Correio Braziliense – O Governo do Distrito Federal (GDF) informou, neste sábado (28/6), que começaram as obras da expansão da Linha 1 no Ramal Samambaia da Companhia do Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF), com destaque para o Emissário Samambaia, as duas novas estações 35 e 36 e a estação de energia SR63. Segundo o GDF, nas estações 35, 36 e SR63, os canteiros das estações estão em fase de finalização. O canteiro é o ponto inicial para a execução da obra propriamente dita.
A expansão foi debatida em reunião técnica da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU) da Câmara Legislativa (CLDF), na semana passada, com a diretoria de operações do Metrô-DF. Entre as novidades mais aguardadas, está a compra de 15 novos trens, que prometem aumentar a oferta de viagens e até desafogar outros modais da capital. Mas um problema persiste: o deficit de servidores. O último concurso para a empresa, que hoje tem 1.229 empregados, foi realizado em 2013.
De acordo com o deputado Max Maciel (PSOL-DF), presidente da comissão que acompanha o tema, os 15 novos trens não irão substituir os modelos antigos, mas reforçar a frota atual, ampliando a capacidade do sistema para 47 em circulação. O investimento, estimado em R$ 900 milhões, já foi aprovado pelo Ministério das Cidades. A previsão é de que a licitação internacional seja concluída até 2026, com entrega dos trens nos anos seguintes.
“Segundo o cronograma apresentado, a entrega do primeiro trem ocorrerá 24 meses após a assinatura do contrato, com um trem sendo entregue por mês até completar a frota. Todo o processo, incluindo produção, entrega e período de garantia, pode levar até 60 meses”, explicou Maciel, presidente da comissão. Com a ampliação da malha e a renovação da frota, o Metrô-DF estima dobrar sua capacidade de transporte em até cinco anos e atender 420 mil passageiros por dia útil.
Outro ponto debatido na reunião foi a modernização do sistema de energia do metrô, que inclui a instalação de novas subestações, troca de cabeamentos e melhorias estruturais. A medida visa reduzir falhas operacionais e gerar economia para a empresa pública. “Isso impacta diretamente na estabilidade da operação e beneficia os usuários com menos interrupções, maior conforto (especialmente no uso do ar-condicionado) e um sistema mais sustentável”, destacou Maciel.
Impacto
Na avaliação do professor Otavio Henrique da Silva, da Universidade de Brasília (UnB), especialista em engenharia urbana, a ampliação da malha metroviária pode trazer como principal impacto o alívio do tráfego nas vias de Brasília, especialmente nos horários de pico. “Ao oferecer uma alternativa rápida, regular e com grande capacidade de transporte, o metrô atrai usuários que hoje dependem do carro. Isso melhora a fluidez do trânsito e reduz o tempo de viagem da população”, destaca o professor.
Para ele, o reforço da frota permitirá mais viagens e intervalos menores entre os trens, o que pode atrair novos usuários ao sistema e reduzir o número de veículos particulares nas ruas. “Com 15 composições adicionais, que transportam cerca de 1.300 pessoas cada uma, mais de 20 mil passageiros poderiam ser deslocados por viagem. Se parte dessas pessoas migrar do carro para o metrô, poderíamos ter cerca de 13 mil veículos a menos nas ruas, por viagem, considerando uma média de 1,5 pessoa por carro”, calcula.
Reforço da frota permitirá mais viagens e intervalos menores entre os trens, o que pode atrair novos usuários ao sistema e reduzir o número de veículos particulares nas ruas
Desafios
Apesar da expansão, o deficit de pessoal segue como uma das principais preocupações apontadas por autoridades e especialistas no setor. De acordo com a CTMU, o último concurso público foi realizado em 2013, e, desde então, o quadro funcional vem se desfalcando. Hoje, há uma necessidade estimada de ao menos 680 novos servidores para garantir o pleno funcionamento do sistema. Apesar da previsão de um novo concurso, o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2026 autoriza apenas 299 nomeações — número que cobre apenas 43% da demanda.
Maciel destacou que o colegiado tem acompanhado de perto o deficit de servidores do Metrô-DF e cobrado soluções do governo. “O diretor-presidente do Metrô-DF confirmou que há 190 vagas já autorizadas na LOA e que o concurso público está sendo estruturado. No entanto, esse número ainda é insuficiente, e a pressão institucional continua para garantir a força de trabalho necessária ao pleno funcionamento da rede”, afirmou. Segundo o parlamentar, a comissão chegou a oferecer emendas orçamentárias da CLDF para ajudar na contratação de pessoal, mas a proposta foi recusada pela companhia, sob o argumento de que os recursos do GDF seriam suficientes.
Para o especialista em mobilidade e membro do Instituto de Gestão de Trânsito Wellington Matos, a contratação de mais profissionais é tão fundamental quanto a aquisição de novos trens. “Aumentar o número de veículos não vai resolver o problema. Toda essa estrutura ainda precisa de pessoal. Por isso, é importante ter gente que entenda o processo e garanta não só a continuidade do funcionamento em boas condições, mas também a melhoria no atendimento à população”, defende.
Usuários
Usuária frequente do metrô, a aposentada Conceição Ferreira de Lima, de 66 anos, é uma das que aguarda as melhorias. Ela relata que os trens circulam lotados nos horários de pico e que a lentidão no início do dia afeta quem depende do sistema para chegar ao trabalho. “De manhã, a gente se arrasta, porque o metrô vai bem devagarinho de uma estação para outra. À tarde ele já anda mais rápido, mas continua muito cheio”, contou a moradora do Sol Nascente.
A professora Letícia Caroling, 30 anos, que também mora no Sol Nascente, avalia que a qualidade do serviço está aquém do esperado para a capital do país. “Pelo menos uma vez por mês o metrô quebra, falta energia ou tem problema nos cabos. Morei em São Paulo e lá o metrô é bem melhor”, comparou.
Matheus Roberto Algaier, 23 anos, desenvolvedor de software que mora em Águas Claras, relata que muitas vezes desiste de embarcar por conta da superlotação. “Você olha o trem e tá todo mundo comprimido lá dentro. Prefiro esperar o próximo, mesmo que demore 20 ou 30 minutos”, diz. Ele defende o aumento da frequência de viagens nos horários de pico e a criação de uma outra linha como solução a médio prazo.
Próximos passos
Em nota, a Secretaria de Mobilidade (Semob-DF), informou que a expansão do Metrô-DF nas regiões de Samambaia, Ceilândia e Asa Norte constava no Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) de 2011. No entanto, segundo a pasta, o documento “propõe diretrizes e políticas para o sistema de transportes para a década 2010-2020 e analisa as propostas em nível macro”. Por isso, grandes obras como linhas de metrô, corredores BRT e novas vias precisam ser precedidas de estudos técnicos detalhados, que comprovem a viabilidade “técnica, econômica e financeira” dos projetos no cenário atual.
A segunda audiência pública para debater a atualização do Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) e a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) acontecerá no próximo sábado. O evento começa às 9h, no auditório do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), no Setor de Autarquias Norte, e terá duração de três horas, com transmissão ao vivo pela internet.
A reunião será consultiva e aberta à participação de pessoas físicas, empresas e entidades da sociedade civil. Durante o encontro, serão apresentados os resultados das oficinas regionais e das pesquisas de campo realizadas em todas as 35 regiões administrativas do DF entre março e abril deste ano. Os participantes poderão sugerir propostas por escrito, por meio de um formulário distribuído no local. As instruções para acompanhamento virtual estão disponíveis no site https://sistemas.df.gov.br/PDTU.
Como vai ficar
Com 42,38 km de extensão, o Metrô-DF liga a área central de Brasília e as regiões administrativas de Ceilândia e Samambaia. Diariamente, entre 160 mil e 180 mil passageiros utilizam o sistema para se deslocar por pontos estratégicos como Asa Sul, Setor Policial Sul, EPIA, Guará, Park Way, Águas Claras e Taguatinga. A estrutura da via é em formato de “Y”, com um eixo principal de 19,19 km que conecta a Estação Central, na Rodoviária do Plano Piloto, à Estação Águas Claras. A partir de Águas Claras, o metrô se ramifica: um trecho de 14,31 km segue em direção a Ceilândia Norte, enquanto o outro ramal, com 8,8 km, atende a região de Samambaia.
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