Valor Econômico – A gestora canadense Brookfield vive um ciclo de reestruturações e potenciais vendas de ativos na área de infraestrutura no Brasil, entre eles, a Arteris, operadora de rodovias; a BRK Ambiental, de saneamento básico; a VLI, de ferrovias; e a Quantum, de transmissão de energia.
No caso da BRK, a empresa já viveu um ciclo de reestruturação interna nos últimos dois anos e hoje é apontada por fontes como uma candidata a reabrir o mercado de ofertas iniciais públicas de ações (IPOs, na sigla em inglês), uma vez que houver janela para isso. Nesse processo, a perspectiva é que a controladora faça o desinvestimento do negócio.
Em maio, o presidente da companhia, Alexandre Thiolier, afirmou em teleconferência com analistas que, “após vários anos sem IPO no Brasil, nós começamos a enxergar movimentações no mercado de capitais que indicam uma melhora”. O executivo disse que a BRK está preparada “para explorar um IPO, uma vez que as condições de mercado estiverem atraentes”.
Uma fonte do mercado destaca que a empresa já é registrada na categoria A na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que há interesse por parte de investidores no negócio.
A BRK já ensaiou um IPO em 2022, que não se concretizou. Uma dificuldade para o processo, segundo fontes, é a participação de 30% do FI-FGTS no capital, devido à falta de flexibilidade do fundo quanto ao preço. À época, atores do mercado disseram que a canadense também mirava um valor acima do que o mercado estaria disposto a pagar.
A abertura de capital já foi apontada pelo grupo, em relatórios a investidores, como um caminho de saída da empresa de saneamento. A BRK é um investimento do braço de private equity da gestora que já é considerado um ativo “maduro” e, por isso, candidato à venda.
Tal como a BRK, a Brookfield também tem outros ativos, em sua divisão de infraestrutura, que hoje passam por reestruturações – que, segundo fontes, buscam maximizar o valor das empresas para uma venda.
É o caso da Arteris e da VLI. Hoje, ambas enfrentam discussões com o governo federal que, na visão de pessoas a par do tema, deverão ser determinantes para a futura precificação das plataformas e para a decisão da Brookfield sobre ficar ou sair dos ativos.
A VLI, empresa na qual a gestora canadense é a maior acionista, com 36,5% do capital, negocia com o Ministério dos Transportes a renovação por mais 30 anos de sua maior concessão, a Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), em troca de R$ 30 bilhões de investimentos e pagamentos de outorga.
Ao longo dos últimos 12 meses, a negociação registrou altos e baixos, e fontes do poder público já chegaram a avaliar que o acordo com a companhia não sairia. Hoje, porém, pessoas que acompanham o assunto de perto dizem que as conversas caminham bem.
A Brookfield também já chegou a estudar a venda de sua participação do negócio de ferrovias, no fim de 2023, conforme noticiou o Valor à época. Porém, o processo não avançou e a gestora acabou fazendo o movimento contrário em 2024, ao comprar uma fatia adicional de 10% na companhia, colocada à venda pela Mitsui. Fontes afirmaram que a canadense viu uma oportunidade, devido ao preço pedido pela japonesa. Naquele momento, a gestora vinha participando ativamente das negociações com o governo, e a aquisição foi vista como uma aposta no sucesso da renovação da FCA, que deverá destravar valor na VLI.
Uma vez que a negociação da ferrovia estiver concluída e houver janela de mercado, fontes afirmam que a abertura de capital da operadora tende a avançar e poderá ser uma saída para a Brookfield, além de uma alternativa de capitalização para a empresa, que também tem como sócios a Vale (com 29,6%), o FI-FGTS (15,9%), a Mitsui (ainda com 10% das ações) e o BNDESPar (8%).
A Arteris é outra companhia que vive um ciclo de reestruturação que poderá maximizar seu valor para uma futura venda. A operadora de rodovias negocia a repactuação de cinco concessões com o governo federal, que poderão destravar R$ 45,5 bilhões de investimentos e resolver passivos regulatórios, conforme noticiado pelo Valor.
A Brookfield divide o controle do negócio de rodovias com a Abertis, com quem a gestora tem um relacionamento difícil, segundo fontes. Esse é um dos motivos pelo qual os sócios já avaliaram a venda da empresa, em 2022 – processo que não gerou grande interesse no mercado e, portanto, não avançou. Na visão das fontes, a canadense hoje demonstra mais interesse no segmento do que sua sócia.
Outro ativo que, na visão do mercado, é candidato à venda pela gestora é a companhia de linhas de transmissão Quantum. Em março deste ano, a “Bloomberg” noticiou que a canadense já havia contratado bancos para vender o negócio.
Uma fonte próxima ao tema afirmou que, neste momento, as instituições financeiras têm mandato para a venda de um dos ativos da companhia, a linha Mantiqueira, em Minas Gerais. A operação do ativo era compartilhada com a Cobra, do grupo Vinci, mas a participação da sócia foi comprada pela canadense no fim do ano passado.
Procurada pela reportagem, a Brookfield afirmou, em nota, que “não comenta eventuais transações”. A gestora disse que “as atividades de compra e venda de ativos são ciclos naturais que fazem parte do negócio da companhia” e que “estamos sempre avaliando oportunidades de reciclagem de capital de ativos maduros, consolidando taxas de retorno significativas que viabilizem novos investimentos”.
O grupo, que no Brasil atua também em outros segmentos, afirmou que nos últimos cinco anos comprou R$ 31 bilhões em ativos no país e vendeu R$ 20 bilhões em ativos maduros. A canadense tem mais de R$ 200 bilhões sob gestão no Brasil.
Procuradas, a Arteris, a BRK e a VLI preferiram não comentar. A Quantum Participações disse em nota que “não comenta especulações de mercado”.
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