Folha de Pernambuco – A assinatura do memorando de entendimento entre Brasil e China para viabilizar o Corredor Ferroviário Bioceânico Brasil-Peru marca um novo capítulo na integração logística sul-americana. Com uma extensão estimada de 4.500 km e previsão de ligação entre o porto de Chancay, no Peru – que recebeu relevantes investimentos chineses -, e o porto de Ilhéus, na Bahia, a ferrovia pode redefinir rotas comerciais entre América do Sul e Ásia. Mas enquanto a Bahia desponta como um hub logístico e exportador de alcance global, outros estados nordestinos correm o risco de ficarem à margem do novo fluxo de investimentos.
A Bahia pode tronar-se não só um importante elo no novo corredor interoceânico, como uma das principais rotas de saída das exportações brasileiras, graças à conexão de Chancay com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol). Isso dará ao estado baiano vantagem competitiva na atração de investimentos de indústrias exportadoras, do agronegócio e de fornecedores logísticos com interesse em acessar o mercado asiático via Atlântico-Pacífico. Algo que se traduz em estimulo ao crescimento do PIB baiano, a geração de empregos e a ampliação da sua base tributária.
Apesar do discurso oficial de que o corredor fomentará a integração nacional defendida na Constituição Federal, a atual modelagem desarticula outros estados nordestinos. A ausência de conexão direta entre os ramais da Transnordestina e a Fiol representa um gargalo. Sem essa integração, cargas produzidas em outros estados do Nordeste serão obrigadas a escoar pelos portos da costa com destino à Ásia levando ao menos 10 dias de desvantagem, o que implica em maior custo. Ou farão o trajeto por terra ou cabotagem até Ilhéus, com iguais desvantagens de prazo e custos.
O novo corredor ferroviário tem potencial transformador, mas também escancara a necessidade de um planejamento integrado para o Nordeste – e Brasil – como um todo. Sem articulação entre os sistemas ferroviários existentes e em construção, os benefícios ficarão restritos a regiões já parcialmente estruturadas em detrimento de outras áreas igualmente produtivas, porém desassistidas por infraestrutura logística moderna.
Para que o Corredor Bioceânico seja uma solução de desenvolvimento nacional e regional, é essencial que os projetos ferroviários federais — como a Fico, Fiol e Transnordestina — sejam pensados em rede, conectando os principais polos produtivos do Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
O acordo assinado nesta terça-feira (07) une a estatal Infra S. A. e a China Railway Economic and Planning Research Institute, braço estratégico da China State Railway Group, a maior empresa pública ferroviária do mundo. Ambas se debruçarão sobre os estudos da ferrovia.
Há, portanto, espaço para o engajamento de governadores do Nordeste e do setor privado na defesa de uma malha ferroviária mais integrada e inclusiva, que reduza desigualdades e maximize ganhos para toda a região.
Seja o primeiro a comentar