. O estudo se baseia em uma metodologia criada pelos pesquisadores do WRI chamada Triplo Dividendo de Resiliência (TDR). A intenção é avaliar os benefícios de 320 investimentos em adaptação em água, agricultura, infraestrutura e saúde feitos em 12 países, inclusive o Brasil, entre 2014 e 2024.
Os três dividendos se referem a perdas evitadas, a avaliação mais comum nos investimentos em adaptação -ou seja, o quanto certo investimento pode proteger a infraestrutura, por exemplo. O segundo dividendo trata dos benefícios econômicos induzidos. “Por exemplo, em bairros do leste de Londres foi feito um grande investimento para combater enchentes, e isso trouxe valorização imobiliária e fez a região crescer”, diz Luana Betti, gerente de socioeconomia e finanças do clima no WRI Brasil.
O terceiro pilar é o dos benefícios sociais e ambientais que aqueles investimentos possam trazer. “Um parque urbano feito para resolver problemas de drenagem melhora a qualidade de vida, a qualidade de ar e reduz doenças respiratórias. Isso é um cobenefício induzido por um projeto de adaptação”, diz ela.
“Um dos achados mais marcantes é que os projetos de adaptação não dependem de desastres para gerar valor -eles produzem benefícios todos os dias: mais empregos, mais saúde, e economias locais mais fortes,” diz Carter Brandon, pesquisador sênior do WRI, em nota à imprensa.
Luana Betti diz que a ideia do estudo é trazer uma nova abordagem com argumentos de como avaliar investimentos em adaptação, que normalmente não atraem o setor privado. É diferente de mitigação climática. “Sabe-se quanto custa um painel solar, por exemplo, quem será o beneficiário, quem será o comprador. Em adaptação os benefícios são mais difusos, os custos, compartilhados. Há dificuldade em se avaliar, não existem dados padronizados para este tipo de investimento”, continua.
O relatório de 56 páginas constrói uma base de dados em 12 países em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina e onde vive 48% da população global – Bangladesh, Brasil, China, Colômbia, Etiópia, Gana, Índia, Quênia, Senegal, África do Sul, Uzbequistão e Vietnã. A análise são de projetos financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial, o Fundo de Adaptação da ONU, os bancos de desenvolvimento africano e asiático e uma série de bancos locais.
Um dos três resultados da análise é que, considerando os três dividendos, investimentos em adaptação tem grande impacto em termos econômicos, sociais e em retorno. Normalmente os bancos operam com uma taxa de 10% para viabilizar a operação, mas o estudo indica que a taxa média de retorno destes projetos foi estimada entre 20% e 27%.
Metade dos projetos analisados indica que, embora os investimentos em adaptação tradicionalmente têm foco na redução da vulnerabilidade climática, os benefícios acontecem mesmo sem que os desastres ocorram. “Os investimentos em adaptação que têm benefícios sociais e ambientais têm desempenho simultâneo em termos de desenvolvimento”, explica a economista, voltando ao exemplo dos bairros do leste de Londres.
O Brasil tem 26 dos 320 projetos analisados. “Aqui também o retorno dos investimentos é alto: 26,9%”, diz. Áreas de maior retorno são a agricultura sustentável e florestas, ou seja, restauração e recuperação de pastagens.
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