Valor Econômico – A iniciativa privada pode e está contribuindo para a promoção da transição energética. Mais do que isso: tem adotado iniciativas que podem reduzir a pegada de carbono nos respectivos processos produtivos. A avaliação é de executivos que participaram, no dia 18 de junho, no Rio, do evento “COP30 – Amazônia, transição energética e mercado de carbono”, realizado pelos jornais Valor e “O Globo” e pela rádio CBN, com apoio institucional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e do Instituto Clima e Sociedade. Para os executivos, o caminho rumo a uma economia de baixo carbono é irreversível e abre oportunidades de negócios para as empresas que apostarem em produtos verdes.
Gustavo Pinto, analista sênior do Climate Policy Initiative (CPI) da PUC-Rio, disse que as mudanças climáticas trouxeram mais incertezas, como a intensidade de chuvas e estiagens. A dificuldade de se prever fenômenos climáticos, avaliou, cria desafios para que se possam aproveitar oportunidades ou se proteger dos riscos. “Os eventos climáticos vão ficar cada vez mais intensos e se tem uma coisa de que firmas não gostam é de incerteza”, afirmou Pinto. O acadêmico foi um dos palestrantes do terceiro painel do evento, intitulado “como as empresas estão contribuindo para a transição rumo a uma economia de baixo carbono”.
Segundo o pesquisador, não há dicotomia entre desenvolvimento econômico e meio ambiente. Trata-se, na visão dele, de uma caminhada conjunta. Mitigar os efeitos das emissões de gases de efeito estufa, disse, é algo mais simples de se implementar, como captura de carbono. O que se torna mais difícil, acrescentou, são as adaptações do ambiente contra as mudanças climáticas. Isso passa por ter infraestruturas resilientes.
Pinto citou pesquisa do Banco de Investimento Europeu, na qual 88% das empresas informaram que aplicavam medidas de mitigação de efeitos das emissões, enquanto 33% recorreram a medidas de adaptação – mais caras e de difícil medição. Ele atribui às incertezas do clima o menor volume de aportes em adaptação climática.
Rafael Bittar, vice-presidente executivo técnico da Vale, afirmou que a COP30 é “a COP da mineração”, uma vez que nunca o mundo precisou tanto da atividade como agora. Isso porque, segundo ele, não há como fazer a transição energética andar sem uso de cobre, níquel e “terras raras”. Esses minerais são matérias-primas de tecnologias para a produção de energia limpa, como o lítio usado em baterias de carros elétricos e os painéis solares. “É possível, sim, ter uma mineração sustentável.”
As emissões da empresa, afirmou o executivo, estão nas operações de minas, que incluem veículos e ferrovias da companhia, e nos processos de pelotização. A empresa tem alto consumo de diesel e busca alternativas, como o biocombustível e a eletrificação da frota. A Vale tem, entre as iniciativas para descarbonização, um acordo com a Petrobras para fornecimento de óleo combustível para navios, com adição de 24% de biodiesel de segunda geração, a partir do processamento de óleo de cozinha usado para testes em embarcações da mineradora.
“Somos o maior consumidor individual de combustíveis do Brasil”, disse Bittar. A empresa também alcançou a meta de utilizar 100% de energia renovável nas operações. O grande desafio, avalia, é ser competitivo nos processos de descarbonização, sem elevar os custos de produção. Na mesma pegada, a Vale desenvolveu produtos para atender a demanda de redução de carbono de siderúrgicas, como o briquete, um aglomerado que elimina processos na cadeia dessas empresas.
Aspen Andersen, vice-presidente de gente, tecnologia e ESG da Vibra Energia, ressaltou que a empresa tem atuado com a oferta de combustíveis mais sustentáveis para setores com difícil descarbonização. Uma das iniciativas foi a primeira importação de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) da Bélgica para fornecer à empresa de táxi aéreo Líder. Além disso, há conversas com outras companhias aéreas para atender a demanda crescente pelo produto. O SAF importado teve origem em óleos vegetais, utilizados na fritura de alimentos.
Andersen avalia que a operação serviu de aprendizado e preparação para a Vibra diante da iminente vigência de uma obrigação de adição de biocombustíveis aos fósseis equivalentes. “Partindo do princípio de que seis de cada dez voos são abastecidos pela Vibra, precisamos garantir a preparação para que, à medida que o mercado aumente a busca por este combustível, nós estejamos prontos para assegurar nossa posição no mercado”, afirmou.
A Vibra Energia ainda realizou parcerias e aquisições de empresas de energia renovável para se tornar uma plataforma de energia. A mais expressiva foi a compra, em 2022, de 50% da Comerc Energia, com opção de aquisição da metade restante entre 2026 e 2028, o que foi antecipado e concluído em 2025. Com empresa de eletromobilidade EZVolt, realizou um aporte em 2022.
David Canassa, diretor da Reservas Votorantim, braço da holding com atuação em segmentos como fabricação de cimento, metalurgia e infraestrutura, afirmou que existem oportunidades “imensas” em todas as áreas que envolvem a conservação de florestas. “Na conservação e no plantio de florestas, temos grande oportunidade de contribuir para a mitigação de vários efeitos das mudanças climáticas.”
A Reservas Votorantim, segundo Canassa, foi criada há dez anos para responder ao questionamento sobre como fazer uma floresta em pé valer mais do que no chão. A empresa, que é baseada no modelo de uso múltiplo da terra, tem 130 mil hectares de terras plantadas na MataAtlântica, Cerrado e Pantanal. Segundo o executivo, a empresa não ingressou na Amazônia por falta de oportunidades.
Ainda assim, salientou que há um potencial de negócios de biodiversidade florestal não explorado na Amazônia. “Florestas conservadas podem ser um grande futuro para o PIB brasileiro”, avalia. Entre os negócios da empresa, está a gestão de territórios, a realização de pesquisas sobre a biodiversidade e a comercialização de créditos de carbono. “O Brasil, que é um dos países mais biodiversos do planeta, nem começou a entender o que temos em nossas florestas”, diz.
O projeto “COP30 Amazônia” tem patrocínio master de Eletrobras, patrocínio de JBS e Vale, apoio do Governo do Estado do Pará, do Governo do Estado do Acre e Suzano, e parceria institucional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e do Instituto Clima e Sociedade.
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